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A Semana | Ed. 1226

Silvio Lancellotti marcou época com transmissões do Campeonato Italiano

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Memória/O que só você viu?

Silvio Lancellotti marcou época com transmissões do Campeonato Italiano

Referência do jornalismo esportivo, Silvio Lancellotti morreu na quarta-feira 14, aos 78 anos, na capital paulista. O jornalista estava internado na UTI do Hospital São Paulo, na Zona Sul da cidade, tratando sequelas de um infarto, mas não resistiu a uma parada cardíaca. Especializado em futebol internacional, Lancellotti acompanhou oito Copas do Mundo em transmissões pela TV Bandeirantes e pela ESPN. Mas foi como comentarista do ­Campeonato Italiano na Band, ao lado do igualmente divertidíssimo locutor Silvio Luiz, que marcou época, nos anos 1980 e início dos 1990.

Formado em arquitetura e apaixonado pela gastronomia, Lancellotti também apresentou programas sobre culinária na tevê brasileira por mais de uma década. Durante as transmissões esportivas, era comum divagar sobre algumas receitas. Os amigos recordam-se, com especial carinho, das inventivas explicações que dava para tudo, como a razão de o sanduíche Big Mac ter picles na sua composição – uma homenagem ao Brasil, sustentava com um sorriso maroto. O jornalista deixa a mulher, Vivian, e uma legião de aficionados por futebol desolados com sua partida.

Duas vezes emboscado

O líder indígena Vitorino Sanches, da etnia ­guarani-kaiowá, foi executado a tiros na terça-feira 13 em Amambai, Mato Grosso do Sul. Há pouco mais de um mês, em 1º de agosto, ele sobreviveu a um atentado, no qual seu carro foi atingido por ao menos dez projéteis. Na ocasião, Sanches foi socorrido e se recuperou dos ferimentos. Desta vez, não teve a mesma sorte. Dois pistoleiros efetuaram 35 disparos contra o indígena, segundo a associação Aty Guasu Guarani-Kaiowá. “Não suportamos mais tanta dor e luto. Precisamos de apoio e proteção. Já são meses de ataques e assassinatos em nossos territórios”, afirma a organização, por meio de nota.

STF/ Recado a Bolsonaro

“Não se cogite descumprir ordem judicial”, alerta nova chefe da Corte

Ao assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal na segunda-feira 12, a ministra Rosa Weber fez um discurso em defesa da democracia e da laicidade do Estado e de rejeição ao discurso de ódio. Em evidente recado a Jair Bolsonaro, acrescentou: “De descumprimento de ordens judiciais sequer se cogite em um Estado Democrático de Direito”.

O ex-capitão ameaçou descumprir determinações judiciais em diversas ocasiões. A manifestação mais explícita nesse sentido ocorreu na celebração do 7 de Setembro do ano passado. “Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou. Ele tem tempo ainda para pedir o seu boné e cuidar da vida”, afirmou aos berros, antes de pedir a intervenção de Michel Temer para celebrar um pacto de não agressão com o magistrado.

Bolsonaro não compareceu à cerimônia de posse de Rosa Weber, quebrando uma tradição de mais de 30 anos. O último chefe do Executivo a faltar na posse de um presidente da Suprema Corte foi Itamar Franco, que em 1993 não esteve presente na consagração do magistrado Octavio Gallotti.

Crime organizado/ Sob a lei do cão

As milícias crescem 387% em 16 anos e controlam 10% da Grande Rio

Nem mesmo o CV conseguiu se expandir tanto – Imagem: iStockphoto

As áreas sob domínio das milícias cresceram 387% nos últimos 16 anos, atingindo 256,3 quilômetros quadrados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O vasto território é 64 vezes superior ao bairro de Copacabana, cartão-postal da capital. Os milicianos concentram-se, porém, na empobrecida Zona Oeste da cidade e em municípios da Baixada Fluminense. Ao menos 10% da Grande Rio está sob o controle dos criminosos, muitos deles oriundos das violentas polícias do estado.

Os números são de um levantamento inédito, divulgado pelo Instituto Fogo Cruzado e pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense. O mapeamento foi realizado com base em quase 700 mil denúncias obtidas via Disque Denúncia, sobre a atuação de milícias e do tráfico de drogas. Com fortes conexões políticas e relações com as forças de segurança, as milícias cresceram em um ritmo superior a qualquer outra organização criminosa atuante no estado. Nem mesmo o Comando Vermelho ou o Amigos dos Amigos, facções ligadas ao narcotráfico, conseguiram se expandir tanto, e em tão pouco tempo.

