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A Semana: Com placar folgado

O Senado aprova a nomeação do advogado Cristiano Zanin para ocupar a vaga deixada por Lewandowski no STF

A Semana: Com placar folgado
A Semana: Com placar folgado
Zanin enfrentou uma sabatina tranquila, sem percalços – Imagem: Geraldo Magela/Ag. Senado
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Após a sabatina conduzida pela Comissão de Constituição e Justiça, o Senado aprovou, com 58 votos favoráveis e 18 contrários, a nomeação do advogado Cristiano Zanin para o Supremo Tribunal Federal. Responsável pela defesa do presidente Lula nos processos da finada Operação Lava Jato, ele ocupará a vaga deixada pelo ministro Ricardo ­Lewandowski, que se aposentou da Corte em abril, um mês antes de completar 75 anos de idade.

Zanin enfrentou uma sabatina tranquila, sem percalços. Esclareceu ao balbuciante senador Sergio Moro, ex-juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, que não foi padrinho do casamento de Lula e Janja, fake news repetida à exaustão nas redes bolsonaristas. Afirmou ainda que irá analisar caso a caso a ­necessidade de declarar suspeição em casos envolvendo antigos clientes, como o próprio presidente e empreiteiras denunciadas pela Lava Jato.

Já o senador Flávio Bolsonaro usou uma das perguntas para fustigar o ministro Alexandre de Moraes. O filho 01 do ex-presidente perguntou o que Zanin achava da prática do fishing expedition. “É uma pescaria, como chamado no mundo jurídico, na qual se joga uma rede, puxa e vê o que vem agarrado nela”, definiu o parlamentar. “Sabe como é, quando se diz que vai buscar o cartão de vacinação na casa de alguém para pegar o telefone celular”, referindo-se ao caso do coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Acusado de fraudar o cartão de vacinação para o chefe, ele teve o aparelho confiscado, e então os investigadores da Polícia Federal descobriram uma intensa troca de mensagens com teor golpista.

Diante da casca de banana, Zanin respondeu de modo genérico, sem entrar no mérito das ações determinadas pelo futuro colega de tribunal. “O Estado não pode eleger alguém como alvo e depois buscar provas contra ele”, disse, acrescentando que tal prática tem levado à anulação de processos. Foi, inclusive, sob esta alegação, de lawfare, que o advogado conseguiu anular as condenações de Lula, vítima de um conluio entre procuradores da República e o então juiz Moro para prendê-lo a qualquer custo.

Pela sétima vez

De nada adiantaram os recentes apelos da empresária Luiza Trajano, controladora do Magazine Luiza, e do industrial Josué Gomes, dono da Coteminas e presidente da Fiesp. Mesmo diante de sinais inequívocos de melhora do cenário econômico, como a inflação em declínio, o dólar em baixa e o resultado do PIB no primeiro trimestre acima das expectativas do mercado, o Conselho de Política Monetária do Banco Central decidiu manter, na quarta-feira 21, a taxa básica de juros em 13,75% ao ano pela sétima vez consecutiva. Nos últimos dias, aliados de Lula no Congresso voltaram a subir o tom contra o atual patamar da Selic, capaz de “matar qualquer economia”, nas palavras do Nobel de Economia Joseph Stiglitz.

Ex-GSI/ General desmemoriado

Heleno integrou grupo de militares que discutiu ações golpistas, mas diz não se lembrar das mensagens

O ex-ministro de Bolsonaro ainda insinuou que o colega linguarudo está senil – Imagem: Carolina Antunes/PR

O general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Jair Bolsonaro, fez parte de um grupo de ­Whatsapp no qual foram discutidas ações golpistas, visando impedir a posse do presidente Lula. A informação foi revelada pelo coronel-aviador reformado Francisco Dellamora, autor de parte das mensagens, ao portal UOL.

O grupo se chamava “Notícias Brasil” e reunia militares de alta patente, da ativa e da reserva, desde 2016, quando Dilma Rousseff sofreu o impeachment. Além de Heleno, outro participante citado é o general da reserva Sérgio Etchegoyen, que comandou o GSI na gestão de Michel Temer. Segundo Dellamora, as conversas se estenderam até 8 de janeiro de 2023, dia dos atos golpistas em Brasília, quando o grupo foi excluído pelo administrador, um brigadeiro do ar que não teve a identidade revelada.

