CartaCapital
Ensino superior/ Expansão virtual
O Brasil tem mais alunos em cursos a distância do que nos presenciais


Pela primeira vez, o número de alunos em graduações a distância superou os inscritos no ensino presencial. De acordo com o Censo da Educação Superior do Inep, 50,7% dos universitários brasileiros estudavam remotamente em 2024 – um avanço de 5,6% em relação ao ano anterior, enquanto as matrículas em cursos tradicionais recuaram 0,5%.
Desde 2020, o Brasil registra mais ingressantes no modelo virtual do que nas salas físicas, mas só agora essa tendência se refletiu no total de matriculados. Em 2024, mais de dois terços dos novos alunos (67%) optaram pela educação a distância. Para o presidente do Inep, Manuel Palacios, a modalidade abriu as portas da universidade para quem precisa conciliar estudo e trabalho. “Ela proporcionou a ampliação da oferta e atendeu estudantes que, de outra forma, não teriam acesso ao ensino superior.”
Apesar da popularidade, a qualidade dos cursos EAD é duvidosa, sobretudo nas áreas que exigem formação prática. Para conter a expansão desordenada, o Ministério da Educação determinou, em 2025, o fim do modelo 100% online. Agora, graduações como Medicina, Direito e Psicologia deverão ser exclusivamente presenciais. Nas licenciaturas e em áreas como Farmácia e Fisioterapia, o limite será de 50%. Para os demais cursos, ao menos 20% da carga horária deverá ser feita presencialmente.
Mototáxis liberados
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu a eficácia de uma lei que autoriza os municípios paulistas a regulamentar ou até mesmo proibir a atividade de mototáxi. A decisão, tomada a partir de uma ação da Confederação Nacional de Serviços (CNS), sustenta que apenas a União tem competência para legislar sobre trânsito e transporte. A medida vale até que o plenário da Corte julgue o mérito. Desde o início do ano, a legalidade dos mototáxis tem sido alvo de disputa entre a prefeitura de São Paulo e empresas de transporte por aplicativo. Moraes também ressaltou que o STF já considerou inconstitucionais leis locais que contrariem normas federais, como restrições ao transporte individual de passageiros privado.
Orçamento/ Aperto nas contas
Governo Lula aumenta bloqueio de despesas para 12,1 bilhões de reais
Durigan pede apoio do Congresso para manter o déficit zerado – Imagem: Washington Costa/Ministério da Fazenda
O governo Lula elevou o bloqueio de despesas no Orçamento deste ano para 12,1 bilhões de reais, aumento de 1,4 bilhão em relação ao valor anunciado anteriormente, devido ao crescimento dos gastos obrigatórios, especialmente no Benefício de Prestação Continuada (BPC). Ao mesmo tempo, a estimativa de arrecadação com impostos federais caiu 12 bilhões de reais, o que aumenta a dependência de medidas em tramitação no Congresso para recompor a receita e garantir o cumprimento da meta fiscal, como a MP 1.303, que cria novas regras para a tributação de aplicações financeiras.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, destacou o compromisso do governo com uma política fiscal justa e eficiente. “Acho que a gente tem feito história em apresentar um ajuste não regressivo. Não seguindo a cartilha que muita gente quer, mas apresentando um resultado fiscal muito expressivo”, disse. Durigan ressaltou ainda a importância do apoio do Congresso para aprovar as medidas necessárias para o País manter o déficit zerado e produzir superávit nos próximos anos.
Filipinas/| No banco dos réus
O TPI formaliza acusação de crime contra humanidade ao ex-presidente Rodrigo Duterte
A guerra às drogas do líder filipino resultou em mais de 6 mil mortes – Imagem: Jeon Han/Presidência das Filipinas
O ex-presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, foi formalmente acusado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade. Segundo promotores, ele teria participação direta em centenas de assassinatos relacionados à violenta guerra às drogas que marcou sua gestão. A denúncia, apresentada em 4 de julho e tornada pública na segunda-feira 22, aponta Duterte como coautor de 19 execuções em Davao, onde foi prefeito por mais de duas décadas. Embora esteja sob custódia desde março, após ser detido em Manila e transferido para Haia, o político voltou a ser eleito para governar a cidade em 2023, demonstrando sua força eleitoral.
Além dos crimes atribuídos ao período em que comandava a prefeitura de Davao, o TPI também relaciona Duterte a 14 mortes de “alvos de grande valor” entre 2016 e 2017, já durante a sua Presidência. A terceira linha de investigação envolve 43 execuções ligadas a operações de “limpeza” contra usuários e traficantes de drogas entre 2016 e 2018. Estima-se que a ofensiva contra o narcotráfico tenha deixado mais de 6 mil mortos oficialmente, embora organizações de direitos humanos relatem cifras muito superiores. A prisão de Duterte, aos 80 anos, é vista como um marco na responsabilização de líderes por abusos cometidos em nome da segurança pública.
