CartaCapital
Crime/ Conexão Faria Lima
Além do PCC, outros cinco grupos são suspeitos de adulterar combustíveis e lavar dinheiro sujo em fintechs


A megaoperação contra o Primeiro Comando da Capital, realizada na semana passada por Receita Federal, Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo – com o apoio de outros MPs estaduais – já apresenta novos desdobramentos. O bilionário esquema de lavagem de dinheiro envolvendo postos de combustíveis e fintechs, revelaram os investigadores na quarta-feira 3, contou com a participação de outras cinco organizações criminosas.
Entre os que teriam lucrado com a adulteração de combustíveis figuram: o Grupo Mohamad, liderado por Mohamad Mourad e Roberto Leme da Silva, o Beto Louco; o Grupo Potenza, de Ricardo Romano; o Grupo Manguinhos, chefiado por Ricardo Magro; a Rede Boxter, comandada por Natalício Pereira Gonçalves; e o Grupo Irmãos Salomão, sob liderança de José Carlos Gonçalves, o Alemão. Seus integrantes são investigados por crimes contra a ordem econômica, fraude fiscal e estelionato.
As apurações revelaram a existência de ao menos 40 fundos de investimento controlados pelo PCC, com patrimônio estimado em 30 bilhões de reais. Segundo os investigadores, muitas dessas operações ocorriam por meio de empresas situadas na Avenida Faria Lima, principal centro financeiro de São Paulo. Estima-se que o esquema tenha movimentado 52 bilhões de reais em postos de combustíveis e outros 46 bilhões via fintechs.
A força-tarefa contra o crime organizado reuniu três operações: Carbono Oculto (do MP paulista), e Quasar e Tank (da PF). Além de São Paulo, mandados de prisão já foram cumpridos em Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina. De acordo com a Receita Federal, o esquema de fraudes e lavagem envolvia toda a cadeia de combustíveis, das plantações de cana-de-açúcar aos postos de venda, e resultou, somente no Estado de São Paulo, em um prejuízo fiscal de 7,6 bilhões de reais não declarados.
Joia no prego
Deputado estadual pelo MDB do Rio de Janeiro, Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, foi preso na quarta-feira 3, acusado de envolvimento com o tráfico de drogas e armas, além de participar de um esquema de lavagem de dinheiro para o Comando Vermelho. A prisão ocorreu em uma mansão na Barra da Tijuca, durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil, com apoio dos Ministérios Públicos Federal e Estadual. Ao todo, foram expedidos mandados contra 18 suspeitos, entre eles traficantes, policiais e assessores do parlamentar. Após a prisão, a direção do MDB anunciou que vai expulsar TH Joias de seus quadros.
Tocantins/ Corrupção pandêmica
Governador é afastado por suspeita de desvio de verbas no combate à Covid–19
Barbosa não poderá exercer suas funções por ao menos seis meses – Imagem: Arquivo/GOVTO
O governador de Tocantins, Wanderlei Barbosa, foi afastado do cargo na quarta-feira 3, acusado de desviar recursos públicos durante a pandemia de Covid–19. O rombo, segundo as investigações da Polícia Federal, ultrapassa 73 milhões de reais. Também foi afastada a secretária de Participações Sociais do estado, Karynne Sotero, esposa do chefe do Executivo. Ambos deverão permanecer fora de suas funções por, ao menos, seis meses.
Mandados de busca e apreensão foram cumpridos ainda nos gabinetes de dez dos 24 deputados estaduais, conforme informou a Assembleia Legislativa. A operação decorre de inquéritos sob sigilo no Superior Tribunal de Justiça. A decisão que determinou o afastamento de Barbosa foi assinada pelo ministro Mauro Campbell. “Os investigados teriam se aproveitado do estado de emergência em saúde pública e assistência social para fraudar contratos de fornecimento de cestas básicas”, apontou a PF.
Fim da novela
A negociação do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, que se arrasta há mais de duas décadas, pode, enfim, estar próxima de um desfecho. Na quarta-feira 3, em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentou o texto final do tratado de livre-comércio entre os dois blocos, que cria um mercado comum com 750 milhões de consumidores – um ativo valioso em meio à guerra tarifária deflagrada pelo governo de Donald Trump. O avanço das negociações foi possível após o recuo da França. O presidente Emmanuel Macron deu sinal verde ao tratado após a inclusão de uma nova cláusula de salvaguarda para produtos agrícolas. “Demos um passo na direção certa”, afirmou
América do Sul/ Guerra artificial
Venezuela acusa EUA de usar IA para forjar vídeo de ataque a navio
Pentágono afirma que as imagens divulgadas por Trump não são fake – Imagem: Redes Sociais/Donald Trump
As deepfakes já fazem parte do cotidiano digital: basta lembrar do papa Francisco desfilando com casaco da Balenciaga ou da imaginária homenagem militar dos EUA a Jair Bolsonaro. Quando, porém, a suspeita de manipulação por Inteligência Artificial recai sobre a maior potência militar do planeta, a controvérsia deixa de ser uma simples brincadeira de internet.
Na terça-feira 2, Donald Trump anunciou que as Forças Armadas dos EUA haviam realizado um “ataque cinético” contra um navio de “narcoterroristas do Tren de Aragua”, cartel venezuelano acusado de enviar grandes remessas de cocaína ao mercado norte-americano. Horas depois, o ministro da Comunicação da Venezuela, Freddy Ñáñez, acusou os EUA de ter forjado a ofensiva com uso de Inteligência Artificial – e creditou a descoberta ao Gemini, o chatbot do Google.
No dia seguinte, o chefe do Pentágono, Pete Hegseth, precisou vir a público para afiançar que o vídeo é real. Antes fosse obra de IA. Segundo o próprio governo dos EUA, ao menos 11 tripulantes da embarcação morreram no ataque em águas internacionais. Além disso, Trump acusa – sem provas – Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, de ser um “narcotraficante” e oferece 50 milhões de dólares por informações que levem à sua prisão. Navios de guerra americanos ainda rondam a costa do país.
Publicado na edição n° 1378 de CartaCapital, em 10 de setembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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