CartaCapital

assine e leia

A Semana: Zanin dentro

Indicado por Lula à vaga deixada por Lewandowski, o advogado deve ser sabatinado na próxima semana

A Semana: Zanin dentro
A Semana: Zanin dentro
A relação de confiança criada durante a tormenta da Lava Jato pesou na decisão – Imagem: Ricardo Stuckert
Apoie Siga-nos no

Após uma reunião, na terça-feira 6, com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Davi Alcolumbre, do União ­Brasil, o líder do governo na Casa, Jaques Wagner, do PT, afirmou que a sabatina do ­advogado ­Cristiano Zanin na CCJ deverá ocorrer já na próxima semana. Ao longo da semana, Zanin, que defendeu Lula nos processos da Lava Jato e teve seu nome confirmado pelo presidente para ocupar a vaga aberta pela aposentadoria do ministro ­Ricardo ­Lewandowski no Supremo Tribunal Federal, intensificou o contato com os senadores.

Ao contrário do que aconteceu com o ministro André Mendonça, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e último magistrado a ingressar do STF, após ser cozinhado em banho-maria por Alcolumbre durante meses, a expectativa no caso de Zanin é de que a sabatina e a confirmação da indicação ocorram sem maiores dificuldades. O próprio Lula tratou do tema com os líderes da base no Senado. A orientação é evitar que a oposição, que contará com figuras como Sergio Moro, do Podemos, e Flávio Bolsonaro, do PL, não transforme a sabatina em um palanque para ataques ao governo.

Na mira da CVM

Os empresários Sergio Rial e João Guerra, ex-presidentes da Lojas Americanas, agora são réus no processo que investiga as inconsistências contábeis reveladas pela varejista, dentro de uma ação imposta pela Comissão de Valores Mobiliários. Os executivos são acusados de infringir determinações da Lei das S.A., da qual Rial teria descumprido o trecho que trata do sigilo sobre qualquer informação que ainda não tenha sido divulgada para conhecimento do mercado. Já Guerra, que segue na função de diretor, é acusado de ignorar o artigo que trata da obrigação de administradores de uma companhia de comunicar qualquer fato relevante ocorrido nos seus negócios. Em nota, a empresa informou colaborar com as autoridades.

Câmara/ Dallagnol fora

A Mesa Diretora da Casa confirma a cassação do deputado ficha suja

O ex-procurador confiava em uma grande mobilização para mantê-lo – Imagem: Bruno Spada/Ag. Câmara

A Mesa Diretora da Câmara declarou formalmente, na terça-feira 6, a perda do mandato do deputado federal Deltan Dallagnol, do Podemos. O ato oficializou a decisão unânime do Tribunal Superior Eleitoral, que em 6 de maio determinou a cassação do registro de candidatura do ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. O parecer contrário a Dallagnol, elaborado pelo corregedor da Câmara, deputado Domingos Neto, do PSD, foi acompanhado pelos demais integrantes da Mesa.

O ex-procurador, segundo o TSE, antecipou a saída do Ministério Público para escapar de sindicâncias e reclamações disciplinares que poderiam inviabilizar a sua candidatura à Câmara – uma forma de fraudar a Lei da Ficha Limpa, que Dallagnol tanto defendia. Nos dias que antecederam a cassação, ele se dividiu entre a apresentação de sua defesa à Corregedoria, a tentativa frustrada de organizar atos em apoio próprio e a corrida aos gabinetes em busca de um redentor apoio dos colegas deputados, que acabou não vindo. Após a decisão, o agora ex-deputado foi orientado a entregar suas credenciais de parlamentar e a esvaziar seu gabinete.

Amazônia/ Recado aos ruralistas

Após os reveses na Câmara, Lula lança o plano para zerar o desmatamento

O trabalho interministerial será coordenado por Marina Silva – Imagem: Joedson Alves/ABR

Uma semana após a Câmara dos Deputados esvaziar as atribuições dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, o presidente Lula lançou, na segunda-feira 5, a nova edição do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, o PPCDAm. O documento inclui 12 objetivos estratégicos, cujos resultados devem ser alcançados por meio de 194 linhas de ação. Um deles prevê o cancelamento de todos os registros irregulares de Cadastro Ambiental Rural (CAR) sobrepostos a terras públicas e unidades de conservação até 2027.

O plano está fincado numa política ambiental transversal, a envolver também a Casa Civil e os ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário, da Indústria, da Defesa, e da Justiça e Segurança Pública. A coordenação dos trabalhos ficará a cargo da ministra Marina Silva, que o governo pretende fortalecer após os reveses sofridos no Legislativo.

O novo texto divide o PPCDAm em quatro eixos: atividades produtivas sustentáveis, monitoramento e controle ambiental, ordenamento territorial e fundiário e instrumentos normativos e econômicos. Em sua quinta edição, o PPCDAm foi criado em 2004, ainda no primeiro governo Lula, e reeditado até 2018. Ao assumir, em 2019, Jair Bolsonaro o interrompe, como parte da política antiambiental impressa por seu governo. A grande meta do plano é zerar o desmatamento na Amazônia até 2030, compromisso assumido pelo Brasil na Conferência do Clima das Nações Unidas.

