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House of Mãe Joana: um ‘viva os malucos’ para os tempos de Bolsonaro

A Banana Republic Original Series (ou o resumo semanal do hospício, porque este Brasil deixou de ser sério faz tempo)

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Sinopse. No mais novo episódio da série, Carluxo está depressivo. Como a popularidade de papai vai num decrescendo, sente-se acossado por “grupelhos” com “motivos cada vez mais claro$”. De licença do trabalho, o único vereador federal da República dedica-se agora a combater um inimigo mais perigoso do que as mamadeiras de piroca – as “vias democráticas”. A correr por fora, Luciano Huck rouba o papel da colega Regina Duterte, aquela que sente medo, e abraça de vez a causa do salvamento da pátria. Enquanto isso, desde a zona rural de Richmond, onde se dedica à caça do urso, o Napoleão de hospício Olavo de Carvalho alerta o mundo para a grande fraude: as canções dos Beatles, a bem da verdade, foram compostas por Theodor Adorno. Viva os malucos! Toca Raul!

O apresentador de televisão Luciano Huck, melhor amigo de Aécio Neves, foi a grande estrela de um evento da Exame. Segundo a própria revista, que é controlada pelo banco BTG Pactual, o incrível Huck foi aplaudido de pé ao misturar uma dose de Regina Duarte, ops, Duterte a pitadas de Mano Brown. O cardápio foi mais ou menos este: 

“A desigualdade é gritante. Se não fizermos nada, o País vai implodir. Quero ser um cidadão cada vez mais ativo para que o País se torne mais eficiente, mais afetivo e menos desigual. Mas a gente não vai reduzir a desigualdade só conversando com brancos na Avenida Brigadeiro Faria Lima. Favela virou paisagem e não pode”

Nos anos 1990, ao comentar sobre o Bar Cabral, nos Jardins paulistanos, do qual era sócio, apresentou a receita para atingir a plena igualdade.

“Uma coisa eu digo: baiano aqui não entra”

Serve a Carluxo o bordão do estiramento muscular. Diante da queda de popularidade de papai, sentiu.

“O governo Bolsonaro vem desfazendo absurdos que nos meteram no limbo e tenta nos recolocar nos eixos. O enredo contado por grupelhos e os motivos cada vez mais claro$ lamentavelmente são rapidamente absorvidos por inocentes. Os avanços ignorados e os malfeitores esquecidos”

Licenciado da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Carluxo está em litígio com as “vias democráticas”, que elegeu como culpadas por esse modess absorvente de inocentes.

“Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos… e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes”

A economista Laura Carvalho também pareceu saudosa de outros tempos.

“Bons tempos aqueles em que a gente não entendia os tuítes do Carluxo.”

Na condição de novo professor da Universidade Harvard, Jean Wyllys foi quem melhor tipificou a doença.

“Maldito! Você, seu pai, seus irmãos, seus ministros e suas milícias representam para a democracia brasileira aquilo que células cancerígenas representam para um corpo sadio”

Ciro Gomes, por sua vez, preferiu recorrer ao baixo clero do Reino Animal.

“Esse rapaz é um percevejo desses que infestam a vida política brasileira e não mereceria qualquer tipo de reflexão. O problema é que ele é filhote do Bolsonaro (…) É preciso que todos nós cobremos do Bolsonaro uma declaração explícita, clara, se esse menino está falando mais uma bobagem, mal-amado que é”

A atriz Patrícia Pillar compartilhou no Twitter um texto de opinião do Intercept que apontava o PT como agente da desunião das esquerdas. Um gaiato de nome Flávio Hollanda, segundo seu perfil “só mais um corneteiro”, resolveu tocar seu instrumento para a ex de Ciro Gomes:

“Tinha até me esquecido que o Haddad negou juntar chapas e viajou pra Paris no segundo turno”

Patrícia então chutou o pilar da barraca. 

“Tinha até me esquecido que, mesmo sabendo que Haddad não tinha chances, o PT não abriu mão da cabeça de chapa, deixando o Brasil à beira do precipício”

A que respondeu Roberta Luchsinger, ex de Protógenes Queiroz, herdeira e neta do ex-banqueiro suíço Peter Paul Arnold Luchsinger:

“Vc bebeu ou usou alguma droga? Para que tá feio né minha senhora! (sic)”

Inconformado com a censura do prefeito Crivella à Bienal do Livro do Rio de Janeiro em razão do beijo gay que aparece em um quadrinho da Marvel, o youtuber Felipe Neto comprou e distribuiu gratuitamente, na mesma Bienal, 14 mil títulos de temática LGBT+. A deputada federal Carla Zambelli, do Partido Só de Laranjas, indignou-se. Claro que a culpa é do PT

“Pesquisa de 2018 do Ministério da Saúde mostra que os casos de HIV entre jovens gays de 15 a 19 anos TRIPLICARAM entre 2006 e 2015 (na era PT). E ainda tem gente que acha que esfregar homossexualidade na cara de crianças vai ajudar os gays em alguma coisa”

A deputada concluiu sua mensagem, publicada no Twitter, com #FelipeNetoLixo. 

Casado com o deputado federal David Miranda, o jornalista Glenn Greenwald comentou a publicação de Zambelli. Como lugar de lixo é no lixo, tratou de realocar o dejeto.

“Não tenho palavras para lixo assim. Um movimento impulsionado exclusivamente pelo ódio e pelo preconceito pode vencer 1 ou 2 eleições, mas apenas se autodestruir. Já estamos vendo isso enquanto eles entram em guerra um contra o outro. Que continue”

Atenção para as notícias do hospício: Olavo de Carvalho, o Napoleão, denuncia os Beatles como farsantes. Suas canções teriam sido compostas pelo filósofo (musicista e compositor) Theodor Adorno. 

“A ligação de Theodor Adorno com o Instituto Tavistock e com o fenômeno Beatles está em discussão há décadas, mas, para a mídia e os sábios de Vila Nhocuné é uma novidade inventada por mim”

Como a House of Mãe Joana não vive apenas da política, fechemos com a avaliação do expert em ludopédio, o ex-jogador Carlos Alberto, em mesa-redonda da Fox Sports.

“O nível do Flamengo hoje é muito bom. Vamos falar de nível técnico? Traz o Real Madrid para jogar a série B aqui. Eu afirmo para vocês que ele não ganha”

É o conhecido complexo de pastor-alemão.

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