CartaCapital
Alagoas/ À revelia das vítimas
Braskem fecha acordo de 1,2 bilhão de reais por danos geológicos em Maceió
A Braskem e o governo de Alagoas anunciaram, na terça-feira 11, um acordo de 1,2 bilhão de reais para compensar danos provocados pela mineradora na extração de sal-gema em Maceió, que causou o afundamento de cinco bairros. O valor, que ainda depende de homologação judicial, será pago em dez anos. Desse total, a petroquímica informou que 139 milhões de reais já foram pagos ao Estado.
Em 2023, a empresa já havia fechado acordo de 1,7 bilhão de reais para ressarcir danos à prefeitura de Maceió. Excluída mais uma vez das negociações, a população atingida criticou o novo acerto com o governo estadual. O Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) observa que a própria Secretaria da Fazenda de Alagoas havia estimado o prejuízo em 30 bilhões de reais. “Como um dano de tal magnitude se reduz, de repente, a 1,2 bilhão? Que cálculos justificam tamanha renúncia?”, questiona o grupo.
Coordenadora estadual do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Neirevane Nunes acrescenta que o governo alagoano privilegiou seus próprios interesses em detrimento de quem perdeu suas casas. “É dinheiro injetado na máquina do estado em um momento estratégico, próximo às eleições”, diz. “Os atingidos pelo crime foram excluídos, não participaram dessas tratativas. Assim, o estado reproduz o erro histórico da prefeitura de Maceió em ignorar as vítimas da Braskem.”
A PF bate à porta
A Polícia Federal deflagrou, na quarta-feira 12, uma operação para apurar possível obstrução das investigações sobre desvio de verbas de emendas parlamentares destinadas ao combate à Covid–19 no Tocantins. Entre os alvos de mandados de busca e apreensão estava o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). Em setembro, ele havia sido afastado do cargo em meio a suspeitas de desvios de recursos públicos na compra de cestas básicas. A PF chegou a pedir sua prisão, mas a solicitação foi negada pelo Superior Tribunal de Justiça. A assessoria de Barbosa disse receber a batida policial “com estranheza”, enquanto aguarda o julgamento de um habeas corpus.
STF/ A rataria no banco dos réus
Reconduzido à PGR, Gonet pede condenação de militares “kids pretos”
O julgamento será retomado na próxima terça-feira, 18 – Imagem: Rosinei Coutinho/STF
Na terça-feira 11, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu ao Supremo Tribunal Federal a condenação dos réus do núcleo militar da trama golpista. Um policial federal e nove oficiais do Exército – em sua maioria, integrantes das Forças Especiais, os chamados “kids pretos” – foram denunciados por organização criminosa, golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
“Integrantes desse núcleo pressionaram agressivamente o Alto-Comando do Exército a ultimar o golpe, colocaram autoridades públicas na mira de medidas letais e se dispuseram a reunir forças militares terrestres em favor dos intentos criminosos”, afirmou Gonet. Segundo a denúncia, um dos planos da “rataria”, como eles próprios se definiam, era assassinar o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin, além do ministro Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Após as manifestações da PGR e das defesas, o julgamento foi suspenso. A sessão será retomada na próxima terça-feira 18, com a leitura do voto do relator, Alexandre de Moraes. Gonet, vale ressaltar, acaba de ser reconduzido ao cargo de procurador-geral pelo Senado.
Obituário/ O colapso da “supertele”
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decreta a falência da operadora Oi
A conexão dos clientes será mantida por pouco tempo – Imagem: Redes Sociais/Oi Telefonia
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decretou, na segunda-feira 10, a falência do Grupo Oi, mantendo provisoriamente suas atividades apenas para garantir a conexão da população e de órgãos públicos estratégicos. A decisão da 7ª Vara Empresarial do TJ ocorre após a empresa anunciar ao mercado, na sexta-feira 7, seu estado de insolvência.
O rombo impressiona: além dos 45,5 bilhões de reais em débitos com credores, a Oi acumulou mais 1,7 bilhão em dívidas durante a tentativa de recuperação judicial. A receita mensal, de 200 milhões, era ínfima diante do passivo, e o patrimônio estava quase zerado.
Um melancólico desfecho para a antiga “supertele nacional”, que chegou a disputar mercado com gigantes estrangeiras como TIM, Telefónica (Vivo) e América Móvil (Claro). A companhia é fruto da privatização do Sistema Telebras em 1998. Inicialmente como Telemar, a empresa atuava em mais de 60% do território nacional. A partir de 2002, adotou o nome Oi.
Seis anos depois, a operadora comprou a Brasil Telecom, que atuava nas regiões Sul e Centro-Oeste. Em 2013, fundiu-se à Portugal Telecom, com a promessa de receber um aporte bilionário da companhia europeia, mas ele nunca se concretizou: o dinheiro estava aplicado em títulos podres de uma subsidiária do banco português Espírito Santo, que quebrou meses depois, deixando a Oi sem controle sobre a dívida contraída em sua expansão.
