Economia

Bem-estar social, política industrial e teoria do caos

Ações individuais socialmente benéficas podem causar ações que beneficiam todo o coletivo

Analistas apontam incapacidade do País de encontrar motores internos que sustentem crescimento
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Sempre existiu a necessidade de que os economistas tivessem uma consciência mais apurada em relação aos impactos negativos que a falta de atenção com os problemas sociais implicam, tanto para o crescimento como para o desenvolvimento econômico. Assim, cabe reconhecer que o papel do Estado na mitigação dessas mazelas e na geração de oportunidades é um aspecto fundamental para que sejam destravados os mecanismos de inserção econômica de uma parcela significativa da população, hoje desassistida. Não se trata de uma postura paternal por parte do Estado, como muitos argumentam, mas sim de uma tratamento equânime entre os membros da sociedade e a garantia da dignidade humana.

No sistema de mercado os agentes considerados dominantes estão dispostos a utilizar ferramentas de coerção e persuasão para que suas ideias também se tornem dominantes. Os acontecimentos econômicos deixam essa ideia mais clara. Quando da crise da Covid-19, existiu a necessidade de que cidades inteiras ficassem em quarentena por um período considerável. Como se sabe, a restrição de circulação das pessoas é algo extremamente prejudicial para uma economia de mercado e, nesse sentido, não faltam casos de indivíduos empresariais e políticos que advogaram “em favor do vírus” para que os seus interesses financeiros não fossem ainda mais abalados.

A falta de atenção com as necessidades públicas faz com que o setor privado seja prejudicado em desempenho. Isso se dá pela integração existente entre a coisa pública e o setor privado. As empresas precisam de empregados qualificados e com habilidades técnicas cada vez mais específicas para que os seus processos organizacionais possam ser executados com mais produtividade. Entretanto, hoje o Brasil vive uma verdadeira inviabilização dos potenciais de sua população economicamente ativa, com um retrocesso gigantesco em termos do investimento na educação – seja ela básica, profissionalizante ou superior.

A cada ano as necessidades competitivas do mercado fazem com que a infraestrutura, financiada na maior parte pelo Estado, acompanhe os padrões de inovação e tecnologia existentes nas cadeias globais de produção e comércio (conexão a internet com alta velocidade, distribuição de energia a baixo custo e estável, utilização de softwares e linguagens de programação etc.). Podemos citar o exemplo do 5G: a partir do momento em que um determinado país assume essa tecnologia e mostra que ela alavanca a produtividade, outros países precisam também adotar essa tecnologia para que continuem competitivos e atendam as demandas da sociedade.

Levando em consideração o cenário internacional e os desafios domésticos,  é preciso que o Brasil assuma um planejamento estratégico, baseado em evidências e participação popular, para definir qual será o país do futuro que começará a ser construído no presente. Dessa maneira, é crucial que o debate de política industrial em torno de setores da atividade econômica – indutores no sentido de gerarem renda nova – seja ampliado nos níveis nacional e subnacional. 

O Brasil precisa atuar para que as sinergias observadas entre diferentes indústrias possam construir adensamentos e estimular o desenvolvimento regional (como é caso do complexo econômico-industrial da saúde, da economia da cultura, de uma estratégia nacional de inteligência artificial bem estruturada,  da economia do mar, economia verde etc). 

Por fim, a justiça social e a solidariedade devem pautar o direcionamento das políticas públicas e das ações individuais, entendo-se que o bem-estar coletivo não é o oposto do bem-estar individual, e sim uma forma de expansão do mesmo. A partir do momento em que os agentes políticos criam possibilidades de melhoria das necessidades coletivas, o ciclo de melhorias individuais pode se tornar mais forte, gerando benefícios individuais claros. 

À luz da teoria do caos podemos entender a forma pela qual ações individuais benéficas para o coletivo impactam de forma significativa tanto o ente privado como o público, sendo o contrário também verdadeiro. Da mesma forma que o absurdo de o bater de asas de uma borboleta pode influenciar a natureza e gerar um tornado no outro lado do planeta, também podemos imaginar que ações individuais socialmente benéficas podem causar ações que beneficiam todo o coletivo. 

 

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