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A Semana: Pescoço de galinha

Bolsonaro pagou 260 reais pelo quilo do alimento oferecido aos indígenas

A Semana: Pescoço de galinha
A Semana: Pescoço de galinha
Bolsonaro pagou 260 reais pelo quilo do alimento oferecido aos indígenas – Imagem: Alejandro Zambrana/Sesai/MS
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Ao contrário das carnes nobres compradas para o Exército brasileiro ao longo de quatro anos, o governo Bolsonaro oferecia pescoço de galinha à população indígena da Amazônia. Mas esse não é o maior pecado. Segundo uma reportagem do jornal O ­Estado de S. Paulo, a gestão passada chegou a pagar 260 reais pelo quilo de um alimento que não custa nem 10 reais na grande maioria dos supermercados do Brasil.

Em 2022, foram comprados 20 quilos do produto, totalizando 5,2 mil reais. Pior, nem sequer há registro de que a “iguaria” tenha sido entregue ao destino. De acordo com o jornal, a compra foi feita sem licitação pela Funai a uma empresa em Humaitá, no ­Amazonas, cujo administrador é Herivaneo ­Vieira de Oliveira Júnior, filho do ex-prefeito do município, Herivaneo Vieira de Oliveira, do PL, mesmo partido de Bolsonaro.

Os 20 quilos de pescoço deveriam ter sido destinados aos indígenas da etnia Mura e a funcionários da Funai em missão em Manicoré, na Floresta Amazônica. O administrador do estabelecimento comercial alega, porém, que não vende esse tipo de produto. “É muito ruim.”

Há ainda o registro da compra de mais de 1 tonelada de de charque, maminha, coxão duro, alcatra e latas de presunto não distribuídas entre as famílias indígenas. O caso é investigado pela Funai.

Mitômano condenado

O ex-presidente Jair Bolsonaro terá de pagar 30 mil reais de indenização ao senador Omar Aziz, do PSD do Amazonas, que presidiu a CPI da Covid-19, em 2021. A punição é resultado de uma ação judicial que o senador moveu contra Bolsonaro, depois que ele o acusou de ser “pedófilo”. Em decisão anunciada na terça-feira 16, o juiz Cássio André Borges dos Santos, da 1ª Vara do Juizado Especial Cível do Amazonas, deixou claro que não há qualquer indício de que o parlamentar tenha práticas pedófilas, constata que ouve má-fé por parte do ex-capitão e que a liberdade de expressão “não pode ser utilizada com o fim de atacar terceiros de maneira leviana ou desonrosa”.

STF/ Sigilo quebrado

Moraes autoriza a PF a analisar celulares apreendidos com golpistas

Os aplicativos de mensagens dos “patriotas” servirão de prova – Imagem: Joedson Alves/ABR

Em mais uma etapa do inquérito que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro, o ministro do STF Alexandre de Moraes autorizou a Policia Federal a acessar, retirar e analisar os dados nos celulares apreendidos junto às pessoas presas em flagrante no episódio que destruiu as sedes dos Três Poderes, em Brasília. O magistrado atendeu a um pedido dos próprios investigadores, que alegaram que o material vai ajudar neste e em outros inquéritos sobre a tentativa de golpe, como, por exemplo, conseguir pistas sobre os financiadores e incitadores da depredação no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional e na sede do STF.

Ao justificar a decisão, divulgada na segunda-feira 15, ­Moraes afirma que “os elementos de prova colhidos até o momento revelam fortes indícios de prática de delitos por pessoas presas em flagrante nos atos, sendo indispensável a obtenção dos dados telemáticos para a completa elucidação dos fatos, sobretudo para evitar o desaparecimento de provas e possibilitar a continuidade da investigação em curso.

São Paulo/ Bendita inovação

Com câmeras nas fardas, mortes de adolescentes por PMs caem 80%

As mortes de policiais em serviço também despencaram no período – Imagem: PM/GOVSP

Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Unicef, confirma o que os especialistas em segurança pública sustentam há tempos: as câmeras instaladas nos uniformes de PMs reduzem a letalidade policial. Foi o que comprovou o estudo divulgado na terça-feira 16 sobre a mortalidade de adolescentes em intervenções policiais, em São Paulo. Em 2022, houve queda de 80,2% no número de assassinatos de jovens em confrontos com os agentes da corporação, na comparação com os anos anteriores ao uso do equipamento, que só foi implantado em 2020.

Segundo o levantamento, em 2017 foram contabilizadas 171 mortes de jovens entre 15 e 19 anos em decorrência da atuação policial. Em 2021, já com as câmeras nos uniformes, foram 42 mortes, queda de 75%. Em 2022, o registro foi de 34 mortes, o menor da série histórica compilada pelo Ministério Público de São Paulo no relatório Letalidade Policial em Foco.