Goodbye, girl from Ipanema

Ícone da Bossa Nova que consagrou a canção Garota de Ipanema em inglês, a cantora e compositora Astrud Gilberto morreu na segunda-feira 5, aos 83 anos, na Filadélfia, onde morava. Astrud foi casada com João Gilberto, com quem gravou, em 1963, o premiado disco Getz/Gilberto, que conquistou o Grammy na categoria Álbum do Ano. Em 1965, Girl from Ipanema ganhou o Grammy de Gravação do Ano, canção que fez da Bossa Nova um movimento musical reconhecido internacionalmente. Astrud morreu em casa, depois de um mal-estar digestivo seguido de complicação cardíaca. Ela deixa dois filhos e duas netas. O corpo da artista foi cremado nos EUA.

Champions League/ Bola de Ouro

Se a Fifa fizer justiça, o prêmio ficará com um destes notáveis atletas

De Bruyne e Barella marcaram a atuação das equipes finalistas – Imagem: Redes sociais

Sábado, dia 10 de junho, será disputada a final da ­Champions League entre os classificados Manchester ­City e Internazionale de Milão. Aos torcedores, vencedores ou perdedores, e a quem queira visitar Istambul, palco da partida, vale uma sugestão de Umberto Eco: “Trate de perder-se em uma das cidades mais bonitas do mundo, a descubra por conta própria”. É certa uma assistência maciça, sem contar a audiência de rádios e televisões, celulares, e por aí afora. É certo também que surgirá aí o Bola de Ouro da temporada. Espera-se que a Fifa abandone o vezo de premiar os goleadores, em lugar daqueles que realmente mandaram em campo.

Dois meio-campistas marcaram de forma decisiva as atuações do time inglês, treinado por Pep Guardiola, e do italiano, comandado por Simone Inzaghi. Se ambos mantiverem a primazia, os amantes do melhor futebol gostariam muito se a bola reluzente coubesse ao belga ­Kevin De Bruyne, do time inglês, ou ao italiano Nicolò­ ­Barella, do quadro milanês.

Geopolítica/ Guerra nem tão fria

A escalada da hostilidade entre Washington e Pequim

Imagem: André T. Richard/US Navy/AFP

Foi um aceno ou uma advertência? Em seu primeiro discurso desde a nomeação para o cargo, durante uma cúpula de segurança em Cingapura, o ministro da Defesa da China, Li Shangfu, afirmou que uma guerra com os Estados Unidos seria um “desastre insuportável” para o planeta. Segundo ­Shangfu, certos países estimulam a corrida armamentista na Ásia, mas o mundo é grande o suficiente para a coexistência entre chineses e norte-americanos. O ministro, que assumiu o posto no início deste ano, discursou na sequência de um incidente diplomático, mais um, entre as duas nações. Washington acusa um navio de guerra chinês de realizar manobras “inseguras” perto de embarcações militares dos EUA e do Canadá no Estreito de Taiwan. Pequim, por sua vez, criticou a “provocação deliberada” do outro lado. Os norte-americanos, afirmou Shangfu, têm uma “mentalidade de Guerra Fria” e o comportamento “aumentava muito os riscos de segurança”. Em 2018, os Estados Unidos impuseram sanções ao general e ministro chinês por causa da compra de equipamentos militares da Rússia, o que dificulta o diálogo entre as partes.

Pence na disputa

Ex-vice-presidente, o republicano Mike Pence anunciou na segunda-feira 5 a intenção de disputar as primárias do partido contra seu antigo colega de chapa, Donald Trump, favorito a representar a legenda nas eleições presidenciais de 2024. Para a base radicalizada de apoiadores de Trump, Pence tornou-se um traidor após ter se recusado, em 2020, a endossar as teorias conspiratórias a respeito dos resultados das urnas e a aderir às manobras fraudulentas que pretendiam promover a recontagem de votos em alguns estados. Pence resistiu à pressão e homologou a vitória do democrata Joe Biden. Os debates internos do partido prometem.

Argentina/ Um processo a menos

Cristina Kirchner é absolvida da acusação de lavagem de dinheiro

A senadora e vice-presidente não irá se candidatar em outubro – Imagem: Redes Sociais

Após uma série de notícias negativas, entre elas a condenação a seis anos de prisão por corrupção, os péssimos indicadores econômicos e a desistência de seu parceiro de chapa, Alberto Fernández, de concorrer à reeleição, a senadora e vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, experimentou um raro momento de alívio. Na segunda-feira 5, a Justiça a absolveu da acusação de lavagem de dinheiro, em um esquema conhecido como a “Rota K”. Na mesma investigação, o empresário Lázaro Báez, pivô do caso, foi condenado a 10 anos de detenção. O juiz acatou a recomendação do Ministério Público, que, passada uma década, não conseguiu demonstrar o crime. “Mesmo com a clareza do vínculo entre Báez e Cristina, após quase cinco anos desde a imputação dela nesta ação, não consegui reunir provas que me levem a sair do estado de suspeição e avançar para outra etapa processual”, admitiu o promotor Guillermo Marijuan. Em maio, Kirchner anunciou a desistência de concorrer à Presidência da República em outubro. O peronismo está mergulhado em uma crise.

Publicado na edição n° 1263 de CartaCapital, em 14 de junho de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo