Saúde LGBT+

Precisamos falar sobre o “passar cheque” durante o sexo

Isso é algo que pode ocorrer eventualmente e deve ser tratado de forma natural entre os parceiros

Foto: Ketut Subiyanto/ Pexels.
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Em outros textos desta coluna, abordamos diversos cuidados para a prática do sexo anal de forma segura. (Relembre os textos “Sexo anal: quais os cuidados básicos e necessários para quem pratica?” e “Tudo sobre a chuca: cuidados com a lavagem antes do sexo anal“). Uma das grandes preocupações de quem gosta de sexo anal é o medo de ocorrer algum acidente com fezes na hora do coito. Popularmente conhecido como “passar cheque”,  costuma ser uma experiência bastante desagradável para ambos os parceiros.

A produção de fezes pelos nossos intestinos é algo que não podemos impedir. Mesmo que fiquemos em jejum por um período, a própria descamação da mucosa intestinal já pode produzir resíduos de fezes. Entretanto, há algumas medidas que podem regularizar seu hábito intestinal e predizer um pouco a presença de fezes no seu reto, que é basicamente onde ocorre a penetração durante o sexo anal. Quando sentimos vontade de fazer cocô, é porque as fezes chegaram na sua ampola retal, que é o final do intestino grosso. Após evacuar, essa vontade passa e a ampola tende a esvaziar, porém ainda podem ficar alguns pequenos resíduos de fezes.

O hábito intestinal é algo muito particular e individual. Algumas pessoas ficam dias sem evacuar, pois são mais constipadas, e outras chegam a evacuar duas a três vezes ao dia, o que ainda é considerado normal. Uma dieta balanceada, com fibras, sem excesso de alimentos embutidos, gordurosos e fermentativos podem ajudar a regularizar seu ritmo intestinal, sendo que muitos até conseguem prever um horário preferencial do dia  para ir ao banheiro. Para quem tem o intestino preguiçoso, a introdução de fibras na alimentação como o Psyllium, a linhaça, a aveia e o farelo de trigo pode auxiliar nesse processo. Outra opção são os probióticos, que nada mais são que bactérias boas que habitam nosso intestino e também contribuem para regularizar o hábito intestinal.

Horas antes de uma relação anal é importante evitar alimentos que produzem muitos resíduos e gases, ou que estimulem a peristalse, que são os movimentos intestinais. Dentre eles podemos citar feijão e outros grãos, alimentos gorduroso, leite e derivados, café e chocolate. A lavagem retal, conhecida como “chuca”, pode auxiliar a retirar os resíduos de fezes que sobraram no reto. Lembrando que essa lavagem deve seguir alguns cuidados que já falamos no artigo sobre chuca.

Alguns produtos têm sido vendidos com a promessa de auxiliar nesse processo, te deixando “mais limpo” (Pureformen®) e “sem necessidade de fazer a chuca” (Xô Xuca®). Esses produtos nada mais são do que cápsulas contendo fibras e probióticos como o Psyllium, semente de chia, semente de linho e aloe vera, que ajudam na formação do bolo fecal e diminuem a quantidade de resíduos no intestino, o que pode contribuir na diminuição do risco de acidentes na hora do ato. Porém, deve-se atentar que tais produtos não são milagrosos e que, eventualmente, a presença de fezes na penetração anal pode ocorrer mesmo com o seu uso.

Esse medo de “passar cheque” muitas vezes acaba atrapalhando a qualidade do sexo dos praticantes. Como foi falado, a produção de fezes é algo incontrolável e a adoção de medidas descabidas para evitá-las pode acarretar em sérios riscos à sua saúde. Permanecer longos períodos em jejum ou ingerindo apenas líquidos, realização de diversas lavagens intestinais e com grande quantidade de água e o uso de medicações que diminuem os movimentos intestinais, como a loperamida (Imosec®), são alguns exemplos de atitudes desesperadas para que não ocorra acidentes com fezes.

Essa presença de fezes na hora do sexo é algo que pode ocorrer eventualmente, e isso deve ser tratado de forma natural entre os parceiros. A cobrança do ativo para que o passivo esteja sempre “limpo” e o próprio medo e vergonha do passivo com o ocorrido levam a um estresse desnecessário. Caso ocorra, leve na esportiva: troque o preservativo, higienize-se e, se ainda estiver com tesão, recomecem o ato sexual. No caso das pessoas com vagina, evite introduzir o pênis ou acessórios como os “packers” no ânus antes de introduzir na vagina, sem que seja feita a troca do preservativo ou feita a higienização adequada para evitar infecções urinárias e corrimentos vaginais. Para os ativos, quando ocorrer a penetração sem o preservativo, é importante urinar depois do ato para evitar infecção de urina e na uretra.

Medidas saudáveis para diminuir o risco de acidentes com fezes são sempre bem-vindas. Entretanto, a apreensão desnecessária e medidas desesperadas para evitar o cheque devem ser evitadas. Afinal, quem penetra e quem é penetrado sabem muito bem o que pode ocorrer ao se penetrar um ânus.

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