Banco Central/ Sabotagem explícita

Pela quinta vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a Selic em 13,75% ao ano, consolidando a posição do Brasil como o país com a maior taxa real de juros do mundo. No mercado, nenhum analista apostava em uma redução imediata, mas o comunicado do Copom surpreendeu ao sinalizar que pode até elevar os juros, “caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. Não bastasse, a autoridade monetária ainda mencionou, entre os fatores de risco para justificar a decisão, a “incerteza sobre o arcabouço fiscal” do governo.

De nada adiantaram as súplicas ao presidente do BC para baixar os juros diante de um cenário de restrição do crédito no Brasil, a sabotar o crescimento. Nos últimos dias, diversos atores uniram-se a Lula nas críticas a Roberto Campos Neto. Nobel de Economia em 2001, Joseph ­Stiglitz considera os juros brasileiros “chocantes” e capazes de “matar qualquer economia”. Vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo ­Alckmin observa que “nada justifica 8% de juros acima da inflação”. Já o presidente da Fiesp, Josué Gomes, classificou a taxa Selic como “pornográfica”.

A fatura bilionária dos desmatadores

O advogado-geral da União, Jorge Messias, aprovou na segunda-feira 20 pareceres que permitem a cobrança de 29,1 bilhões de reais em multas ambientais aplicadas pelo Ibama, mas que tiveram a execução suspensa pelo governo de Jair Bolsonaro. Em 2022, o então presidente do Ibama, Eduardo Bim, entendeu que as sanções eram inválidas por interpretar que certos despachos nos processos não interrompem a contagem dos prazos para prescrição. À época, a Procuradoria Federal junto ao Ibama alertou que a decisão poderia resultar na extinção de 183 mil autos de infração, 84% do total.

A fatura bilionária dos desmatadores

O advogado-geral da União, Jorge Messias, aprovou na segunda-feira 20 pareceres que permitem a cobrança de 29,1 bilhões de reais em multas ambientais aplicadas pelo Ibama, mas que tiveram a execução suspensa pelo governo de Jair Bolsonaro.  Em 2022, o então presidente do Ibama, Eduardo Bim, entendeu que as sanções eram inválidas por interpretar que certos  despachos nos processos não interrompem a contagem dos prazos para prescrição. À época, a Procuradoria Federal junto ao Ibama alertou que a decisão poderia resultar na extinção de 183 mil autos de infração, 84% do total.

Indústria automotiva/ Freio de mão puxado

Montadoras paralisam produção e anunciam férias coletivas

As fábricas sofrem com retração no consumo e falta de componentes – Imagem: Ivan Bueno/APPA/GOVPR

Com o mercado em desaceleração, as fábricas da General Motors, Hyundai, Volkswagen e Stellantis, a reunir marcas como Fiat, Peugeot e Citröen, suspenderam a produção e anunciaram férias coletivas entre março e abril. As montadoras justificam a necessidade de uma pausa, devido à instabilidade no fornecimento de componentes, problema agravado pela pandemia de Covid-19 desde 2020. Mas a iniciativa também visa evitar a formação de grandes estoques, provocada pela retração no consumo.

Além da alta inflação, que tornou o carro novo inacessível para boa parte da população brasileira, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, conhecida pela sigla Anfavea, preocupa-se com a restrição do crédito no Brasil e as elevadas taxas de juro. Não bastasse, o último boletim da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef) revela que a inadimplência de pessoas físicas chegou, em 2022, ao maior índice dos últimos anos, batendo em 5,9%. O dado refere-se a atrasos de pagamentos de veículos financiados com mais de 90 dias.

Investigação/A redenção de Moro

PF aponta plano do PCC para assassinar o senador e o resgata da irrelevância

O ex-juiz volta aos holofotes – Imagem: Roque de Sá/Ag.Senado

Fora da Lava Jato e do Ministério da Justiça, Sergio Moro recebeu dos eleitores paranaenses uma vaga no Senado como prêmio de consolação, mas seguia isolado até mesmo em seu partido, o União Brasil, que não hesitou em ocupar três ministérios do governo Lula. O parlamentar andava sumido até no noticiário da mídia amiga, mas acaba de voltar aos holofotes após a Polícia Federal revelar um estranhíssimo plano do PCC para assassiná-lo.

A operação resultou na prisão de nove suspeitos. Outros dois seguiam foragidos até o fechamento desta edição. Segundo o atual ministro da Justiça, Flávio Dino, a apuração começou há 45 dias, a partir de comunicação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. As milícias bolsonaristas não perderam a oportunidade de associar o episódio a uma recente declaração de Lula, que confidenciou o desejo de “foder com o Moro”, quando estava preso em Curitiba – quem teria pensamento ­al­truísta após uma condenação sem provas?

“É vil, é leviana, é descabida qualquer vinculação desses eventos com a política brasileira. Fico espantado com o nível de mau-caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria”, reagiu Dino. Enquanto isso, Moro aproveita o momento para vender a tese de uma retaliação do crime organizado às transferências de lideranças do PCC para presídios federais quando era ministro, medida corriqueira em todas as gestões.

