Vanguardas do Conhecimento

O educador no século XXI e as tecnologias

Livro supostamente ditado pelo Espírito Jan Comenius afirma que a educação moderna depende de professores amorosos, dedicados e preparados

É preciso dosar de forma adequada o quanto tempo se gasta em atividades pouco úteis
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Este texto, assim como o anterior, tomou por base, dentre outras leituras, a obra O Educador, de Dora Incontri, quem afirma ter realizado uma psicografia do Espírito Jan Amos Comenius, educador que viveu de 1592 a 1670, cuja brilhante obra construída em vida ainda é pouco conhecida no Brasil. 

Dora Incontri tem outros dois excelentes livros sobre educação que afirma serem resultados de psicografias dos Espíritos Johann Heinrich Pestalozzi e Maria Montessori. Segundo ela, psicografa há muitas décadas e foi, inclusive, uma das médiuns estudadas por uma pesquisa científica realizada pela Universidade da Pensilvânia em parceria com a USP.

Independentemente da convicção de cada um sobre existir ou não trabalhos de psicografia de Espíritos, o livro atribuído a Comenius é fenomenal. Para os que não aceitam a versão de Dora Incontri, basta partirem do pressuposto de que foi a própria quem forneceu todas as ideias do texto, não mudando em nada os sentidos que podem ser construídos a partir dele.

Trata-se de uma profunda obra, apesar de escrita em linguagem simples, sobre como o educador deve agir para chegar a melhores e mais amplos resultados, revelando conteúdo e forma avançadíssimos. Profundidade de conteúdo com simplicidade de forma é algo especial, raro de se ver.   

Em obras supostamente mediúnicas, como “Laços de Afeto” (publicado em 2001), psicografado por Wanderley Oliveira e atribuído ao Espírito Ermance Dufaux, já faz tempo que é forte a defesa de uma educação mais plena, que forme indivíduos mais preparados moral e emocionalmente, não ficando ela limitada apenas à visão acadêmica, que foca na inteligência linguística e na lógico-matemática. Essa é também a linha de pensamento cada vez mais forte entre os maiores especialistas da educação no mundo. 

O livro lembra que, após a recente revolução tecnológica, o acesso às informações é muito mais prático e veloz, o que impõe uma educação muito séria e eficiente no sentido de orientar os indivíduos a selecionarem bem que tipo de informação irão buscar, a que tipo de entretenimento irão aderir e assim por diante.

Assim como nos referimos ao poder no texto passado, a Internet e outras tecnologias são neutras. São ferramentas que conferem maior poder de atingir os demais e de modificar a realidade. A qualidade dos resultados, se positivos ou negativos, será determinada pelo uso. De acordo com o livro:

“É verdade que esse estágio atual, de disseminação virtual de ideias, informações, imagens e artes, faz com que o educando vá adquirindo rapidamente conteúdos que, no passado, poderia levar uma vida inteira para obter ou se passar uma vida sem que tivesse a mínima noção daquilo.

Entretanto, é aí que se faz cabível e urgente a presença atuante, responsável e amorosa do educador. Primeiro, porque todas essas possibilidades tecnológicas ainda não estão plenamente a serviço da cultura e do saber. Estão muito mais ligadas ao entretenimento hipnotizante e à dispersão do pensamento do que à séria produção do saber.

Segundo, porque mesmo ante a imensa quantidade de informações de fatos relevantes, faz-se preciso selecionar, trafegando no meio de um universo cognitivo, com alguma perícia e algum parâmetro ético” (O Educador, p. 40).

A existência de Internet cada vez mais rápida, do Netflix e de outras “maravilhas” do século XXI podem causar grande distração e deslocamento do uso do tempo, cada vez mais escasso, para atividades pouco engrandecedoras, como as visitas aos tão procurados sites de pornografia ou levar as pessoas a assistirem 6, 7, 8 capítulos de uma série do Netflix em um só dia, em lugar de distribuírem melhor o seu tempo e o utilizarem para mais atividades engrandecedoras.   

Enquanto isso, as importantes faculdades naturais dos indivíduos ficam, de um modo geral, dormentes. Não que não se possa ter entretenimento e o uso esporádico do Netflix pode até ser útil ao aprendizado de línguas, por exemplo. No entanto, a grande maioria das pessoas, mesmo as adultas, não está educada moral e emocionalmente para selecionar e dosar bem as atividades que realizará por meio da tecnologia.

