Depois de passar com sucesso pelo Rio de Janeiro, a campanha Da Proibição Nasce o Tráfico, que defende a legalização das drogas, foi banida em São Paulo. Os cartazes, que trazem charges de cartunistas como Angeli e Laerte, chegaram a ser exibidos nas traseiras de ônibus de São Paulo na quarta-feira 27, mas em seguida foram retirados de circulação.
Idealizadora da campanha, a socióloga Julita Lemgruber atribuiu a censura ao “governo de São Paulo”. “A empresa com a qual eu havia assinado contrato para veiculação dos cartuns retirou todo o material das traseiras dos ônibus ontem à noite. Estamos considerando alternativas judiciais”, escreveu Lemgruber em seu perfil no Facebook nesta sexta-feira 29.
Na quinta-feira 28, Lemgruber afirmou que a proibição foi bancada pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), que responde ao governo de Geraldo Alckmin (PSDB). “Uma pessoa do serviço de transporte abordou esse funcionário (da empresa de publicidade) e praticamente o ameaçou”, afirmou ela ao portal Terra. “Disse que em São Paulo essa campanha não iria acontecer, que a campanha significa um desrespeito ao policial e ao cidadão, que em São Paulo não querem apologia às drogas”, contou Julita.
Ao Terra, a EMTU atribuiu a retirada da campanha ao Consórcio Intervias, que administra parte das linhas de ônibus intermunicipais. O Intervias, por sua vez, informou ao portal que a campanha foi retirada pois a “EMTU não tinha ciência do conteúdo de cartazes relativos à campanha”, o que configuraria “descumprimento de cláusula contratual”.
Neste mês, Lemgruber contou a CartaCapital que teve a ideia da campanha após perceber, por meio de pesquisas, que a desinformação é grande a respeito da legalização das drogas. Segundo ela, boa parte das pessoas teme que o uso da droga aumente após a regulamentação. “Eles acham que vai ter um bando de zumbi pelas ruas atacando as pessoas”, disse. “O curioso é que 90% dos entrevistados que não utilizam drogas dizem não pretender fazer isso após a legalização.”
Primeira mulher a dirigir o sistema penitenciário do Rio de Janeiro, entre 1991 e 1994, Lemgruber avalia que as cadeias estão superlotadas porque a “guerra às drogas” falhou ao encarcerar pequenos infratores e deixar do lado de fora os traficantes que operam esse mercado bilionário na ilegalidade.
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