Cota para negros em cargos de confiança

O presidente Lula assinou, na terça-feira 21, um decreto que estabelece a reserva de 30% dos cargos comissionados e de confiança no governo federal para pessoas negras. A medida foi anunciada em cerimônia no Palácio do Planalto por ocasião dos 20 anos de políticas de igualdade racial no Brasil. A implementação será feita de forma escalonada até 31 de dezembro de 2025, e o critério será a autodeclaração do servidor como pessoa preta ou parda.

8 de janeiro/ Nas mãos de Moraes

Investigação atinge deputada que organizou caravana golpista

Coronel Fernanda foi delatada por mulher presa nos atos em Brasília – Imagem: Redes sociais

A Polícia Federal solicitou ao Supremo Tribunal Federal a abertura de um inquérito para investigar a deputada federal Coronel Fernanda, do PL de Mato Grosso, apontada como uma das organizadoras dos atos golpistas de 8 de janeiro. A participação dela foi revelada por uma aposentada presa em Brasília. Gizela Cristina ­Bohrer declarou ter viajado para a capital em uma caravana montada pela parlamentar e outros dois políticos sem mandato no estado. O depoimento foi revelado pelo site UOL na semana passada.

Se o inquérito for autorizado por Alexandre de Moraes, ela se junta ao grupo de parlamentares investigados pelo 8 de janeiro. Até aqui, o ministro autorizou apurações contra os deputados federais André Fernandes (PL-CE), Clarissa Tércio (PP-PE), Silvia Waiãpi (PL-AP) e Cabo Gilberto Silva (PL-PB). Há ainda investigações em curso contra três políticos da Paraíba:  o ex-candidato a governador Nilvan Ferreira (PL), o deputado estadual Walber Virgolino (PL) e a vereadora Eliza Virgínia (PP), de João Pessoa.

Reino Unido/ Polícia é polícia

A Scotland Yard é racista e misógina, diz estudo encomendado pelo governo

Elegância e eficiência, só nos livros de detetives – Imagem: iStockphoto

A literatura policial, em especial as obras de Arthur ­Conan Doyle sobre o detetive ­Sherlock Holmes, conferiram à Scotland Yard uma aura de eficiência e gentileza. Seus agentes educados e bem-vestidos perseguiam bandidos sem precisar tirar o chapéu-coco, a voz de prisão soava quase como um soneto de ­Shakespeare e as lutas corporais, último recurso, pareciam um embate entre Muhammad Ali e Joe Frazier. Ahh, a poesia pode ser tão enganadora. No duro e real mundo das ruas do Reino Unido, a Scotland Yard é uma polícia como outra qualquer. “Institucionalmente racista, misógina e homofóbica”, resume um relatório encomendado ­pelo governo britânico após a morte de Sarah Everard, londrina estuprada e assassinada pelo oficial Wayne Couzens, que a prendera sob falsas acusações. Não bastasse, o ­ex-policial David Carrick foi condenado neste ano por dezenas de estupros. “É uma polícia quebrada e podre”, afirmou Louise Casey, autora do relatório. “É hora de uma mudança radical.” O ­premier Rish Sunak corroborou: “Tem de haver uma mudança de cultura e liderança”.

O espólio de Bento XVI

Cinco primos alemães são os herdeiros do dinheiro economizado por Joseph Ratzinger, o papa Bento XVI, morto aos 95 anos em 31 de dezembro do ano passado. Os direitos autorais dos livros do ex-pontífice irão para a Fundação Ratzinger, enquanto os pertences pessoais serão distribuídos entre assistentes e amigos, conforme instruções do religioso. Especulou-se que os primos poderiam abrir mão das economias, por causa do risco de serem obrigados a arcar com a indenização de  um processo que corria na Alemanha, no qual Bento XVI era acusado de acobertar um caso de pedofilia quando atuava em Hamburgo. O processo acabou, porém, foi arquivado na segunda-feira 20, em decorrência da morte do papa emérito, o primeiro a renunciar ao posto em 600 anos.

Meio Ambiente/ Líquido e incerto

Novo relatório alerta para o crescente risco de falta d’água

Até países como o Brasil estão ameaçados, aponta a ONU – Imagem: iStockphoto

Às vésperas do início da Conferência da Água, um novo relatório da ONU, com dados de 2020, aponta o crescente risco de escassez do recurso. “Se não resolvermos, definitivamente haverá uma crise global”, alertou Richard Connor, coordenador do levantamento. O uso de água aumentou nas últimas quatro décadas a uma média de 1% ao ano, taxa que deve permanecer inalterada até 2050. “A escassez está se tornando endêmica”, descreve o texto, “juntamente com a aceleração e disseminação da poluição”. Segundo o relatório, 2 bilhões de seres humanos, ou 26% da população mundial, não possuem acesso a serviços de água potável. E 3,6 bilhões não têm saneamento básico. Nesse ritmo, dizem os especialistas, mesmo as regiões onde há abundância de recursos hídricos, entre elas partes da América do Sul, da África Central e da Ásia Oriental, serão obrigadas a conviver com temporadas de seca. No Oriente Médio e na África, a situação ficará ainda pior.