CartaCapital
A Semana: Passo de tartaruga
À espera da reforma ministerial, o Centrão trava a pauta


A chantagem continua. Após o recesso parlamentar, o presidente da Câmara, Arthur Lira, e seus associados do Centrão instituíram no Congresso uma espécie de “operação-padrão”, enquanto não avança a reforma ministerial que vai acomodar o PP e o Republicanos no primeiro escalão do governo. O Palácio do Planalto teme agora que o tão esperado relançamento do Programa de Aceleração do Crescimento, previsto para a sexta-feira 11, tenha de ser adiado ou acabe esvaziado, caso os deputados não aprovem os derradeiros ajustes no arcabouço fiscal até lá. Sem as novas regras de controle das contas públicas, o presidente Lula fica impedido de reservar os 60 bilhões de reais por ano para reativar o plano de investimentos públicos em obras de infraestrutura. O relançamento do PAC é parte da “agenda positiva” do segundo semestre. O governo também pretende anunciar um programa de transição econômica sustentável, base da reindustrialização do País, e a segunda etapa da reforma tributária, destinada a taxar os mais ricos. Lira nega a relação entre a lentidão da pauta e a cobiça ministerial de sua base parlamentar. Durante sua entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o deputado enviou, no entanto, vários recados ao Palácio do Planalto. Criticou o privilégio dado ao Senado na indicação de ministros, reclamou da articulação política do governo, voltou a defender o semipresidencialismo e afirmou que sem o Centrão o Brasil teria “virado uma Argentina” nas mãos do PT. Melhor Lula colocar a barba de molho.
Queima de arquivo?
Jair Barbosa Tavares, o Zico Bacana, ex-vereador do Rio de Janeiro, foi assassinado na segunda-feira 7. Bacana foi citado na CPI das Milícias, depôs nas investigações sobre a morte de Marielle Franco e havia escapado de um atentado em 2020. O ex-policial estava em uma padaria no bairro de Guadalupe quando ele e o irmão, também morto, foram atingidos por disparos feitos por ocupantes de um carro. Em 2008, o antigo PM havia sido investigado por suposto envolvimento com um grupo criminoso instalado em favelas na Zona Norte da capital fluminense.
Ucrânia/ Ouvidos moucos
Putin e Zelensky rejeitam as propostas de mediação
Estes “patriotas” sacrificam o futuro de seus povos – Imagem: Presidência da Ucrânia e Alexander Kazakov/Pool/AFP
A depender do russo Vladimir Putin e do ucraniano Volodymyr Zelensky, o conflito na Ucrânia se estenderá por tempo indeterminado. Após a reunião na Arábia Saudita no domingo 6, que recebeu delegações de 40 países, mas não conseguiu avançar em uma proposta de paz, Putin e Zelensky resolveram deixar clara a falta de disposição para negociar, embora nenhuma das partes tenha condições neste momento de vencer a guerra – a batalha está estacionada no leste ucraniano, com pesadas perdas dos respectivos arsenais, avanços territoriais irrisórios e significativas baixas das tropas. Segundo Putin, o fim da invasão depende da rendição dos invadidos. “Estamos convencidos de que um acordo verdadeiramente global, duradouro e justo só é possível se o regime de Kiev puser fim às hostilidades e aos atentados terroristas”, afirmou Maria Zakharova, porta-voz da diplomacia russa. Zelensky, por sua vez, voltou a criticar Lula em entrevista à CNN e afirmou que a única saída é Moscou devolver os territórios ocupados. Será? Circulam informações de que o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, pressiona a Ucrânia para aceitar um acordo até o fim do ano.
Vidas negras importam
O último dos quatro policiais acusados de assassinar George Floyd foi condenado na segunda-feira 7. Tou Thao cumprirá quatro anos e sete meses de prisão por cumplicidade no homicídio. Floyd morreu sufocado por um policial branco que se ajoelhou sobre seu pescoço em uma abordagem em 2020. O assassinato desencadeou uma série de protestos antirracistas nos Estados Unidos e impulsionou o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). “Não cometi esses crimes”, declarou Thao na audiência. “A minha consciência está limpa.”
Equador/ Terror eleitoral
Fernando Villavicencio, candidato à Presidência, é assassinado
Villavicencio aparecia em segundo nas pesquisas – Imagem: Redes Sociais
Seis suspeitos de participar do assassinato, na quarta-feira 9, de Fernando Villavicencio, candidato à Presidência do Equador, foram detidos, segundo a Procuradoria-Geral do país. O atual mandatário, Guillermo Lasso, decretou estado de exceção, mas manteve as eleições para o domingo 20. Representante do Movimento Construye, Villavicencio aparecia em segundo lugar nas pesquisas, atrás da advogada Luisa González. O jornalista levou três tiros na cabeça e, de acordo com testemunhas, os assassinos fizeram mais de 30 disparos contra a comitiva na saída do Colégio Anderson, no centro-norte de Quito. A facção criminosa Los Lobos reivindicou o atentado. Em vídeo publicado na rede social X (antigo Twitter), homens encapuzados supostamente ligados à quadrilha assumiram o ataque e ameaçaram outro candidato. “Toda vez que políticos corruptos não cumprirem suas promessas quando receberem nosso dinheiro, que é de milhões de dólares, para financiar suas campanhas, serão dispensados”, diz um dos encapuzados. “Você também, Jan Topic, mantenha sua palavra. Se você não cumprir suas promessas, será o próximo.”
Publicado na edição n° 1265 de CartaCapital, em 19 de agosto de 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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