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Bandeirantes/ Moro fez escola

O ex-secretário de Cultura Mário Frias transferiu o domicílio eleitoral com endereço de imóvel alheio

Bandeirantes/ Moro fez escola
Bandeirantes/ Moro fez escola
Carioca da gema, ele quer se eleger por São Paulo - Imagem: Roberto Castro/MTur
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Após sua candidatura à Presidência subir no telhado, Sergio Moro resignou-se em disputar uma vaga no Senado. Tentou transferir às pressas seu domicílio eleitoral para São Paulo, apresentando o endereço de um flat alugado no Itaim, abastado bairro da capital paulista. O Tribunal Regional Eleitoral barrou, porém, a manobra fraudulenta, e o ex-juiz viu-se impelido a adaptar os planos e disputar as eleições pelo Paraná. Agora, surgem evidências de que o ex-ministro de Bolsonaro fez escola no governo.

O ex-secretário especial de Cultura Mário Frias também transferiu seu domicílio eleitoral para a capital paulista, com o intuito de disputar uma vaga na Câmara. Em vez de apresentar a fatura de um flat, registrou como seu endereço um imóvel pertencente a uma empresa de Carla Ferraz de Oliveira, irmã do seu sucessor na secretaria, Hélio Ferraz. O caso foi revelado pela Folha de S.Paulo. Frias nasceu e viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro e transferiu o título para São Paulo em outubro de 2021. Pretende unir-se a Eduardo Bolsonaro como puxador de votos do PL no estado. Se a Justiça Eleitoral fechar os olhos para a falcatrua, claro.

Réu por violência política de gênero

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro aceitou denúncia contra o deputado estadual Rodrigo Amorim, do PTB, por violência política de gênero. Em 17 de maio, durante um discurso na Assembleia Legislativa, o parlamentar fez ataques transfóbicos contra a vereadora Benny Briolly, do PSOL, a primeira travesti eleita para a Câmara Municipal de Niterói. Entre outras ofensas, ele chamou Briolly de “aberração da natureza”. Eleito no embalo da onda bolsonarista, Amorim ficou conhecido após quebrar a placa da vereadora assassinada Marielle Franco durante a campanha de 2018. Agora, tornou-se o primeiro réu por violência política de gênero no estado. Se condenado, pode ficar inelegível.

Assédio sexual/ Predador de toga

Juiz é acusado de molestar mulheres em fórum trabalhista

O juiz entrou em férias e seus defensores alegam inocência – Imagem: Redes sociais

Dezenas de manifestantes passaram a tarde da terça-feira 23 nas escadarias do Fórum ­Trabalhista Ruy Barbosa, na capital paulista, em protesto contra o juiz substituto Marcos ­Scalercio, acusado de assédio, importunação sexual e estupro por diversas mulheres, entre elas servidoras do tribunal, ­advogadas e alunas de um curso preparatório para concursos públicos no qual ele leciona. Até aquele momento, o movimento Me Too Brasil havia recepcionado 87 denúncias contra ele.

Scalercio saiu de férias em 16 de agosto, um dia após a mídia revelar as primeiras denúncias contra ele, pelo período de 20 dias. De acordo com os relatos revelados pelo portal G1, duas servidoras alegam que o juiz teria tentado beijá-las à força dentro do gabinete no Fórum. Uma estudante relatou assédio semelhante num café no centro da capital paulista.

No fim de 2021, o TRT da 2ª Região arquivou os casos referentes a essas três mulheres por falta de provas. O Mee Too não parou, porém, de receber novas denúncias após o escândalo vir a público. Destas, 18 foram reportadas ao Conselho Nacional do Ministério Público e duas são acompanhadas pelo MP de São Paulo.

Brasil/ Eterna colônia

Jair Bolsonaro recebe o coração de Dom Pedro I com honras de chefe de Estado

Imagem: Evaristo Sá/AFP

Jair Bolsonaro recebeu, na terça-feira 23, o coração de Dom Pedro I com honrarias de chefe de Estado no Palácio do Planalto. A viagem do órgão faz parte das comemorações do bicentenário da Independência do Brasil – na verdade, resultante da disputa pela coroa portuguesa travada entre os filhos de Dom João VI após a morte do monarca, com a população da colônia completamente alheia ao entrevero familiar.

O coração de Dom Pedro I desfilou de Rolls-Royce pela Esplanada dos Ministérios e foi recebido pelo presidente e pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, na rampa presidencial, com 21 disparos de canhão. “Dois países unidos pela história, ligados pelo coração. Duzentos anos de Independência. Pela frente, uma eternidade em liberdade”, discursou Bolsonaro, durante a cerimônia na presença de ministros, parlamentares e estudantes de escolas públicas. “Deus, pátria, família. Viva Portugal e viva o Brasil”, emendou o presidente da eterna colônia. Como sugeriu um gaiato nas redes sociais, só faltou plantar uma muda de pau-brasil.

Torneira aberta no Facebook

A Secretaria Nacional do Consumidor, vinculada ao Ministério da Justiça, aplicou multa de 6,6 milhões de reais contra a Meta, controladora do Facebook, pelo vazamento de dados de usuários brasileiros em 2018. A empresa poderá ter a multa reduzida em 25% caso opte por não recorrer da decisão. Em 2018, informações pessoais coletadas pela rede social foram repassadas à Cambridge Analytica, consultoria de marketing político contratada para a campanha do ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Estima-se que, à época, os dados de 87 milhões de usuários, incluindo 443 mil brasileiros, tenham sido compartilhados indevidamente com a empresa. A Meta nega a existência de indícios que comprovem o vazamento.

