COP30/ Sem-teto

Faltando cem dias para o início da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontecerá em Belém, a organização do evento precisou agir para debelar a crise gerada pelo recrudescimento das dúvidas sobre a real capacidade de hospedagem para os milhares de delegados esperados em novembro na capital paraense. Após as queixas quanto à falta de leitos, aparentemente contornadas, o problema agora são os preços exorbitantes cobrados dos que desejam vir ao Brasil.

Presidente da COP30, o diplomataAndré Corrêa do Lago informou que um grupo de 27 países teria manifestado o desejo de mudar a cidade-sede para o Rio de Janeiro ou São Paulo. A situação piorou após o presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, anunciar que não virá mais ao evento porque o valor da hospedagem “não cabe no orçamento” previsto pelo rico país europeu. O risco de não conseguir arcar com as despesas de hospedagem é, porém, concreto para delegações de países mais pobres, que já manifestaram oficialmente essas dificuldades. Lago rechaçou a proposta: “Quero deixar claro que a COP30 será em Belém. Não existe plano B”.

Retorno precoce

A Justiça de São Paulo autorizou o retorno ao trabalho do sargento Marcus Augusto Costa Mendes e do cabo Robson Barreto, da Polícia Militar, envolvidos na morte do policial civil Rafael Moura da Silva, de 38 anos. O crime ocorreu em 12 de julho, na Favela do Fogaréu, Zona Sul da capital. A juíza Isabel Rodriguez determinou que ambos exerçam apenas funções administrativas, sem atuar nas ruas. Mendes disparou quatro vezes contra o investigador sem qualquer advertência prévia. Dois tiros foram efetuados logo após o encontro, e outros dois mesmo depois de a vítima gritar “é polícia, é polícia”. Silva foi atingido no tórax e morreu cinco dias depois. Barreto, que acompanhava o sargento, não atirou. Eles haviam sido afastados logo após o crime, mas a decisão foi revertida na sexta-feira 1º.

São Paulo/ Privatiza que melhora!

Sabesp é multada por vazamento de esgoto no Rio Pinheiros

A companhia atribui o problema a uma falha em estação elevatória – Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil

A Sabesp foi multada em 22,7 milhões de reais pela Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), após um vazamento de esgoto atingir o Rio Pinheiros, na capital paulista, na sexta-feira 1º. Cabe recurso à punição, anunciada na segunda-feira 4. A Cetesb também aplicou multa adicional de 1,1 milhão de reais pela ocorrência.

Segundo a companhia, o problema foi causado por falha em uma estação elevatória que bombeia esgoto das zonas Sul e Oeste até a estação de tratamento em Barueri. Com a vida útil vencida há cinco anos e sem manutenção adequada, os equipamentos operam de forma instável. As obras de modernização devem ser concluídas apenas em 2026.

Este não é um caso isolado. Em junho, a Sabesp despejou esgoto sem tratamento no Córrego Mandaqui, afluente do Rio Tietê, para esvaziar uma tubulação rompida na Marginal. Mais de 216 milhões de litros de dejetos foram lançados por dia naquele episódio.

A Sabesp foi privatizada em julho de 2024 sob a promessa de universalizar o acesso ao saneamento. O governador Tarcísio de Freitas vendeu 32% das ações da empresa ao Grupo Equatorial por 14,7 bilhões de reais. Hoje, o Estado detém apenas 18% de participação.

Congresso/ Inimigo do povo?

Para 78% dos brasileiros, os parlamentares atuam em defesa dos próprios interesses

A percepção negativa é reflexo das medidas impopulares da turma – Imagem: Kayo Magalhães/Agência Câmara

A avaliação negativa do Congresso Nacional voltou a crescer, segundo a mais recente rodada de pesquisas do Datafolha. O levantamento, feito nos dias 29 e 30 de julho, mostra que 35% dos 2.004 entrevistados consideram o desempenho de deputados e senadores ruim ou péssimo, enquanto apenas 18% avaliam como ótimo ou bom. Em março de 2024, as taxas de reprovação (23%) e aprovação (22%) estavam praticamente empatadas.

