CartaCapital
A Semana: 8 de Janeiro, o ouro do golpe
Garimpo ilegal financiou quebradeira em Brasília, diz Abin


Relatório da Agência Brasileira de Inteligência de março aponta a ligação entre a invasão da Praça dos Três Poderes em Brasília e o garimpo ilegal. Empresários donos de maquinário em área de proteção ambiental no Pará estão por trás do financiamento dos protestos de 8 de janeiro. Os agentes citam especialmente dois garimpeiros, Roberto Katsuda e Enric Lauriano, cujos vínculos políticos se estendem ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Katsuda é diretor da Cooperativa Mista de Mineradores do Alto Tapajós, que fez intenso lobby pela liberação de garimpo em terras indígenas. Em requerimento ao Conselho de Controle das Atividades Financeiras sobre a movimentação da cooperativa, a deputada Eliziane Gama, do PSD do Maranhão, relatora da CPI dos Atos Golpistas, descreve: “Roberto Katsuda também seria responsável pelo financiamento de cooperativas garimpeiras na região. Segundo ele, foi a Hyundai que financiou os maquinários agrícolas em Itaituba. Em 2018, o montante financiado foi em torno de 220 milhões de reais”. Lauriano, por sua vez, é acusado de bancar manifestações no Pará e em Brasília para contestar o resultado das eleições e de estar presente nos atos golpistas de 8 de janeiro. Um terceiro empresário, Ricardo Pereira Cunha, aparece no relatório. O proprietário da RP Cunha e da Mineração Carajás teria organizado via PIX apoio financeiro aos atos. Os três citados integram o grupo Direita Xinguara, entusiasta da campanha a favor de Bolsonaro na região.
Intimidação na Paraíba
Indicado pelo governo anterior, o atual reitor da Universidade Federal da Paraíba, Valdiney Veloso Gouveia, é acusado de perseguir alunos, professores e servidores críticos de sua gestão. Segundo relatos na mídia, estudantes e docentes foram convocados a depor na Polícia Federal por supostamente cometer crimes contra a honra e dirigir ameaças ao reitor. Gouveia é chamado de “interventor” pela comunidade acadêmica.
Roraima/ Compra de votos
O TRE de Roraima cassa o governador Antonio Denarium
Denarium faz jus aos velhos coronéis da política – Imagem: Progressistas 11
Por 4 votos a 3, os juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Roraima cassaram o mandato do governador Antonio Denarium, do PP, e impuseram multa de 106 mil reais por abuso de poder econômico. Então candidato à reeleição, Denarium lançou no ano passado o programa “Cesta da Família”, destinado a distribuir cestas básicas a eleitores do estado. O cassado anunciou que vai recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral. “Estou com a consciência tranquila de que fiz o correto pelo nosso povo”, afirmou o governador em nota. Aliado de Bolsonaro, Denarium está cercado por escândalos familiares e se esmera em declarações infelizes. Sua mulher, Simone, foi eleita conselheira do Tribunal de Contas, responsável por fiscalizar o governo do próprio marido. A irmã, Vanda Garcia de Almeida, foi alvo de uma operação policial de combate à venda ilegal de ouro. E o governador vendeu um avião apreendido por suspeita de uso do garimpo. Quando o genocídio Yanomâmi veio à tona, Denarium preferiu atacar as comunidades. Os indígenas, declarou, “não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho”.
Imagem: Redes sociais
Morre Léa Garcia
Foi durante o Festival de Gramado (RS), onde seria homenageada pelo conjunto da carreira, que a atriz Léa Garcia sofreu um infarto e morreu, na terça-feira 15. Nascida em 1933, no Rio de Janeiro, Léa tinha 90 anos.
A atriz despontou nas telas de cinema em 1959, quando estrelou Orfeu Negro, de Marcel Camus. Dali em diante, teria papéis não apenas em vários filmes brasileiros, mas também na televisão e no teatro.
