Vanguardas do Conhecimento

O educador do século XXI precisa progredir

O educador deve ter desenvolvidas a maioria das múltiplas inteligências a serem trabalhadas nas crianças, sobretudo a interpessoal e a intrapessoal

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Em textos passados, vimos que a inteligência humana vem sendo subestimada, de forma que ficou limitada a uma tacanha visão acadêmica, normalmente pautada nos talentos linguístico e lógico-matemático, deixando em segundo ou terceiro plano talentos, capacidades ou inteligências que são tão ou mais importantes do que aqueles, a exemplo do interpessoal, consubstanciado em faculdades como empatia, liderança e lisura moral, e do intrapessoal, que tem a ver com o autoconhecimento, o controle emocional e a consciência de cada um dos seus defeitos e qualidades.

Se o objetivo é tornar a educação mais completa, mais plena, serão necessários educadores preparados para tanto, uma vez que educar é, antes de tudo, servir de exemplo. Como convencer alguém de algo quando o próprio educador repetidamente não faz aquilo daquela forma? É possível, porém muito mais difícil. Antes, portanto, de trabalhar em alguém as múltiplas inteligências, é preciso que o educador as tenha desenvolvidas.

Isso não quer dizer que os educadores são obrigados a serem quase perfeitos, a terem todas as múltiplas inteligências muito bem despertadas, até porque ele será burilado na própria atividade, motivo pelo qual deve começar a trabalhar monitorado dentro da própria formação em Pedagogia. No entanto, ele deve ter, ao final do curso, ao menos um bom desenvolvimento da maior parte das inteligências, ou tenderá a ser um profissional abaixo do que se precisa para formar indivíduos mais plenos.

A teoria das inteligências múltiplas, como visto em outro texto, é muito importante para esse tipo de formação, porém é pouco conhecida no Brasil; todavia, mais importante ainda do que estudar melhor a teoria, é colocá-la em prática já nos cursos de Pedagogia.

A ideia é básica: candidatos a educadores se tornam alunos para que possam ser formados professores. Deste modo, guardadas as dessemelhanças, muito do que se busca para a formação de crianças, adolescentes, jovens e adultos em geral já deve estar refletido na própria formação dos educadores, permitindo a eles que sejam instrumentos concretos daquilo que pretendem ensinar.

Não vamos repetir o já desgastado assunto, tantas vezes tratado neste blog, da desvalorização do professor no Brasil. Diversas pesquisas apontam que menos de 5% dos jovens pretendem se tornar professor, profissão de status e remuneração pífios, algo que precisa ser mudado com urgência.

Pesquisas psicológicas ao redor do mundo, especialmente em países com baixa valorização da carreira, apontam que parte dos professores escolhem a profissão pois querem ter poder, mas não querem precisar competir muito para consegui-lo, como acontece em cargos políticos e outros que exigem mais esforço e dissabores. Assim, terminam se tornando autoritários e prejudicam muito a formação dos educandos. 

O poder é neutro. Diz-se que ele corrompe o homem, mas, na realidade, apenas traz à tona a corrupção que já existe dentro dele. É possível ter muito poder, não se corromper, lutar contra o sistema corrompido e, se a situação não progredir, desistir do poder, amealhando as suas armas pacíficas para outras batalhas no bem.

Os educadores precisam se compreender como poderosos amigos dos educandos, como espelhos com alto poder de transformação, como guias num aprendizado que deve depender, ao fim e ao cabo, apenas dos próprios educandos, não devendo haver imposições fortes para mudança de comportamentos, pois apenas o próprio indivíduo pode decidir mudar.

Os novos educadores devem descer do pedestal de “sábios no palco” (sages on the stage) para atuarem com humildade, ombro a ombro com seus educandos, mas sem perder, é claro, o respeito. Devem ser aqueles que se preocupam, que identificam defeitos e qualidades primeiramente em si e depois nos educandos, para, com amor, ajudá-los a encontrar soluções para os defeitos e ações de desenvolvimento para as qualidades.  

As instituições precisam identificar os professores com real vocação, checando principalmente se eles são dotados de boa inteligência interpessoal e intrapessoal. Um educador precisará ser bastante capaz de desenvolver essas capacidades, ou conjuntos de capacidades, nos seus alunos e isso, como visto, é muito mais fácil se ele próprio as desenvolveu muito bem.

