Do sonho ao pesadelo

A metáfora brasileira da metrópole que cresceu demais

Imagem: Arquivo/AFP

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Pergunto aos meus inquisitivos botões qual haveria de ser o gênero do texto a seguir: melancólico ou passadista? Conheci São Paulo com pouco mais de 1 milhão de habitantes, cavalheiros enchapelados e de meias inexoravelmente brancas, damas enfeitadas com garbosos arranjos próprios para assistir aos páreos do Jockey Club. Quando a cidade passou dos 2 milhões, deu para gabar-se da condição de metrópole que mais crescia no mundo. E um certo e incentivador avanço cultural a tornava de várias formas cidade contemporânea do mundo.

No Teatro Municipal ecoaram as vozes de celebrados cantores, como Mario del Monaco, Tito Gobbi, Nicola ­Rossi-Lemeni e até Maria Callas, então uma gorda senhora casada com um empresário de sobrenome Meneghini. Triunfava na batuta o maestro Tullio Serafin. Logo aconteceu a primeira Bienal e o vencedor foi Giorgio Morandi. Realizou-se o evento nas dependências do Trianon, ao concluir a arrancada vegetal habitada por vetustos bichos-preguiça dados a cair nas calçadas da Rua Peixoto Gomide, também disposta a funcionar como cenário de brigas de sopapos entre alunos do colégio Dante Alighieri.

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3 comentários

José Juvenal dos Santos 21 de julho de 2023 21h10
Li, com imensa alegria o irretocável texto do mestre Mino Carta, este que em minha juventude eu lia com a avidez de garoto da periferia sedento de saber. Obrigado por existir, mestre. José Juvenal Juca dos Santos
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 23 de julho de 2023 22h15
Também sou paulistano, nasci no final dos anos 60 na São Paulo da garoa, muito mais charmosa que nos dias de hoje, mas berço da cultura e civilização brasileira como bem narrada pelo mestre Mino Carta que com maestria e saudosismo ,reconheço em suas sábias palavras um texto repleto de ensinamentos riquíssimo de fatos e personagens de nos causar comoção e orgulho de pertencimento a essa metrópole fantástica, todavia hoje tão decadente . São Paulo visitada e revisitada pela nata da cultura, do Teatro Municipal, da música e da dramaturgia mundial. Já nos meus tempos vivenciamos a era da prefeita Luiza Erundina que sucedeu Jânio Quadros, com um secretariado de peso: Marilena Chauí, Paul Singer, Mário Sérgio Cortela, e, nada mais nada menos que o mestre Paulo Freire. Assistimos nestes áureos tempos exposições, musicais, conferências no MASP como Tempo e História coordenado pela secretária de Cultura, Marilena Chauí, convidados como palestrantes brilhantes como Alain Touraine, Sérgio Paulo Rouanet tão combatido pelo extremismo bolsonarista, Franklin Leopoldo e Silva, a própria Marilena Chauí, Ailton Krenak, sem falar do chamado Som do Meio Dia em que tive a sorte de assistir todas as sextas feiras no vão livre do MASP em meados do início dos anos 1990, Egberto Gismonti, Luiz Melodia, Wagner Tiso, Elza Soares, Itamar Assunção, Arrigo Barnabé e tantos outros. Infelizmente hoje temos uma São Paulo decadente, desumanizada, despida de charme e sem alma que Ademar de Barros, Maluf, Celso Pitta e toda a mediocridade e demais políticos bolsonaristas nos deixaram.
ANA ROCHA 29 de julho de 2023 19h13
Ninguém escreve como Mino Carta!

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

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