O estudo revela ainda redução das mortes de policiais em serviço. Entre 2019 e 2022, houve queda de 76,2% na letalidade daqueles que faziam o uso das câmeras nas fardas, enquanto nos batalhões que não aderiam ao equipamento a redução foi de apenas 33,3%.

Sarkozy de tornozeleira

Na quarta-feira 17, o Tribunal de Apelação de Paris condenou Nicolas Sarkozy, ex-presidente da França, a três anos de prisão por corrupção e tráfico de influência. Por meio de escutas telefônicas, investigadores descobriram que Sarkozy e seu advogado negociaram a ajuda do então procurador do Tribunal de Cassação Gilbert Azibert em um processo. Em contrapartida, ofereceriam um alto cargo em Mônaco. Sarkozy cumprirá a pena em prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica, e tornou-se o primeiro ex-presidente da Quinta República condenado a pena privativa de liberdade.

Equador/ Morte cruzada

Para escapar do impeachment, Lasso dissolve o Parlamento

O presidente impopular vai governar por decreto – Imagem: Bolívar Parra/Presidência do Equador

O presidente do Equador, Guillermo Lasso, não resistiu à tentação. Após jurar de pés juntos que enfrentaria até o fim o processo de ­impeachment, o mandatário ameaçado recorreu, na quarta-feira 17, a um dispositivo constitucional nunca antes utilizado, apelidado de “morte cruzada”, para dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições presidenciais e legislativas. Pelas regras, os equatorianos voltarão às urnas em seis meses e, até lá, Lasso governará o país por decreto. O eleito ocupará o cargo por um ano e meio, até o fim do atual mandato, em 2025. Dominado pela oposição, o Parlamento havia ­aprovado o trâmite do ­impeachment com base na acusação de que o presidente fez vistas grossas à corrupção na Flopec, estatal de transporte de petróleo. A decisão tende a aumentar a instabilidade política e social em uma nação mergulhada numa longa crise. Embora vá governar de forma autocrática até o fim do ano, Lasso tentou revestir sua decisão de caráter popular. “É uma decisão democrática”, afirmou, “não apenas por ser constitucional, mas por devolver o poder ao povo para decidir seu futuro.”

Diplomacia/Lula no G-7

O professor Reginaldo Nasser analisa a participação brasileira na cúpula no Japão

O presidente esteve em 2009. E volta agora – Imagem: Marcelo Camargo/ABR

catorze anos depois, o presidente Lula volta a participar de uma reunião do G-7, o grupo das sete maiores economias ocidentais. O convite partiu de Fumio Kishida, primeiro-ministro do Japão, país-sede do evento. Na entrevista a seguir, Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC de São Paulo e colunista do site de CartaCapital, analisa o significado da participação brasileira na reunião.

CartaCapital: Qual a importância da presença do presidente Lula no G-7?
Reginaldo Nasser:
O contexto revela que o presidente Lula, embora na condição de convidado, é uma liderança internacionalmente reconhecida por ter os pés em dois blocos. De um lado, há a inserção nos BRICS, as relações com Rússia e China. Do outro, os contatos na Europa, onde é muito bem-recebido. Por ser essa voz, Lula certamente tentará exercer esse papel de mediação, com ônus e bônus. Ele tem experiência e vai saber se equilibrar nesse jogo. Embora o G-7 continue importante, há outras economias em alta e alinhadas de outra maneira. Em termos relativos, o poder do G-7 caiu significativamente nos últimos anos.

CC: Qual tema deve prevalecer?
RN:
Quem vai sediar o encontro é o Japão, na cidade de Hiroshima, antes um símbolo da guerra, da destruição, hoje um símbolo da paz. Destruição, aliás, levada a cabo pelos Estados Unidos. A guerra da Ucrânia certamente será o principal assunto, as alianças em torno dos ucranianos. A competição, a disputa de influência entre os EUA e a China, também estará na pauta. A particularidade de o encontro ser no Japão aumenta ainda mais o peso do tema China, a questão de Taiwan, a alegada expansão militar chinesa na Ásia, entre outros pontos.

Mudança, pero…

Os generais que governam a Tailândia desde o golpe de 2014 foram os grandes derrotados nas eleições do domingo 14. O Partido do Movimento Adiante, de oposição, conquistou 151 das 500 cadeiras da Câmara dos Deputados. Em segundo lugar ficaram os populistas do Pheu Thai (141 assentos). A legenda do primeiro-ministro Prayut Chan-O-Cha ficará com 36 posições no Parlamento. Será o fim do governo militar? Não necessariamente. Os 250 senadores biônicos, escolhidos a dedo pelos fardados, gozam de poder para manter as coisas como estão.

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