Um dado ainda mais expressivo: 78%
dos entrevistados acreditam que os parlamentares atuam em benefício próprio, não da coletividade. Não adianta culpar a campanha #CongressoInimigoDoPovo, puxada pelo campo progressista nas redes sociais.
A percepção negativa não surge do nada:
é reflexo direto de medidas impopulares
do Legislativo, como a ampliação do número de deputados (vetada por Lula), o “PL da
Devastação”, que desfigurou as regras de licenciamento ambiental, e o sequestro do orçamento público por meio das emendas parlamentares. Só em 2024, congressistas torraram mais de 44,8 bilhões de reais, segundo o Portal da Transparência.

Xô, zika!

O Instituto Butantan anunciou na terça-feira 5, em São Paulo, que lançará um medicamento para o combate à zika. A partir de uma tecnologia inovadora que simula as defesas do sistema imune para limitar a carga viral nos organismos de mulheres gestantes e impedir a transmissão da doença para os fetos, a nova terapia utiliza anticorpos monoclonais descobertos e licenciados ao Butantan por pesquisadores da Universidade Rockefeller, dos EUA. Os anticorpos, administrados ao paciente por via intravenosa, agem especificamente sobre o vírus causador da doença. O remédio ainda está em fase de testes e seu desenvolvimento em escala farmacêutica deverá ocorrer somente no ano que vem.

Energia/ Corrida ao ouro negro

BP anuncia sua maior descoberta de petróleo em 25 anos no pré-sal

Novos estudos serão realizados para avaliar o potencial da jazida – Imagem: BP Petróleo/Brasil

A britânica BP Energy anunciou, na segunda-feira 4, sua maior descoberta de petróleo em 25 anos no pré-sal: um reservatório de alta qualidade da Bacia de Santos, localizado a 5.855 metros de profundidade. O poço exploratório, chamado ­1-BP-13-SPS, está no bloco Bumerangue, a 404 quilômetros da costa do Rio de Janeiro.

A perfuração revelou uma extensa coluna de hidrocarbonetos em uma área superior a 300 quilômetros quadrados, equivalente ao território urbano de Fortaleza, informa a empresa. A análise do material extraído identificou altas concentrações de dióxido de carbono (CO2), o que exigirá novos estudos para avaliar melhor o potencial econômico e ambiental da jazida.

O bloco Bumerangue foi arrematado pela BP em leilão realizado em 2022, e a empresa detém 100% de participação na área. Pelo contrato de partilha com o governo brasileiro, 5,9% do petróleo excedente deverá ser repassado à União, por meio da ­PPSA (Pré-Sal Petróleo S.A.).

Pernambuco/ Cifra bilionária

Assembleia Legislativa instala CPI para investigar contratos de publicidade da gestão Lyra

Imagem: Redes Sociais/Casa Civil

Se a relação da governadora Raquel Lyra (PSD) com a Assembleia Legislativa de Pernambuco já não era das melhores, a situação piorou na segunda-feira 4, após o presidente da Casa e inimigo declarado da chefe do Executivo, deputado Álvaro Porto ­(PSDB), autorizar a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar possíveis irregularidades em um contrato de 1,2 bilhão de reais em publicidade firmado pela gestão Lyra.

Ao menos 18 dos 49 deputados assinaram o requerimento para a instalação da CPI – um a mais que o mínimo necessário. Os partidos têm até 14 de agosto para indicar os representantes que vão compor a comissão, com duração prevista de 120 dias, prorrogáveis por mais 90.

De acordo com as denúncias apresentadas pela autora do requerimento, deputada Dani Portela (PSOL), uma das empresas vencedoras da licitação para prestação de serviços de comunicação ao governo, a agência E3, funciona em um imóvel do empresário Waldemiro Ferreira Teixeira, primo da governadora. Em nota, o governo pernambucano classificou o processo licitatório como legal, conduzido a partir de critérios técnicos, e afirmou que “o modelo adotado segue a jurisprudência consolidada do Tribunal de Contas da União e práticas já utilizadas pelo governo federal e por outros estados brasileiros”.

O imbróglio extrapolou a esfera estadual e chegou ao Supremo Tribunal Federal, que vai analisar uma ação do Tribunal de Contas do Estado, pedindo a cassação de uma liminar concedida pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco, que autorizou a execução do contrato em questão. A reação veio após o TJ derrubar uma decisão do TCE pela suspensão do contrato.

