CartaCapital
Finanças/ O fim do Master
O banco é liquidado e Daniel Vorcaro, o dono, é preso
Na noite da segunda-feira 17, mesmo dia do anúncio da venda do Banco Master para a Fictor, em parceria com investidores árabes, Daniel Vorcaro foi preso pela Polícia Federal no Aeroporto de Guarulhos. Segundo a defesa, o banqueiro não pretendia fugir do País, mas seguia para os Emirados Árabes, onde concluiria a transação. A PF também prendeu Augusto Ferreira Lima, CEO do Master, e outros três diretores. Na manhã seguinte, o Banco Central anunciou a liquidação da casa bancária e o bloqueio de bens dos controladores. A operação policial, apelidada de Compliance Zero, mira a negociação de títulos de créditos falsos que teria movimentado 12 bilhões de reais. Em setembro, o BC havia barrado a compra do Master pelo Banco de Brasília, por falta de “viabilidade econômico-financeira”. Um dos alvos da ação da PF, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, foi exonerado do cargo e substituído por Celso Elói Cavalhero, funcionário de carreira da Caixa Econômica Federal. Um dos clientes afetados é o Rioprevidência, fundo responsável pelo pagamento das aposentadorias e pensões de 235 mil servidores inativos do estado. O governador Cláudio Castro ignorou as recomendações do Tribunal de Contas e transferiu 2,6 bilhões de reais da fundação para o banco entre 2024 e 2025, em busca de taxas “mais atrativas”. Em outubro, o TCE impediu novas transferências para o Master. “Chega de decisões sem transparência, chega de colocar em risco a aposentadoria daqueles que colaboraram com a construção deste estado”, declarou a conselheira Mariana Montebello Willeman.
Em bom português
O presidente Lula sancionou a lei que proíbe o uso da linguagem neutra por órgãos e entidades das três esferas administrativas do País (União, estados e municípios). Publicado no Diário Oficial, o projeto cria a Política Nacional de Linguagem Simples e prevê, entre outras medidas, a opção por frases curtas, palavras comuns, sem estrangeirismos e recursos didáticos, como gráficos, listas e tabelas, sempre que possível. O objetivo é permitir a qualquer cidadão encontrar as informações desejadas.
Chile/ A comunista e o ultraliberal
Jeannete Jara enfrenta José Antonio Kast no segundo turno
Jara encara Kast e o resto da direita chilena, que promete união – Imagem: Marvin Recinos/AFP e Rodrigo Arangua/AFP
Embora tenha obtido mais votos no primeiro turno, a comunista Jeannete Jara, candidata governista, enfrentará um páreo duro na segunda volta das eleições presidenciais chilenas, marcada para 14 de dezembro. A distância para o segundo colocado, o ultraliberal José Antonio Kast, foi menor do que indicavam as pesquisas: 26,85% a 23,92%. Segundo os levantamentos divulgados ao longo da semana, após a abertura das urnas no domingo 16, Kast aparece com 10 pontos porcentuais de vantagem no confronto direto, beneficiado pelo apoio do trio de extremistas de direita, em diferentes graus de radicalidade, que amealharam significativos porcentuais de voto. Franco Parisi obteve 19,7%, Johannes Kaiser, 13,94%, e Evelyn Matthei, 12,46%. O bom desempenho como ministra do Trabalho é um trunfo de Jara, mas a obrigação de representar o impopular governo do jovem Gabriel Boric é um obstáculo. Não há reeleição no Chile, o que em geral resulta em uma constante alternância de poder entre a esquerda e a direita. Atenção: o mandato único não é garantia de estabilidade, ao contrário, como sabe muito bem a população que saiu às ruas em 2019. O país não consegue livrar-se da armadilha da experiência neoliberal da ditadura de Augusto Pinochet. Kast, derrotado em outras disputas presidenciais, promete não só retomar esse modelo, como aprofundá-lo. Inspirado em Donald Trump e na extrema-direita europeia, o candidato de oposição elegeu os imigrantes, venezuelanos em particular, como inimigos públicos. Kast promete expulsar todos os ilegais e implementar o plano “Escudo da Fronteira”, com um muro de 5 metros, trincheiras de 3 metros de profundidade e cercas elétricas no norte do país.
A patriotada de Merz
O primeiro-ministro da Alemanha, Friderich Merz, tentou retratar-se, mas o açaí já havia sido derramado. Na terça-feira 17, instado pela BBC News Brasil, o porta-voz da chancelaria lamentou que Merz, “devido à falta de tempo, não tenha podido viajar até a orla da Amazônia e vivenciar em primeira mão a beleza natural deslumbrante da região”. No dia anterior, o premier tinha externado a mais pura patriotada provinciana em uma entrevista coletiva. “Senhoras e senhores, nós vivemos em um dos países mais bonitos do mundo. Perguntei a alguns jornalistas que estiveram comigo no Brasil na semana passada: ‘Quem de vocês gostaria de ficar aqui?’ Ninguém levantou a mão. Todos ficaram contentes por termos retornado à Alemanha, na noite de sexta para sábado, especialmente daquele lugar onde estávamos”, afirmou o chanceler, cujo número de gafes supera os feitos administrativos.
Publicado na edição n° 1389 de CartaCapital, em 26 de novembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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