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Em clima de desconfiança mútua, aproximação entre campanha de Lula e empresariado têm tom de cautela

No momento, as iniciativas de buscar contato são mais dos representantes do PIB, enquanto o ex-presidente procura adiar conversas

Foto: Divulgação Lula/Ricardo Stuckert
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Com cautela e desconfianças de ambos os lados, o empresariado e o núcleo central da pré-campanha de Lula tentam reconstruir uma relação que foi estreita na passagem do petista pelo poder e se rompeu no impeachment da presidente Dilma Rousseff. No momento, as iniciativas de buscar contato são mais dos representantes do PIB, enquanto o ex-presidente procura adiar conversas, apesar de encontros pontuais já terem acontecido.

Responsável por abrir as portas do mundo empresarial ao PT em 2002, a “carta ao povo brasileiro”, documento em que o partido se comprometia a honrar contratos e manter o superávit fiscal, não ganhará nova versão. O argumento de Lula é que suas duas gestões são suficientes para que o capital conheça seus compromissos. Uma nova carta chega a ser vista por petistas como humilhação, diz o sócio de grande escritório de advocacia com trânsito no partido.

Nesse mesmo raciocínio, Lula, segundo um aliado, está disposto a dialogar com o setor produtivo a partir do segundo semestre, mas também pretende fazer indagações. O ex-presidente quer saber o que os grandes empresários estão dispostos a fazer pelo país. Também tem dito que o mercado financeiro não pode atuar como árbitro na área econômica.

Do outro lado, parte do empresariado que se posicionou a favor do impeachment e da operação Lava-Jato teme que Lula tenha ímpetos de vingança. Mas, até o momento, o discurso do ex-presidente e de seu entorno vai na linha de que não haverá perseguições e que uma nova gestão do petista seria marcada pelo diálogo.

Um ponto que Lula, ainda nas palavras de seu aliado, pretende deixar claro é que “não tem sentido seguir uma cartilha radical liberal (da faculdade de Economia) de Chicago, pois nenhum dos grandes países capitalistas do mundo, como Estados Unidos, França, Alemanha, ou Inglaterra, aplica hoje esse modelo”.

O plano é, caso eleito, entregar o comando do Ministério da Fazenda a um político. No núcleo próximo do ex-presidente, ninguém se arrisca a listar nomes cotados para o posto.

Entre as bandeiras já empunhadas por Lula está a defesa de uma reforma tributária que altere o modelo regressivo de cobrança de impostos do país. O tema foi incorporado, inclusive, pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), indicado para vice na chapa. O caminho é passar a cobrar imposto de renda sobre lucros e dividendos pagos pelas empresas.

O ex-tucano é citado internamente como um bom nome para romper resistências em contatos com o empresariado, mas não há definição sobre o papel exato que ele desempenhará na campanha.

Lula também tem afirmado que mexerá na política de preços da Petrobras para que as oscilações no valor do barril no exterior tenham impacto menor nos combustíveis no Brasil. Os petistas negam que haverá tabelamento e dizem que o lucro da empresa será preservado, mas os dividendos pagos aos acionistas seriam menores que os de hoje.

Um ponto que ainda não foi tratado em profundidade publicamente é o papel do BNDES. No entorno de Lula, há críticas ao modelo de campeões nacionais implantado nas gestões petistas. O entendimento, porém, é que o banco de fomento será importante em um processo de tentativa de reindustrialização do país.

Os empresários manifestam preocupação com as ideias de revogação da reforma trabalhista, que surgiram após declarações de Lula. Durante a semana, o diretório nacional do PT chegou a alterar um trecho da carta da federação que será formada como o PCdoB e o PV para substituir a palavra “revisão” por “revogação”. Mas, na quinta-feira, Lula, ao discursar para sindicalistas, disse que não pretende voltar ao modelo antigo e defendeu que a lei trabalhista deve ser compatível com a realidade atual do mercado de trabalho.

O PT também se recusou, até o momento, a deixar claro quem será o porta-voz para assuntos econômicos. Líderes do partido podem aparecer ao lado de economistas, como fez a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, ao levar o ex-presidente do Banco Fator Gabriel Galípolo em um jantar promovido pelo grupo Esfera. O nome, inclusive, agrada aos empresários, cuja reivindicação é que Lula apresente um “novo rosto” para dialogar com o segmento e abrir pontes: “uma figura que não faça parte de seu passado”, como informou a colunista Bela Megale.

Num episódio ilustrativo do desejo de adiar as conversas, em fevereiro um executivo ligado à Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) sondou junto ao partido quem seria o seu nome forte para a economia, para uma conversa com seus associados. Ouviu que ligasse de novo em agosto.

Apesar disso, Lula teve conversas pontuais com representantes do PIB. No ano passado, foi procurado e recebeu Abílio Diniz, dono da Península. Também esteve com o banqueiro André Esteves, segundo Bela Megale.

Neste ano, segundo o colunista Lauro Jardim, jantou na casa do empresário José Seripieri Junior, do ramo de planos de saúde. Neste encontro, estavam presentes Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho do Bradesco, Claudio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim, e Eduardo Sirotsky, da empresa de investimentos EB Capital.

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