Menor inflação em 27 anos
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do País, ficou em 0,09% em outubro, o menor resultado para o mês desde 1998, segundo dados divulgados pelo IBGE na terça-feira 11. O índice mostra uma desaceleração em relação a setembro, quando os preços haviam subido 0,48%, puxados pelo aumento na conta de luz. A variação também veio abaixo das projeções do mercado, que esperava alta entre 0,10% e 0,16%. Esse resultado reforça a expectativa do governo por uma redução dos juros. No último dia 5, o Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a Taxa Selic em 15% ao ano. Com isso, o Brasil segue com a segunda maior taxa de juros real do mundo, atrás apenas da Turquia.
TSE/ Para o fim do mandato
Julgamento da cassação de governador de Roraima é adiado outra vez
Denarium sorri a cada novo pedido de vista nos autos de seu processo – Imagem: Nonato Sousa/Assembléia Legislativa de Roraima
Pela terceira vez, um pedido de vista interrompeu, na terça-feira 11, o julgamento do governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), no Tribunal Superior Eleitoral. Desta vez, quem solicitou mais prazo para analisar os autos foi o ministro Kassio Nunes Marques. Antes dele, André Mendonça, também indicado por Jair Bolsonaro e fundador de um instituto que mantém contratos com o governo roraimense, havia paralisado o processo duas vezes, mas ao final votou pela cassação, acompanhando a relatora Isabel Gallotti.
Denarium é acusado de abuso de poder político e econômico nas eleições de 2022. Na campanha de reeleição, distribuiu cestas básicas, ampliou gastos com publicidade e reformou casas de eleitores, entre outras práticas vedadas pela legislação eleitoral, segundo denúncia do Ministério Público. Até o momento, há dois votos favoráveis à cassação e nenhum pela absolvição. Com o pedido de vista de Nunes Marques, o caso pode arrastar-se até 2026. Se outros ministros seguirem o mesmo caminho, é possível que o bolsonarista conclua seu mandato antes de um desfecho na Corte.
Cerco de Sarajevo/ Safári humano
Justiça italiana investiga “turismo de snipers” durante a Guerra da Bósnia
Alguns endinheirados encaravam essa cena como mera “diversão” – Imagem: Mike Persson/AFP
O Ministério Público de Milão abriu uma investigação sobre a participação de cidadãos italianos em “safáris humanos” durante o cerco de Sarajevo, um dos episódios mais sangrentos da Guerra da Bósnia (1992–1995), que deixou 11,5 mil mortos e 60 mil feridos. Segundo a denúncia, os suspeitos pagavam entre 80 mil e 100 mil euros a milícias sérvias e intermediários para serem posicionados em colinas ao redor da cidade, com o objetivo de atirar em civis, incluindo crianças, por “diversão”. As excursões partiam de Trieste, na Itália, a 600 quilômetros de Sarajevo.
O caso veio à tona após uma investigação conduzida pelo escritor italiano Ezio Gavazzeni, que relatou ao jornal La Repubblica ter ouvido sobre o “turismo de snipers” ainda nos anos 1990 e voltou a reunir depoimentos de testemunhas e possíveis provas do envolvimento de compatriotas após o lançamento do documentário esloveno Sarajevo Safari, em 2022. “Estamos falando de pessoas ricas, com reputação, empresários, que durante o cerco de Sarajevo pagavam para matar cidadãos desarmados. Eles saíram de Trieste para uma caçada humana e depois retornaram às suas vidas respeitáveis.”
De acordo com o promotor Alessandro Gobbis, os suspeitos podem responder pelo crime de homicídio doloso, com agravante de crueldade e motivo torpe. Muitas das vítimas eram civis que saíam de suas casas para buscar mantimentos essenciais. A polícia milanesa já iniciou a convocação de testemunhas, incluindo um ex-oficial da inteligência bósnia, para ajudar a esclarecer a dinâmica do esquema e identificar os responsáveis.
Na masmorra de Bukele
Um relatório da Human Rights Watch, divulgado na quarta-feira 12, denuncia a prática de tortura sistemática contra os 252 venezuelanos enviados pelos EUA a um megapresídio em El Salvador entre março e abril, incluindo espancamentos, abuso sexual e nudez forçada. A investigação de oito meses reuniu cerca de 200 depoimentos, entre eles relatos de 40 presos, além de informações passadas por advogados, familiares e outras fontes próximas. Dentre os deportados para o Cecot, centro de detenção usado pelo presidente Nayib Bukele como vitrine de sua política de linha-dura no combate a gangues e cartéis, 48,8% não tinham antecedentes criminais nos EUA e apenas 3,2% haviam sido condenados por delitos violentos. Três vítimas relataram violência sexual, incluindo um detento obrigado a fazer sexo oral em um guarda após ser espancado em uma cela de isolamento.
Publicado na edição n° 1388 de CartaCapital, em 19 de novembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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