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Bandidos de Deus O Rio de Janeiro conseguiu extinguir-se como Estado. Numa terra sem lei como essa, não é surpresa ter algo pior do que um talibã com a Bíblia numa mão e o fuzil na outra.Alexandre Marconi Coelho Quando estavam quebrando terreiros de umbanda […]


Bandidos de Deus
O Rio de Janeiro conseguiu extinguir-se como Estado. Numa terra sem lei como essa, não é surpresa ter algo pior do que um talibã com a Bíblia numa mão e o fuzil na outra.
Alexandre Marconi Coelho
Quando estavam quebrando terreiros de umbanda e candomblé, ninguém se preocupava. Agora mexeram com o Vaticano. Será que o Poder Público vai finalmente intervir?
Leonardo Félix
Entregue ao obscurantismo
Sou conselheiro federal de Medicina citado na matéria da repórter Fabíola Mendonça. Poucas vezes vi algo tão surreal. E olha que estou acostumado. O primeiro problema é que não fui ouvido e o jornalismo profissional tem isso como um baluarte. Dito isso, eu jamais avalizei cloroquina ou ivermectina. O Estadão na época, inclusive, fez uma matéria dizendo que eu era o único secretário do Ministério da Saúde contra essas drogas. Nunca falei delas ou prescrevi um único comprimido. Mas o pior foi querer me difamar sobre Manaus. Para início de conversa, eu era secretário de Atenção Primária e por definição oxigênio jamais será utilizado na atenção primária, mas sim na especializada. Então não tem lógica querer me associar com falta de oxigênio. E pelo meu trabalho na atenção primária de Manaus ganhei o título de cidadão manauara em julho de 2021 e Manaus é há oito trimestres consecutivos a melhor capital na atenção primária muito pelo trabalho que eu fiz lá.
Raphael Câmara
RESPOSTA DA REDAÇÃO:
Raphael Câmara foi, sim, procurado por CartaCapital, por intermédio da assessoria de comunicação do CFM, em e-mail enviado em 16 de julho de 2024, às 16h26. Na mensagem, a reportagem solicitou que o conselheiro se manifestasse sobre a defesa da autonomia médica no uso de cloroquina durante a pandemia e sobre as normas do Conselho que dificultam o aborto legal no Brasil. A resposta chegou apenas em 17 de julho, às 16h12, após o fechamento da reportagem. Nela, Câmara faz um comentário de cunho político e não responde ao que foi perguntado. Não manifestou oposição ao uso de drogas ineficazes contra o Coronavírus, assim como não há registro de qualquer manifestação pública de objeção ao tal “tratamento precoce” enquanto ele atuou na equipe do então ministro Eduardo Pazuello. Além disso, a reportagem não responsabiliza Câmara pela crise do oxigênio em Manaus, limita-se a informar que ele ocupava o cargo de secretário de Atenção Primária à Saúde à época dos fatos. Reproduzimos, a seguir, a lacônica resposta enviada pelo conselheiro, para que os leitores tirem suas próprias conclusões: “A esquerda médica que é minoria tem um movimento articulado para tomar o CFM usando a polarização ocorrida na pandemia em temas como vacina e drogas reposicionadas. O PT sempre foi inimigo da medicina criando o Mais Médicos para trazer pessoas sem CRM para atender e abrindo centenas de faculdades de medicina e é importante não permitir que quem apoie o PT entre no CFM. Isso explica a politização das eleições. Sou uma pessoa de direita nos costumes e na defesa da medicina”.
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