Um bom educador precisa autoconhecer-se. Em vez de ser um crítico dos seus educandos e até mesmo de si próprio, deve ser um capaz observador dos seus sentimentos, pensamentos e comportamentos, procurando aperfeiçoá-los. Essa é a mesma tarefa que deve exercer sobre os educandos, porém com ainda mais cautela, paciência, tolerância e indulgência, ou seja, com ainda mais amor.   

Um professor vaidoso, orgulhoso ou agressivo terminará fazendo essas características emanarem nos momentos difíceis da relação com os alunos. Por tal razão, antes de tudo, um bom educador é um ser muito bem desenvolvido moral e emocionalmente, que se trabalha a todo o tempo por meio de terapia, meditação e outras ferramentas, que educa a sua própria consciência, controlando o seu ego e deixando o amor dele brotar.

Um bom educador sabe que é preciso estabelecer uma conexão de qualidade com o educando, uma relação interpessoal de confiança, respeito e afeto. Para tanto, é preciso que ambos os lados desenvolvam características interpessoais essenciais, como as várias já aqui citadas.

Ao se criar uma relação entre educador e educando, um fatalmente interferirá no outro e o modificará, havendo maiores chances de que o primeiro, supostamente mais experiente e em posição de direcionamento, cause mais impacto no segundo do que o contrário. Comprova-se, por isso, que é grande o poder e a responsabilidade do educador.

Há diversos estudos, como os do ex-professor de Harvard, atualmente em Stanford, Raj Chetty, que comprovam ser relevante o impacto do professor sobre o aluno até mesmo no seu sucesso na vida adulta. Educandos que tiveram educadores mais competentes normalmente obtiveram maior sucesso em sua vida adulta, e isso não somente por questões acadêmicas, mas determinantemente morais e emocionais.   

Ocorre, no entanto, que todos são influenciados pelo meio e muitas das mazelas morais e emocionais dos educandos, especialmente no setor público de educação, advêm do seu seio familiar e do meio de vivência em geral. O bom educador precisa estar disposto a interferir também nesses meios e, para isso, é bom que conte com a ajuda de profissionais especializados, como assistentes sociais, educacionais e psicólogos cognitivos e educacionais.

O bom educador deve formar indivíduos que pensem de forma complexa sobre todas as questões, inclusive e principalmente as morais. É preciso, por exemplo, ensinar que é interessante se esforçar e ser bom no que faz, mas não é necessário competir, ver o outro como um adversário. Educar o indivíduo para ser dedicado, disciplinado, corajoso, mas colaborativo, atencioso ao próximo e amoroso, é algo complexo, que exige um verdadeiro mestre moldador de caráter.

O bom educador deve preparar os indivíduos para exercerem o poder, quando o tiverem, para saberem, como dito, que ele é neutro, de modo que cada um possa se preparar ao longo da formação educacional para utilizá-lo em benefício do todo social, sobretudo daqueles que mais necessitam.

Esse tipo de educação moral é mais importante do que ser um ótimo conhecedor da Língua Portuguesa ou ter um raciocínio lógico-matemático que ganha Olimpíadas. Isso também é interessante, mas a formação de caráter é algo muito difícil de mudar mais tarde e que determina comportamentos capazes de definir gravemente a vida das pessoas.

O educador tem se preocupado muito com o acadêmico, com mostrar conhecimento e empurrá-lo aos educandos. Ele precisa também se tornar um mestre, um hábil desenvolvedor das inteligências interpessoal e intrapessoal, que, como visto nos textos sobre Aprendizagem Socioemocional, são até mais importantes do que a inteligência acadêmica em provas e nos trabalhos na vida adulta.

Um bom educador desenvolve as múltiplas inteligências. Ele prepara seres humanos para uma vida equilibrada, de paz, feliz e, portanto, promissora. A educação atual tem formado uma imensidão de desequilibrados, ansiosos, deprimidos e corruptos, deficiências emocionais e morais que perduram mesmo quando alcançam os objetivos que tinham almejado para si. É evidente que algo está errado!  

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