EUA/ O arquivo de Trump

Mais de 300 documentos sigilosos estavam na casa do ex-presidente

O republicano pede que um auditor independente analise o material – Imagem: Casa Branca/Arquivo

O governo dos EUA recuperou mais de 300 documentos sigilosos que estavam em posse de Donald Trump desde que ele deixou o cargo, em 2021. De acordo com o New York ­Times, o grande volume levantou suspeitas no Departamento de Justiça e levou à abertura de uma investigação criminal contra o ex-presidente.

Em janeiro deste ano, o Arquivo Nacional recuperou um lote com 150 documentos, entre os quais papéis sobre a CIA, Agência de Segurança Nacional e FBI, que mencionavam assuntos de segurança dos EUA. Em junho, assistentes do ex-presidente entregaram mais documentos durante visita de agentes do Departamento de Justiça na residência de Trump em Mar-a-Lago, na Flórida. As buscas terminaram em 8 de agosto com o saldo de 26 caixas, incluindo 11 conjuntos de itens marcados como secretos. Um deles tinha a marcação de ultrassecreto, o mais alto nível de classificação.

Trump diz ser vítima de perseguição política e solicitou, em ação ajuizada na segunda-feira 22, que um auditor independente examine os documentos recuperados em sua mansão na Flórida.

Argentina/ Inelegível para sempre?

Pedido de 12 anos de prisão para Cristina Kirchner provoca onda de protestos

Os kirchneristas repelem a “perseguição judicial“ contra a vice presidente – Imagem: Juan Mabromata/AFP

Milhares de manifestantes participaram de uma vigília, na noite da segunda-feira 22, em frente ao prédio onde Cristina Kirchner mora em Buenos Aires. A militância kirchnerista foi convocada para ocupar o espaço dos que protestavam contra a ex-presidente e atual vice-presidente, acusada de liderar uma quadrilha que desviou 1 bilhão de dólares em obras públicas. Os atos ocorreram após o Ministério Público pedir pena de prisão de 12 anos, além da inelegibilidade perpétua para qualquer cargo público.

Logo depois do anúncio feito pelo promotor Diego Luciani, centenas de pessoas, com bandeiras argentinas, foram até a porta do edifício de Cristina Kirchner. Batiam panelas enquanto gritavam “ladra”. Foi quando os militantes kirchneristas chegaram para defender a ex-presidente. Houve confusão e a polícia interveio para separar os grupos. Aos poucos, os manifestantes contrários se retiraram, permanecendo apenas os apoiadores.

O presidente Alberto Fernández emitiu uma nota para “condenar” o que chamou de “perseguição judicial e midiática” contra a sua vice. Para o presidente, “não há provas” de formação de quadrilha e a perseguição, segundo ele, visa “tornar Cristina Kirchner inelegível para as eleições, a exemplo de outros líderes populares como o ex-presidente Lula”.

Uma indígena na Suprema Corte

O premier Justin Trudeau nomeou, na sexta-feira 19, a juíza indígena Michelle O’Bonsawin para integrar o Supremo Tribunal do Canadá. Pertencente à primeira nação Odanak, de Quebec, O’Bonsawin fazia parte do Tribunal Superior de Justiça de Ontário desde 2017. O anúncio ocorre em meio aos esforços de reconciliação do Estado canadense com seus povos originários. Do fim do século XIX até a década de 1990, o governo enviou cerca de 150 mil crianças indígenas a 139 internatos católicos. Os menores foram separados de suas famílias, com o objetivo de impor uma nova cultura e os idiomas oficiais do país. Muitos sofreram abusos físicos e sexuais, e estima-se que milhares morreram por desnutrição e abandono.

Terrorismo/ Dano colateral

Filha de guru de Putin morre em atentado com carro-bomba

“O front é aqui”, discursou o teórico Alexander Dugin no funeral da filha – Imagem: Kirill Kudryvtsev/AFP

A filha do ideólogo russo ­Alexander Dugin, o guru do presidente Vladimir Putin, morreu no sábado 20, quando o carro que dirigia explodiu nos arredores de Moscou. No ­momento da explosão, a jornalista e cientista política Daria ­Dugina circulava em uma rodovia perto da cidade de Bolshie Viaziomy, a cerca de 40 quilômetros da capital russa.

A detonação deveu-se a um artefato explosivo colocado no veículo, um Toyota Land ­Cruiser, informou o Comitê de Investigação da Rússia, responsável pelo esclarecimento do homicídio. Provavelmente, o alvo do ataque era o próprio ­Alexander Duguin. De acordo com familiares, Daria pegou o carro do pai de última hora. “Ela morreu pelo povo, pela Rússia, no front. O front é aqui”, afirmou o teórico no funeral da filha.

Escritor ultranacionalista de 60 anos, Alexander Dugin defende a unificação dos territórios de língua russa e apoiou a ofensiva militar lançada por Moscou contra a Ucrânia em fevereiro. Apelidado de “Rasputin de Putin”, ele é presença frequente no Kremlin e está sujeito a sanções da União Europeia desde 2014, após a anexação russa da Crimeia.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1223 DE CARTACAPITAL, EM 31 DE AGOSTO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”

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