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Ciências exatas não é só para quem é bom em matemática

Aliás, o que é ser bom em matemática?

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As pessoas costumam associar que quem gosta ou tem facilidade com matemática necessariamente vai seguir carreira em alguma ciência exata, pois a facilidade com a matemática dá essa “permissão”, mas será que isso é verdade? Será que cursos como de computação, engenharia são realmente para quem gosta e tem facilidade com matemáticas e afins?

Ao longo destes 24 anos estou me questionando muito se realmente quem é bom em matemática necessariamente vai cursar algum curso da área de ciências exatas, ou melhor, se aquela pessoa que não se dá tão bem em matérias como essas na escola, se elas realmente não devem cursar ou trabalhar em áreas de ciências exatas. Quem define isso? A sociedade? A pessoa? O professor da escola? Bom eu acho uma discussão muito complexa que envolve diversos fatores. Esta discussão junto com o avanço das tecnologias ajudou no crescimento de cursos multidisciplinares, como, por exemplo, cursos que misturam a área de biologia com a área de informática, como Bioinformática e Informática Biomédica, onde a galera tem aula de Anatomia, Bioquímica e até Programação Paralela e Redes de Computadores.

Pensem comigo: se as crianças e adolescentes tivessem como misturar as áreas ainda na escola de uma forma que pudessem visualizar a importância das duas em resoluções de problemas. Podemos pensar em aulas de robótica muito comuns em escolas hoje em dia, nestas aulas costumam utilizar robôs para resolver exercícios de geografia à matemática. Será que os alunos nestas atividades se separam entre humanas e exatas?

Podemos pensar também como os filósofos e artistas criavam relações entre as matérias, como por exemplo Pitágoras, que nasceu por volta de 570 a.C., na região da Magna Grécia, além de matemático e um importante filósofo, o que muitos desconhecem é que Pitágoras também foi um dos primeiros gênios da música. Ao unir razão e percepção, decidiu por investir seu tempo em descobrir a medida da percepção sonora, usando um monocórdio (instrumento musical de uma única corda, com formato semelhante a lira), ele investigou o que acontecia ao dividir o comprimento da corda e percebeu que os sons agradáveis surgiam somente quando a corda era dividida na razão de pequenos números inteiros.

Pitágoras demonstrou que utilizando a música é possível ensinar origens e fenômenos do mundo. Não é isso que aprendemos, né? Resumimos Pitágoras ao seu famoso teorema ( a2 = b2+c2), imagine aprender este teorema a partir da música, a diferença que faria para os alunos que querem seguir carreira na música. Eles não se sentiriam mal na escola pois seria visível a importância da matemática para a sua carreira.

Eu citei um exemplo, mas existem vários, desde Picasso com a sua Arte até Mãe Beth de Oxum em Pernambuco com os Contos de Ifá, que é um projeto que usa games para resgatar mitologias e histórias de matriz africana. Eles fazem isso ensinando jovens de periferia a fazer estes games.

Olha a grandiosidade deste projeto e a sua importância para o contexto da sociedade atual. Precisamos desta pluralidade.

Eu gostaria de escrever muito mais sobre este assunto, pois compreendi a importância do seu debate, não só para quem está na graduação entender que o curso que está fazendo nas áreas de ciências humanas, biológicas têm tanto valor quanto as ciências exatas, como também para os alunos que ainda estão na escola entenderem que “não são ruins em matemática”. Já escrevi outras vezes aqui sobre o valor de ensinar determinadas matérias com exemplos do dia a dia, mas hoje a mensagem é ensinem as matérias mostrando as suas relações com outras matérias também.

Estou deixando algumas perguntas no texto propositalmente pois precisamos refletir sobre o papel na construção da sociedade, se estamos separando nossos filhos, alunos e pessoas em ciências humanas e exatas, estamos ajudando na segregação do conhecimento e na falta de criatividade na resolução de problemas. Como puderam perceber todo mundo no final das contas está um pouco em cada uma das ciências. E não, ciências exatas não é só para quem é bom em matemática na escola. Aliás, o que é ser bom em matemática mesmo?

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