Um Pix para o capitão

Nos últimos dias, uma iniciativa ganhou asas nos grupos bolsonaristas. A mensagem conclamava os apoiadores do capitão a doar ao menos 1 real para a campanha de reeleição, uma espécie de medida preventiva contra a suposta manipulação das urnas eletrônicas. Ora, se Bolsonaro tiver mais doadores que votos, restará provada a fraude. E a turma acredita piamente que o “Mito” lidera com folga. O enrosco é que a avalanche de pequenas contribuições gerou um problema burocrático, uma vez que todas as doações precisam ser registradas detalhadamente pela equipe do candidato. Ao cabo, o custo contábil de cada registro poderia ser superior ao valor doado. Em meio à confusão, houve quem identificasse, na iniciativa, as digitais da esquerda, supostamente interessada em sabotar a prestação de contas do capitão. Por trás de cada patetice, uma nova teoria conspiratória.

Cinema/ Jean-luc Godard morre aos 91 anos

O diretor, que vivia na Suíça, foi um nome-símbolo da Nouvelle Vague

O artista cometeu suicídio assistido, em sua casa – Imagem: Boris Horvat/AFP

Jean-Luc Godard, que, ao longo de 91 anos de vida, envolveu-se na produção de mais de uma centena de obras audiovisuais, decidiu cometer suicídio assistido em sua casa na Suíça, onde vivia. A notícia de sua morte foi dada na terça-feira 13, acompanhada de declarações de um amigo próximo, que definiu que o cineasta “não estava doente, apenas esgotado”.

O nome de Godard despontou no mundo do cinema durante a Nouvelle Vague francesa. O memorável Acossado (1960), com Jean ­Seberg e Jean-Paul ­Belmondo, tornou-se o filme-símbolo do célebre movimento que contara também com ­François Truffaut, Claude Chabrol, Jacques Rivette e Eric Rohmer. Godard, que acabou por se desentender com todos eles – como, de resto, com muita gente – foi o último do grupo a morrer.

Provavelmente menos assistido do que falado ao longo da profícua trajetória, Godard construiu em torno de si uma mística que se tornou inseparável da própria ideia de cinema de arte e das possibilidades de invenção e transformação na linguagem cinematográfica.

Argentina/ “Mandei matar Cristina”

Mensagens revelam que namorada de brasileiro planejou atentado

Uliarte recebeu reprimenda da amiga pela imperícia do namorado – Imagem: Polícia Aeroportuária Argentina

A Justiça da Argentina encontrou mensagens de celular nas quais Brenda Uliarte admite ter planejado o atentado contra Cristina Kirchner. Os diálogos foram revelados pelo jornal La Nación. Brenda é namorada do brasileiro Fernando Montiel, preso após tentar assassinar a tiros a ex-presidente, hoje vice de Alberto Fernández, em 1º de setembro, em Buenos Aires. Ele apertou o gatilho da pistola Bersa duas vezes, mas a arma falhou.

O assassinato estava previsto para acontecer em 27 de agosto, um dia marcado por conflitos entre manifestantes pró-Cristina e a polícia, mas a ideia não prosperou. “Vou mandar matar Cristina… Eles falam e não fazem nada. Eu farei”, escreveu Uliarte à amiga Agustina Díaz na ocasião. Pouco depois, ela continua: “Que filha da puta, ela entrou antes de eu dar o tiro”. Díaz, então, pergunta: “O que aconteceu?”. E Uliarte emenda: “Mandei matar a vice Cristina. Não deu certo porque ela entrou. Juro que senti raiva”.

Díaz também foi presa, na terça-feira 13, por envolvimento no atentado. Um dia após o evento frustrado, ela chegou a cobrar explicações da amiga: “Por que o tiro falhou? Como você mandou esse idiota? E então ele ficou nervoso?” As mensagens em poder da polícia também revelam a intenção de ­Uliarte fugir para o exterior e assumir outra identidade, caso as autoridades identificassem suas digitais no crime.

Uma das grandes dúvidas que persistem, para os investigadores, é se o trio recebeu algum financiamento ou orientação externos. Nesse sentido, outra mensagem encontrada no telefone de Uliarte parece bastante sugestiva: “Se me falta dinheiro, já sei a quem recorrer”, disse Brenda.

A juíza responsável pelo caso, María ­Eugenia Capuchetti, decretou a quebra do sigilo bancário dos investigados e solicitou à polícia para analisar movimentações financeiras do grupo em aplicativos como o Mercado Pago.

50 milhões de escravizados

A pandemia de Covid-19, os conflitos armados e as mudanças climáticas provocaram o aumento da escravidão moderna. Na segunda-feira 12, as Nações Unidas informaram que quase 50 milhões de pessoas estavam presas a trabalhos ou casamentos forçados no ano passado. A ONU tem a meta de erradicar o problema até 2030, mas os casos não param de crescer. De 2016 a 2021, o número de vítimas teve acréscimo de 10 milhões.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1226 DE CARTACAPITAL, EM 21 DE SETEMBRO DE 2022.

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