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O retorno de Cristiane é esperança para o futebol feminino brasileiro

Ela luta pelo espaço da mulher no futebol, tornando-se referência e inspiração aqui e no mundo

A atacante Cristiane
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A multicampeã Cristiane Rozeira, 33 anos, retorna ao futebol do Brasil para ajudar na reativação da equipe feminina do São Paulo. A atleta foi atraída, principalmente, pela proximidade da sua família e a estrutura do clube tricolor. Além da atacante, o elenco também contará com a combinação da experiência de algumas jogadoras e a juventude de outras atletas para disputa da série A2 do Campeonato Brasileiro.

A contratação de peso se deu no cenário da obrigatoriedade determinada pela Conmebol e CBF, no final de 2016, aos times brasileiros que disputam a série A do campeonato nacional apresentarem programas de investimentos e incentivos ao futebol feminino em seus clubes, incluindo a atividade de equipes formadas exclusivamente por mulheres.

Desde 2017, Cristiane atuava no Changchun, da China, mas estava afastada dos campos havia alguns meses, se recuperando de lesão sofrida durante um treinamento pela seleção brasileira. No seu vitorioso currículo também constam passagens por Corinthians, Santos e PSG; incluindo diversos títulos conquistados.

A experiente atleta, além do importante dever de defender a camisa de um dos maiores times do Brasil, também terá a enorme missão de fortalecer o futebol feminino no país, atrair investimentos ao esporte e aumentar a visibilidade da modalidade. Superando o ainda tímido, discreto e desprestigiado reconhecimento da categoria.

Sem contar que, indiretamente, a ídolo da seleção também ajudará a solidificar o espaço das jogadoras brasileiras frente ao machismo que ainda é bastante presente, dentro e fora das quatro linhas.

Antes de se consolidar na carreira, a maior artilheira olímpica enfrentou as dificuldades e preconceitos recorrentes às mulheres que se entregam ao mundo da bola. Cristiane sofreu com piadinhas machistas enquanto “batia uma pelada” com a molecada da vizinhança e os ataques intolerantes perduraram na vida adulta, quando decidiu se profissionalizar no futebol. Diversas vezes escutou que o esporte não era coisa de mulher, lidou com apelos para mudar de profissão e ficou frente aos questionamentos sobre sua capacidade futebolística.

Somadas a essas injúrias, a atleta também se defrontou com as dificuldades que a categoria enfrentava (e ainda enfrenta) no Brasil. Entre elas: falta de visibilidade, ausência de estruturas, desequilíbrio salarial comparado à modalidade masculina, desinteresse de investidores, carência de profissionalização, escassez de público, baixa tradição; dentre tantos outros.

Mas a jogadora não desanimou, transformou essa realidade em incentivo. E além da sua habilidade inquestionável, Cristiane lutou pelo espaço da mulher no futebol, tornando-se referência e inspiração para as novas gerações de atletas no mundo.

A centroavante foi impulsionada, especialmente, durante uma experiência que teve na Espanha, país que valoriza grandemente o futebol jogado por mulheres. Os clubes e patrocinadores investem fortemente em divulgações e marketing, atraindo milhares de torcedores aos jogos da modalidade no país. Tanto que no clássico espanhol entre Atlético de Madrid e Barcelona, há algumas semanas atrás, mais de sessenta mil pessoas compareceram ao estádio madrilenho. Por outro lado, nas partidas de estreia do Campeonato Brasileiro de futebol feminino no Brasil, menos de um sexto desse público foi registrado, mesmo as entradas sendo gratuitas. Evidenciando o quão invisível ainda é a categoria feminina no país do futebol.

É essa a mudança almejada para a categoria brasileira. E dessa forma, atletas de renome como Cristiane têm papel fundamental no desenvolvimento, reconhecimento e aceitação do futebol feminino no Brasil. Para isso, o seu objetivo com a disputa do campeonato nacional, é atrair patrocínios, mídias e torcida. Além de deixar um legado para as jovens meninas que estão iniciando a carreira. E nada melhor do que estar em solo brasileiro para batalhar por essa renovação e materialização.

Logo, a exigência da Conmebol e CBF, junto da estrela Cristiane, ajudarão a dar um gigante empurrãozinho para o futebol feminino brasileiro.

Cristiane veste a camisa de número onze do tricolor paulista e nesse primeiro semestre se divide na disputa do campeonato estadual e nacional. A vitoriosa também atuará pela seleção brasileira na Copa do Mundo da França, que começa em junho próximo, inclusive será a sua última participação na competição.

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