Com tão fácil acesso, a degeneração em repetidas quedas frente aos arrastamentos fúteis é muito próxima, enquanto que, antigamente, os indivíduos podiam desenvolver melhor as relações interpessoais por meio de contatos presenciais muito mais frequentes, além de trabalhar outros tipos de inteligência, como a naturalista, a musical, a espacial e a cinestésica-corporal, pois saíam mais de casa e do ambiente de trabalho, tinham mais contato com a natureza. 

Mais uma vez, de acordo com o livro supostamente psicografado por Dora Incontri:

“O educando hoje se vê cercado por múltiplos apelos, mas obviamente, se abandonado a si mesmo – salvo no caso de espíritos altamente diferenciados do seu meio – cai prisioneiro das atrações vazias, dos jogos que viciam, das imagens excitantes, prejudicando seu poder de raciocínio, seu senso moral e sua necessidade de interação com a realidade que o cerca” (O Educador, p. 40-41).

Esse pode parecer um alerta óbvio e, portanto, de pouco valor, mas muitos pais e escolas ainda não estão atentos adequadamente para isso. Não adianta saber do problema se não houver medidas práticas eficientes para lidar com eles. E o pior é que uma parte do meio no qual vivem as crianças é quase incontrolável dadas as suas relações com outros colegas, com vizinhos etc.    

Os educadores, sejam os pais, sejam os professores, não podem se tornar neuróticos limitadores da liberdade, mas devem sim interferir nas escolhas dos educandos, que aprenderão, em última instância, com seus próprios erros, pois, quando caírem por conta deles, lembrarão daquilo que lhes foi ensinado e conseguirão provavelmente percebê-lo.

Devido à dificuldade que o raciocínio humano atual ainda tem de quebrar as dualidades, é difícil para muitos achar uma saída melhor entre os óbvios extremos, e suas proximidades, de limitar demais a liberdade e praticamente aprisionar o educando, causando-lhe ainda mais vontade de transgredir as regras e potenciais problemas morais e emocionais, ou de deixá-lo completamente livre e terminar sendo conivente com os seus erros na seleção de suas atividades e relações, causando-lhe também problemas morais e emocionais graves.

Não se trata de achar apenas um meio termo, uma solução que fuja aos extremos, mas de construir uma relação com o educando e um conjunto de atividades edificantes que sejam tão ou mais cativantes do que aquelas potencialmente prejudiciais. Segue outro trecho do livro em análise: 

“Então, o educador é a referência, o contraponto, a possibilidade única para que o educando não se esqueça de pensar, não deixe de aprender, não se entregue passivamente à manipulação do meio.

O educador, entretanto, não se pode fazer presença que proíbe, atordoa, atormenta, excitando ainda mais a vontade de escapar para a virtualidade vazia. O educador não deve usar meios punitivos, restritivos, que diminuam o educando, arrancando-lhe a capacidade de decisão própria.

O que deve fazer então?

Deve ser a presença estimulante, querida, envolvente, pela qual o educando deixe de bom grado seus joguinhos sem nexo; deve apresentar o conhecimento sólido, saboroso, que fale ao interesse do educando e que o faça sentir tédio nas imagens vazias da televisão; deve se tornar uma pessoa que naturalmente seja aceita como uma autoridade moral, perante quem o educando não se inclina submissamente, mas com quem se sinta confortável para trocar ideias, discutir problemas e propor indagações profundas e existenciais” (O Educador, p. 41-42).

Nota-se que o papel do educador não é simples. Ele exige preparo, inclusive dos pais, tempo, dedicação, atenção, amor. Como fazer isso se os pais estão muito mais preocupados em ganhar dinheiro, em obter o poder por variadas formas, em curtir a vida desregradamente, e deixam frequentemente seus filhos para serem educados por terceiros?     

E, quanto às escolas, repletas de professores mal remunerados, muitos deles sem vocação interpessoal e intrapessoal, até porque não são preparados nesse sentido; como lidar com a bem complexa tarefa de educar no século XXI?

Encerramos, como não poderia deixar de ser, respondendo à pergunta acima com a magnífica obra atribuída a Comenius:

“Nada é mais atrativo para o ser humano do que a presença de outro ser humano, que o escute, que o acolha, que esteja ao seu lado. Não há companhias virtuais que possam competir com um pai que brinca com seu filho, com uma mãe que conversa com os seus, com um professor que encante o aluno com sua afetividade e seu entusiasmo pelo saber!” (O Educador, p. 42). 

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