Saúde LGBT+
Novembro Azul: como prevenir o câncer de próstata em mulheres trans
Mesmo quem passa pela cirurgia de redesignação sexual pode desenvolver a doença. Confira alguns cuidados importantes


No mês de novembro, o mundo todo fica atento às importância de detectar precocemente o câncer de próstata. A doença é a segunda mais comum em pessoas com pênis, perdendo apenas para o câncer de pele.
Na maioria dos casos, o câncer cresce de forma tão lenta — leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm3 — que não apresenta sintomas. Alguns tumores, contudo, podem crescer rapidamente e se espalhar para outros órgãos. Por isso a detecção precoce é importante: aumenta muito as chances de cura.
Quase sempre, a estrela das campanhas de Novembro Azul são os homens cisgênero. Por isso, trouxemos informações importantes para as mulheres trans, travestis e pessoas não-binárias.
Vale lembrar: mesmo quem passa pela cirurgia de redesignação sexual continua possuindo próstata.
O que muda na saúde urológica?
As mulheres trans que fazem terapia hormonal consomem por tempo indeterminado remédios que bloqueiam a testosterona. A baixa nesse hormônio, por provocar uma diminuição da próstata, oferece um fator de proteção contra esse tipo câncer.
Mas, quando o tumor aparece, tende a ser mais agressivo, pois surgiu e se desenvolveu mesmo com o seu substrato principal, a testosterona, em baixa.
Este tipo câncer é comum?
Na literatura médica, a incidência do câncer de próstata entre mulheres trans é baixa, cerca de 0,04%.
Por conta desses riscos, e pelo fato de as pesquisas com mulheres trans serem ainda escassas, não se pode deixar de investigar o câncer de próstata.
Outro ponto importante: muitas vezes, o tratamento hormonal não é feito com acompanhamento médico adequado. E a flutuação dos níveis hormonais pode aumentar o risco do câncer de próstata.
O rastreamento é tão necessário quanto para os homens cis?
Para as mulheres trans que não fazem terapia hormonal, é recomendado o rastreamento rotineiro, igual ao dos homens cis. A avaliação é indicado a partir dos 50 anos ou a partir dos 45 anos caso haja casos da doença na família.
O diagnóstico é feito todo ano, por exame de sangue e/ou toque retal. Em ambos os exames, o médico deve considerar parâmetros clínicos e particularidades anatômicas da paciente.
Em termos de saúde pública, por conta da baixa incidência, a necessidade de lançar campanhas voltadas para mulheres trans ainda é um questão em aberto.
Mas a população trans vem crescendo no Brasil e no mundo, e o acesso efetivo à saúde ainda é um desafio. Homens e mulheres trans têm de lidar com a discriminação nos serviços de saúde, a falta de preparo dos profissionais.
Também faltam políticas específicas de atenção básica e mais integração desses primeiros cuidados com serviços de alta complexidade.
Com mais acesso à saúde, mais conheceremos as necessidades e particularidades dos transsexuais. E melhor cuidaremos deles e delas. Temos muito a evoluir.
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