Big techs na mira
A União Europeia pretende investigar se Apple, Google e Microsoft estão falhando em combater fraudes financeiras em suas plataformas. De acordo com o Financial Times, os reguladores do bloco enviarão pedidos formais de informação às três big techs norte-americanas e à plataforma Booking, com base na Lei de Serviços Digitais (DSA), que prevê sanções contra empresas que não atuarem para impedir práticas ilícitas no ambiente digital. Ao diário britânico, a chefe de tecnologia da UE, Henna Virkkunen, afirmou que as autoridades estão preocupadas com o avanço de atividades criminosas online. “Temos de garantir que as plataformas realmente façam todos os esforços para detectar e prevenir esse tipo de conteúdo ilegal.”
Escândalo/ Sombras do passado
Pai de Elon Musk é acusado por familiares de abuso sexual infantil
Errol enfrentou três investigações policiais, revelou o New York Times – Imagem: Redes Sociais
Errol Musk, pai do bilionário Elon Musk, é acusado por familiares de abusos sexuais contra dois enteados e três filhos desde os anos 1990. Os casos teriam ocorrido na África do Sul, onde Errol vive e Elon nasceu, e também na Califórnia. Segundo o New York Times, o primeiro caso remonta a 1993, quando uma enteada de 4 anos contou a parentes que foi tocada de forma inapropriada. Já em 2023, um filho de 5 anos disse que o pai apalpou suas nádegas. Alvo de três investigações policiais, Errol nunca foi condenado pelos atos: dois inquéritos foram arquivados e um terceiro teve desfecho incerto.
Empresário com nove filhos e vários enteados, Errol nega as acusações, que classifica como “falsas e absurdas”, culpando parentes por influenciar as crianças. Ainda de acordo com o jornal, o rompimento com Elon teria como origem essas denúncias. O bilionário não mantém contato com o pai há vários anos. Em 2017, disse em entrevista à revista Rolling Stone que Errol havia feito “quase todas as coisas ruins que você pode imaginar”.
EUA/ Um Nobel para Trump
Pela paz, pela Medicina ou pela negação da ciência… Um desses ele realmente merece
O presidente não tem pudor de espalhar boatos sobre saúde – Imagem: Mandel Ngan/AFP
Em seu delirante discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, Donald Trump lamentou ainda não ter sido agraciado com o Prêmio Nobel por suas, digamos, contribuições para encerrar sete conflitos armados ao redor do mundo, segundo sua peculiar visão da realidade. Talvez tenha se sentido frustrado pelas galhofas de outros líderes mundiais ou pela pesquisa publicada pelo Washington Post, revelando que 76% dos norte-americanos – incluindo uma parcela expressiva de seu próprio eleitorado – não o consideram merecedor da honraria. Mas nada disso deve abalar o vaidoso presidente dos EUA. Quem sabe, no próximo ano, ele apenas mude o foco da candidatura: em vez do Nobel da Paz, por que não o de Medicina?
É bem possível que nesse campo se ache igualmente qualificado. Na segunda-feira 22, Trump anunciou com estardalhaço que a FDA, agência reguladora de medicamentos dos EUA, notificaria os médicos sobre um suposto risco “muito maior” de autismo associado ao uso de Tylenol (nome comercial do paracetamol) durante a gravidez. A Organização Mundial da Saúde e a Comissão Europeia se apressaram em desmentir a cascata, reiterando a total ausência de evidências científicas sobre a alegada ameaça. Mas Trump voltou ao tema dois dias depois, na quarta-feira 24, e desta vez compartilhou a pérola de que, em Cuba, não há casos de autismo porque o país não tem dinheiro para comprar Tylenol. “Quero dizer, há um boato, não sei se é verdade ou não”, explicou, com a autoridade científica de sempre.
O presidente norte-americano, que passou boa parte da pandemia promovendo teorias conspiratórias sobre vacinas, agora faz propaganda da leucovorina, uma forma de ácido fólico usada no tratamento de certos tipos de câncer, como possível terapia para sintomas de autismo. Detalhe: os estudos clínicos sobre esse uso são escassos, de alcance limitado e com resultados inconclusivos. Coincidentemente, pouco antes de Trump sair prescrevendo o tratamento off label, a FDA aprovou uma nova versão da leucovorina fabricada pela britânica GSK, que havia retirado o produto do mercado anos atrás por razões comerciais. Uma pena que o Nobel ainda não tenha uma categoria específica para laurear negacionistas. Depois da condenação de Jair Bolsonaro, Trump dificilmente teria concorrente à altura para levar o prêmio.
Na terra da liberdade
Donald Trump adora ameaçar com sanções autoridades estrangeiras que supostamente censuram cidadãos norte-americanos, mas quem anda se especializando em sufocar a liberdade de expressão é seu próprio governo. Na sexta-feira 19, o Departamento de Defesa dos EUA decidiu que jornalistas credenciados só poderão publicar informações relacionadas à pasta – confidenciais ou não – com autorização prévia. Do contrário, perdem o crachá de acesso ao Pentágono. Não bastasse, o presidente ainda tentou arrancar 15 bilhões de dólares do New York Times por publicar reportagens críticas durante a campanha eleitoral, que teriam manchado sua reputação pessoal. O processo foi rejeitado por um juiz federal, que lembrou ao republicano que tribunais não são palanques de comício. Censura prévia, intimidação, retaliação… Quem vai sancionar Trump?
Publicado na edição n° 1381 de CartaCapital, em 1 de outubro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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