O recurso ao STF foi assinado pelo conselheiro Rodrigo Novaes, ex-deputado ­estadual pelo PSB, partido comandado pelo prefeito do Recife, João Campos – favorito nas disputas para o governo estadual em 2026, quando deverá enfrentar Raquel Lyra. A base governista acusa a instalação da CPI de ser uma manobra político-eleitoral para enfraquecer a atual gestão e comprometer o projeto de reeleição da atual mandatária.

A volta do pato

Um dos artífices do processo de fritura política que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, o empresário Paulo Skaf retorna ao comando da Fiesp. Após ter comandado a entidade máxima da indústria paulista de 2005 a 2021, Skaf foi eleito, na segunda-feira 4, para um novo mandato à frente da entidade. Candidato único e eleito com 99% dos votos, Skaf não deve mudar seu estilo: na semana passada, ele preferiu discutir o tarifaço de Trump com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do que com o presidente Lula.

Imigração/ Carga humana

Ruanda aceita receber até 250 deportados pelos Estados Unidos

Trump está empenhado em esvaziar seus centros de detenção de imigrantes – Imagem: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Depois de despachar imigrantes venezuelanos para El Salvador, o governo dos EUA firmou um acordo com Ruanda para transferir ao país africano até 250 deportados de diversas nacionalidades. O acerto, fechado em junho, mas só agora revelado pela agência Reuters, é reflexo do endurecimento da política anti-imigração sob o governo de Donald Trump.

Pelos termos do acordo, Washington deve apresentar uma lista de estrangeiros que pretende enviar, mas Kigali terá o poder de decidir quem será aceito. Segundo o governo de Paul Kagame, os deportados acolhidos receberão apoio com moradia, capacitação profissional e atendimento médico, para facilitar sua integração à sociedade ruandesa.

Apenas pessoas sem antecedentes criminais – ou que tenham cumprido integralmente suas penas – poderão ser incluídas no programa. Os imigrantes aceitos não serão obrigados a permanecer em Ruanda e poderão deixar o país quando quiserem. Como contrapartida, os EUA devem repassar um subsídio financeiro à nação africana, cujo valor não foi divulgado.

Esperança afogada

Ao menos 76 imigrantes morreram e dezenas seguem desaparecidos após o naufrágio de uma embarcação no Golfo de Aden, próximo à costa da província de Abyan, no Iêmen. A tragédia foi confirmada, na segunda-feira 4, pela Organização Internacional para as Migrações. Segundo as autoridades iemenitas, 76 corpos foram recuperados e 32 indivíduos foram resgatados com vida. As vítimas são, em sua maioria, de nacionalidade etíope. Mesmo em meio à guerra civil que assola o Iêmen desde 2014, o país continua sendo um dos destinos da migração irregular a partir do Chifre da África. O fluxo é impulsionado por promessas de trabalho nos países do Golfo, mas frequentemente termina em tragédias como esta.

Equador/ Soberania sob escrutínio

Noboa propõe consulta popular sobre bases estrangeiras no país

O presidente também defende a redução do número de deputados – Imagem: Presidência do Equador

Na terça-feira 5, o presidente do Equador, Daniel Noboa, apresentou uma nova proposta de consulta popular para alterar a Constituição do país. Entre os principais pontos, figura a autorização para a instalação de bases militares estrangeiras em território equatoriano – medida que, segundo o governo, visa fortalecer o combate ao crime organizado. O referendo também deve incluir perguntas sobre a proposta de redução do número de deputados e a possibilidade de impeachment de juízes da Corte Constitucional.

Esta é a segunda tentativa de Noboa de reformar a Constituição por meio de referendo desde que assumiu a Presidência, em novembro de 2023. No primeiro semestre deste ano, o país registrou 4,6 mil homicídios, 22% a mais do que no mesmo período de 2023, que já havia sido o mais violento da história recente do Equador. O novo referendo, que inclui sete perguntas, depende da aprovação da Corte Constitucional para chegar, de fato, às urnas. O governo trabalha com a previsão de ­realizá-lo em dezembro.

Publicado na edição n° 1374 de CartaCapital, em 13 de agosto de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’