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Defesa/ Quinta-coluna

O ministro José Múcio espezinha o Palácio do Planalto

Defesa/ Quinta-coluna
Defesa/ Quinta-coluna
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O ministro da Defesa, José ­Múcio, não faz nenhuma questão de disfarçar sua função de despachante das Forças Armadas no governo, em vez de se comportar como representante do poder civil que, conforme estabelece a Constituição, tem preponderância sobre o poder militar. Talvez o resultado das eleições municipais, com o predomínio de partidos de direita turbinados pelo orçamento secreto, tenha assanhado ainda mais o ministro. Em evento na Confederação Nacional da Indústria, Múcio reclamou da “ideologia” da política externa brasileira, que, segundo ele, tem atrapalhado bons negócios. Entre os “bons negócios” frustrados estariam a compra de blindados de Israel, vetada pelo Palácio do Planalto, e a venda de munições para a Alemanha, também proibida por um motivo simples: o material poderia ser enviado à Ucrânia e causar uma crise diplomática com a Rússia, principal exportadora de fertilizantes para o Brasil. Ideológico é Múcio, que nas ­suas críticas ignora um fato divulgado por sua própria pasta. As exportações de produtos de defesa bateram recorde neste ano, o equivalente a 8,8 bilhões de reais. O garoto de recado dos generais foi mais longe. Meteu-se em um assunto que não lhe diz respeito ao reclamar da impossibilidade de explorar potássio em terras indígenas, pauta tipicamente bolsonarista. Não faltam motivos para a sua demissão.

Musk paga

A Caixa Econômica Federal confirmou a transferência para uma conta do Banco do Brasil da multa de 28,6 milhões de reais imposta pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, à rede social X, do bilionário Elon Musk. A liberação da plataforma digital depende agora de uma manifestação da Procuradoria-Geral da República. Não há prazo para o restabelecimento dos serviços no País. Moraes negou o pedido da empresa para eliminar a etapa de consulta à PGR e acelerar o processo.

Justiça/ Silveira no semiaberto

O STF autoriza a progressão de pena do ex-deputado

O ex-parlamentar falastrão mostrou (ou simulou) arrependimento – Imagem: Evaristo Sá/AFP

Condenado a 8 anos e 9 ­meses de prisão por estímulo a atos antidemocráticos, amea­ças a magistrados e ataques a instituições, o ­ex-deputado Daniel Silveira passará ao regime semiaberto por determinação do ­Supremo Tribunal Federal. A Corte entendeu que Silveira reúne os critérios necessários para a progressão: teve bom comportamento na cadeia e cumpriu parte da pena imposta. O bolsonarista, que despontou para a política após um ato de pura “coragem”, a quebra de uma placa de rua em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco, tentou reeleger-se em 2022, ano de sua condenação, mas não obteve o número suficiente de votos. A Procuradoria-Geral da República declarou-se favorável à mudança de regime. Silveira, apontaram laudos psicológicos, “reconhece a própria responsabilidade acerca do delito” e a “legitimidade da pena imputada, ­avaliando como inadequado seu comportamento à época dos fatos e afirmando o intento de não mais cometê-los”. O tempo dirá.

Argentina/ O inferno de Milei

Mais da metade da população está abaixo da linha da pobreza

O “libertário” entrega o que prometeu: aos pobres, mais miséria – Imagem: Juan Mabromata/AFP

Atual laboratório do liberalismo radical, a Argentina experimenta o resultado inevitável das políticas de Javier Milei. Segundo o Indec, o IBGE portenho, 52,9% da população, o equivalente a 24,9 milhões de habitantes, encontra-se abaixo da linha da pobreza, alta de 11,2% em relação ao primeiro semestre do ano passado. A situação das crianças é ainda pior: 66% são consideradas pobres e um terço vive na miséria extrema, sem ter o mínimo para comer. O porcentual de aposentados em situação calamitosa saltou de 13,2% para 29,7%. A indigência, prossegue o Indec, passou de 8,8% a 18,1%. Apesar de ter lançado a maioria dos argentinos no abismo, o governo continua com dificuldade para controlar a inflação, acima de 200%. A queda do PIB neste ano é estimada em 3,5%. Setores dinâmicos da economia registram perdas colossais. A construção civil recuou 22,2%, a indústria manufatureira, 17,4%, e o comércio, 15,7%. Demorou até, mas a aventura ultraliberal começa a cobrar um preço político. Os protestos tornaram-se constantes e cada vez maiores, contidos à base da violência policial. O apoio popular caiu abaixo de 50% e a imagem do presidente é ainda pior na maior parte das cidades da Grande Buenos Aires, que costuma influenciar o resto do país. Milei não deve perder de vista o destino de Fernando de la Rúa, obrigado a fugir de helicóptero da Casa Rosada em 2001, para não ser linchado por populares cansados do desastre neoliberal iniciado pelo antecessor Carlos Menem. Como Menem e De la Rúa, o “libertário” promete o paraíso, enquanto conduz os compatriotas pelas portas do Hades.

Novo cardeal

Dom Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, é um dos 21 clérigos indicados ao posto de cardeal pelo papa Francisco. A cerimônia de nomeação está marcada para 8 de dezembro. Com a escolha, Spengler terá o direito de votar na futura sucessão de Jorge Bergoglio. O brasileiro tornou-se arcebispo de Porto Alegre em 2013 e tem doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Antonianum, de Roma.

Publicado na edição n° 1332 de CartaCapital, em 16 de outubro de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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