Ao site, o coronel repetiu ofensas a Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, que teria se recusado a impedir a posse de Lula e a abrir processos de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal. “Tem que cassar. São bandidos. Não existe Justiça no ­Brasil. Existe uma quadrilha instalada no STF”, disse. O grupo também pressionava Heleno para conduzir uma intervenção militar, mas, segundo Dellamora, o general não se manifestava. A única mensagem que Heleno teria mandado foi sobre a indicação de Nunes ­Marques para a Suprema Corte. Ele defendia outro nome.

Heleno insinuou que ­Dellamora está senil, mas é ele quem alega não se lembrar das mensagens descritas pelo colega militar. “Não sei quem participou. Internet é um negócio que você começa a responder uma porção de coisas, mas nunca participei disso”, disse ao UOL. Outro desmemoriado é o general Etchegoyen. Ele confirmou a existência do grupo, mas disse ter se manifestado poucas vezes e que não se lembrava do teor das mensagens.

O novo ofício de Janaína Paschoal

Na sexta-feira 16, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, retirou o sigilo de um relatório da Polícia Federal sobre os diálogos encontrados no celular do coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro. As mensagens recuperadas mostram diálogos em que interlocutores, oficiais do Exército e reservistas, debatiam o uso das Forças Armadas para impedir a posse de Lula. Para Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma, o material é prova de que “Bolsonaro salvou a democracia”, pois resistiu à “pressão sofrida por grande parte de seu entorno”. Aparentemente, a advogada busca enveredar para a carreira humorística. Difícil encarar a declaração de outra forma.

Geopolítica/As montanhas se movem

China e Estados Unidos dão um passo rumo ao diálogo

Blinken e Gang: início de uma nova fase? – Imagem: Leah Millis/AFP

Após um período de hostilidade, tensão e acusações infundadas, Estados Unidos e China sentaram-se à mesa. No domingo 18, Anthony Blinken, secretário de Estado norte-americano, iniciou uma viagem de dois dias ao “rival”. Qin Gang, ministro das Relações Exteriores, recebeu o enviado de Washington nos famosos jardins Diayoutai, em Pequim, durante uma cerimônia repleta de simbolismo: ambos cruzaram um tapete vermelho e apertaram as mãos. O objetivo, disse Blinken, é “abrir linhas diretas de comunicação para que os dois países possam gerir a relação de forma responsável, o que inclui enfrentar alguns desafios e equívocos e evitar erros de cálculo”. A viagem ocorre com atraso de cinco meses. Marcado inicialmente para fevereiro, o encontro foi congelado na sequência do incidente com o balão chinês que invadiu o espaço aéreo dos EUA. Washington acusa Pequim de espionagem, esta negou e explicou: tratava-se de um equipamento meteorológico extraviado.

Tragédia grega

As equipes de buscas encontraram mais dois corpos e o número de mortos no naufrágio de um navio repleto de imigrantes clandestinos nas proximidades da costa da Grécia subiu para 80. Há 104 sobreviventes. Os suspeitos de contrabandear os imigrantes vão responder por homicídio culposo. O barco partiu da Líbia e seguia para a Itália. O advogado de um dos acusados negou que o cliente seja contrabandista. “Ele deixou seu país em busca de uma vida melhor na Europa por causa das dificuldades econômicas”, declarou Athanasios Iliopoulos.

Chile/ Crime sem prescrição

Tribunal manda prender general de 92 anos por mortes na ditadura

Sinclair comandava a Caravana da Morte – Imagem: Redes sociais

A idade avançada não serviu de atenuante. Aos 92 anos, o general Santiago Sinclair, integrante da junta militar que governou o Chile durante a ditadura de Augusto Pinochet, cumprirá 18 anos de prisão, condenado, em segundo julgamento, por participar da Caravana da Morte, responsável por assassinar 12 camponeses. Outros três militares idosos, comparsas do general, serão igualmente presos: Juan Chimelli e Emilio de la ­Mahotiere, ambos de 86 anos, e Pedro Espinoza, de 90. A Caravana da Morte viajou pelo país em busca de opositores ao regime. Uma das vítimas mais emblemáticas do comboio foi o jornalista Carlos ­Berger, integrante do Partido Comunista detido em Calamar por se recusar a suspender uma transmissão na rádio local no dia do golpe. Segundo o Ministério Público, Sinclair chancelou os assassinatos quando comandava o Regimento de Caçadores em Valdivia, cidade 840 quilômetros ao sul da capital Santiago. A ditadura chilena, que durou 17 anos, deixou um saldo de 3 mil mortos e 38 mil torturados. Familiares ainda buscam informações sobre cerca de 1,1 mil vítimas de desaparecimentos forçados.

Publicado na edição n° 1265 de CartaCapital, em 28 de junho de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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