Midiático

Um olhar crítico sobre mídia, imprensa, internet e cultura pop.

O estranho caso do habeas corpus a favor de Lula

Ronaldo Caiado (DEM-GO) conseguiu um inusitado acesso em primeira mão ao pedido; em 2010, o 'consultor' que criou constrangimento a Lula saiu em defesa de jornalista crítico do ex-presidente

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) conseguiu um inusitado furo de "reportagem"

Apoie Siga-nos no

A cobertura jornalística das investigações da Operação Lava Jato foi afetada nesta quinta-feira 25 pelo que parece ser um factoide, notícia criada com o intuito de atrair a atenção da opinião pública. O próprio juiz federal Sérgio Moro, responsável por analisar a Operação Lava Jato, emitiu nota afirmando que não há investigações sobre Lula no âmbito da operação.

Na quarta-feira 24, Justiça Federal no Paraná, onde transcorre sob os cuidados do juiz Sergio Moro a investigação contra os acusados de corrupção sem direito a foro privilegiado, recebeu um pedido de habeas corpus preventivo em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na manhã desta quinta, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que tem entre suas propostas a extinção do PT, divulgou o pedido de HC por meio das redes sociais. Ao divulgar a existência do HC em primeira mão, o senador oposicionista se antecipou a jornalistas que participam da cobertura da Lava Jato há meses e têm contato direto com as autoridades e advogados envolvidos nela.


 

Às 11h25, a Folha de S.Paulo publicou notícia intitulada “Lula pede à Justiça para não ser preso por juiz da Operação Lava Jato”. Mais tarde, diante da negativa do Instituto Lula sobre a autoria do pedido, o jornal alterou o título de sua reportagem para “Habeas corpus preventivo pede que Lula não seja preso na Lava Jato”. Mais tarde, assumiu o erro (veja o tweet abaixo)

No início da tarde, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que o autor do pedido é Mauricio Ramos Thomaz, de Campinas (SP), “que se apresenta como consultor”. Posteriormente, a Justiça confirmou a informação sobre a autoria do pedido.

Thomaz tem um histórico de intervenções curiosas em processos judiciais de cunho político. Segundo o Valor Econômico, ele fez pedidos liminares a favor de Marcos Valério e de Simone Vasconcelos, ambos condenados no processo do “mensalão”. Em 2010 e 2011, Thomaz também fez pedidos na Justiça em favor do jornalista Diogo Mainardi, ex-revista Veja.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, Thomaz disse que não tem contato com Lula e que só apertou a mão do ex-presidente uma vez em 1982. Ele também confirmou já ter emitido Habeas Corpus em favor do ex-diretor da área Internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, e o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

Às 12h, o Instituto Lula divulgou a nota “É falsa a notícia de que ex-presidente entrou com pedido de habeas corpus em Curitiba”, com o seguinte teor:

Esclarecemos que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não entrou com o pedido de habeas corpus impetrado em Curitiba, no dia 24/6/2015. Lembramos que esse tipo de ação pode ser feito por qualquer cidadão. Fomos informados pela imprensa da existência do habeas corpus e não sabemos no momento se esse ato foi feito por algum provocador para gerar um factoide.

O ex-presidente já instruiu seus advogados para que ingressem nos autos e requeiram expressamente o não conhecimento do habeas corpus.

Estranhamos que a notícia tenha partido do Twitter e Facebook do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).”


Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.