CartaCapital
A Semana: 16 a 22 de janeiro
Bolsonaro rejeita socorro financeiro ao Rio de Janeiro de Cláudio Castro


“Não dá para ser infiel, isso não serei com certeza”, afirmou Cláudio Castro, em dezembro, ao reiterar o apoio à reeleição de Jair Bolsonaro durante uma coletiva de imprensa no Palácio Guanabara. Igualmente preocupado em se reeleger, o governador do Rio de Janeiro dava como favas contadas o socorro financeiro do governo federal ao estado, mas acabou apunhalado pelo ex-capitão. Após o Tesouro Nacional e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional se manifestarem pela rejeição do plano de recuperação fiscal fluminense, Castro terá de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para se manter no programa e assegurar a continuidade da suspensão na cobrança das dívidas bilionárias do Rio com a União.
Em parecer, o Tesouro apontou a “precariedade” do plano de Castro, lastreado em “premissas técnicas frágeis” para reequilibrar as contas do estado. O Rio foi o primeiro a aderir ao Regime de Recuperação Fiscal, criado em 2017 para socorrer estados endividados. Em troca de um alívio no pagamento das dívidas com a União, os optantes se comprometem a adotar rígidas medidas de austeridade fiscal. Após mudanças nas regras do programa, o governo fluminense pleiteou uma nova adesão. Entre os problemas apontados pelo Tesouro figura a previsão de reajustes salariais aos servidores durante a vigência do regime. Apenas neste ano, a despesa com pessoal subiria 17,1%. Em 2023, a alta seria de 8,9%.
Lulinha livre
A Justiça Federal da 3ª Região arquivou, na segunda-feira 17, o inquérito contra o empresário Fábio Luís Lula da Silva, conhecido como Lulinha, por supostos repasses ilegais da empresa de telefonia Oi ao Grupo Gamecorp. Em dezembro, o Ministério Público Federal requisitou o arquivamento da investigação contra o filho do ex-presidente Lula. No parecer, a procuradora Luciana da Costa Pinto disse que sem os elementos obtidos na investigação, anulados com a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, o inquérito não tem mais requisitos legais que justifiquem a continuidade da ação.
Renda/ Desigualdade pandêmicaEnquanto o povo passa fome, o Brasil ganha dez novos bilionários
No Amazonas, população desenterra frango em lixão – Imagem: Redes sociais
Desde março de 2020, quando a pandemia provocou as primeiras mortes em território nacional, o Brasil ganhou dez novos bilionários, revela um relatório da Oxfam preparado para o Fórum Econômico Mundial, em Davos. O aumento da riqueza dos bilionários brasileiros entre 2019 e 2021 foi de 30% (39,6 bilhões de dólares), enquanto 90% da população teve redução de 0,2%. O dado causa assombro diante do recrudescimento da fome no País. Na sexta-feira 10, por exemplo, moradores de Humaitá, no Amazonas, chegaram a escavar o solo de um lixão para reaproveitar frangos congelados descartados, impróprios para consumo.
O agravamento da concentração de renda é um fenômeno mundial. Nos dois primeiros anos da epidemia de Covid-19, os dez homens mais ricos do mundo dobraram suas fortunas, de 700 bilhões para 1,5 trilhão de dólares. Em contrapartida, a renda de 99% da humanidade caiu. A Oxfam estima que as desigualdades estão contribuindo para a morte de 21 mil pessoas por dia. A conta é baseada nas mortes globais provocadas pela falta de acesso à saúde pública, violência de gênero, fome e crise climática.
Violência sexual/ InapelávelA Justiça italiana condena Robinho em última instância por estupro
Robinho vangloriou-se do fato de a vítima estar “completamente bêbada” – Imagem: Olivier Morin/AFP
A Justiça da Itália condenou, na quarta-feira 19, o atacante Robinho a nove anos de prisão pelo estupro coletivo de uma jovem albanesa. O crime ocorreu há nove anos em Milão, no norte da Itália, quando ele jogava pelo Milan. O atleta e seu amigo Ricardo Falco, também condenado pelo delito, não compareceram ao julgamento no Supremo Tribunal de Cassação, em Roma – a terceira e última instância do Judiciário italiano. Nas instâncias inferiores, ambos os réus sustentaram que a relação com a vítima, hoje com 31 anos de idade, havia sido consensual.
Conversas interceptadas pela polícia desmontam, porém, a versão apresentada pela defesa. “Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu”, disse Robinho a amigos após o incidente, segundo documentos anexados no processo. Com a condenação definitiva, a Justiça italiana precisa se pronunciar sobre o início do cumprimento da pena.
A Constituição brasileira impede a extradição de seus cidadãos por crimes cometidos no exterior. A Lei de Migração (13.445/17), no entanto, prevê a possibilidade de execução da pena em território nacional nos casos em que a extradição não seja possível.
Vacinados contra a estupidez
Os brasileiros parecem imunes às recomendações negacionistas de Jair Bolsonaro. Uma recente pesquisa do Datafolha, divulgada na terça-feira 18, revela que 81% da população é a favor da apresentação do comprovante de vacinação contra o Coronavírus para entrar em locais fechados, como bares, restaurantes, shoppings, casas de espetáculos e escritórios. Da mesma forma, oito em cada dez brasileiros manifestaram-se a favor da imunização de crianças de 5 a 11 anos de idade contra a Covid. Ao que parece, o ex-capitão só mantém a influência sobre os seus mais radicais apoiadores.
França/ Bolsonaro fez escolaCandidato da ultradireita francesa é condenado por incitação ao ódio
Zemmour chamou menores imigrantes de “assassinos“ – Imagem: Zemmour2022
A três meses das eleições, Eric Zemmour, candidato da ultradireita na corrida presidencial francesa, foi condenado a pagar multa de 10 mil euros – o equivalente a 62,9 mil reais – por incitar o ódio contra imigrantes. O episódio remonta a 2020, quando ele criticou, durante um programa televisivo, a entrada de migrantes menores de idade desacompanhados, a quem descreveu como “ladrões”, “assassinos” e “estupradores”. Segundo ele, o fluxo migratório era “uma invasão permanente” à França.
A três meses das eleições, Eric Zemmour, candidato da ultradireita na corrida presidencial francesa, foi condenado a pagar multa de 10 mil euros – o equivalente a 62,9 mil reais – por incitar o ódio contra imigrantes. O episódio remonta a 2020, quando ele criticou, durante um programa televisivo, a entrada de migrantes menores de idade desacompanhados, a quem descreveu como “ladrões”, “assassinos” e “estupradores”. Segundo ele, o fluxo migratório era “uma invasão permanente” à França.
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1192 DE CARTACAPITAL, EM 26 DE JANEIRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”
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