O último filme do qual participou foi Um Dia com Jerusa (2020), de Viviane Ferreira, jovem cineasta negra.
Polícia Rodoviária/ Punição administrativa
O Ministério da Justiça demite acusados da morte de Genivaldo Santos
Os policiais perderam o emprego e vão a júri popular – Imagem: Redes sociais
Um ano e três meses depois, os acusados de matar Genivaldo Santos perderam seus empregos. “Estou assinando a demissão de três policiais rodoviários federais que, em 2022, causaram ilegalmente a morte do Sr. Genivaldo, em Sergipe, quando da execução de fiscalização de trânsito”, anunciou na rede X, antigo Twitter, o ministro da Justiça, Flávio Dino. Santos, de 38 anos, faleceu após ser trancado no porta-malas de uma viatura da PRF e forçado a inalar gás lacrimogêneo. Seu crime? Andar de moto sem capacete na BR-101, nas imediações da cidade de Umbaúba. Os policiais exonerados foram William Noia, Kleber Freitas e Paulo Rodolpho. O trio está preso desde outubro do ano passado e vai enfrentar júri popular. Dino também suspendeu outros dois agentes: Clenílson José dos Santos, por 69 dias, e Adeílton dos Santos Nunes, por 38 dias. “Estamos trabalhando com estados, a sociedade civil e as corporações para apoiar os bons procedimentos e afastar aqueles que não cumprem a lei”, acrescentou o ministro.
Argentina/ Efeito caipirinha
Javier Milei, o Bolsonaro portenho, vence as primárias
Caricato como Menem. E mais perigoso – Imagem: Alejandro Pagni/AFP
Na segunda-feira 14, o mundo financeiro argentino veio abaixo. O dólar subiu 24% e o governo anunciou a elevação em 21 pontos porcentuais da taxa de juros, para inacreditáveis 118% ao ano (medida desesperada para combater uma inflação à beira dos 100%). Os títulos argentinos na Bolsa de Nova York registraram queda de 12%. A causa do tumulto atende pelo nome de Javier Milei, economista de cabeleira rebelde e ideias grotescas, entre elas a liberação da venda de órgãos e de crianças. Com uma candura comovente, os meios de comunicação brasileiros definem Milei como ultraliberal, anarcocapitalista ou libertário. Desde o milongueiro Carlos Menem e suas costeletas pornográficas, a Argentina não produzia, no entanto, um político tão caricato – e perigoso. O Bolsonaro portenho, se vencer as eleições em novembro, tem tudo para levar os vizinhos ao irremediável fundo do poço. Por ora, Milei pode comemorar o triunfo nas primárias, espécie de prévia para medir o humor dos eleitores e definir as candidaturas. O “libertário” obteve cerca de 30% dos votos. Em segundo lugar ficou a macrista Patricia Bullrich, com 28,7%, e em terceiro o atual ministro da Economia, Sergio Massa, representante da situação (27%). Este foi o pior resultado da frente peronista em uma primária. Espera-se que os resultados do domingo 13 não passem de um recado desesperado dos eleitores. A revolta dos argentinos é compreensível. Há mais de três décadas o país vive mergulhado em uma crise severa e persistente, amenizada em raros espasmos de bonança e esperança. Adendo: as propostas de Milei, que incluem a dolarização completa da economia, só tendem a piorar a situação.
O quarto processo
Não foi exatamente uma surpresa. Na segunda-feira 14, a Justiça norte-americana acusou o ex-presidente Donald Trump de tentar alterar os resultados das eleições presidenciais de 2020 por meio do estado da Geórgia. Em menos de seis meses, é a quarta acusação formal contra o republicano. O Ministério Público apresentou 41 acusações no processo, 13 delas contra Trump, incluídos os crimes de falsificação e extorsão.
Publicado na edição n° 1265 de CartaCapital, em 23 de agosto de 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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