Sinopse. No mais novo episódio da série, a musa do impeachment, Luana Piovani (tudo bem, esse título é da Janaina Paschoal), revela a dura vida da ativista que, para fugir do socialismo, migrou para um país governado por socialistas (onde, enfim, pôde se dedicar a fazer posts de biquíni). No núcleo manicomial da trama, conheça o antissecretário de Direitos Humanos da PGR. Mas será o Benedito? Ele mesmo! A conspirar contra índios e negros, o vice Hamilton Mourão propõe o resgate das capitanias hereditárias, dos bandeirantes e dos senhores de engenho. Mas quando esse pessoal deixou de existir, general? E, na mais surpreendente guinada narrativa, a Lava Jato agora grita “Lula Livre”. E a esquerda, “Lula tá preso, babaca!”
A vergar a camisa da CBF, a atriz Luana Piovani apoiou o golpe contra Dilma Rousseff. Livre da esquerda, mas desgostosa com os rumos do País, fez como alguns de seus pares da direita – foi viver onde presta, em Portugal, sob um governo de esquerda. Esta semana, desde além-mar, falou sobre a sua curta carreira de ativista:
“Cara, me dava um trabalho ser cidadã no Brasil… Eu queria postar foto do meu filho, tinha que postar negócio da Amazônia, dos golfinhos, do tubarão, do Leonardo Di Caprio, era o gay não sei o que lá, e vamos para a manifestação a favor do LGBTUVXZ… Meu Deus do céu, dá muito trabalho! Não sobrava nem tempo para postar eu bonita de biquíni”
Certo está o escritor Sérgio Rodrigues ao comentar a escolha do antissecretário de Direitos Humanos da Procuradoria-Geral da República, Ailton Benedito:
“Faz tempo que está claríssimo o método. Secretários e ministros são escolhidos por seu potencial de estrago para a área em questão. Somos um país dedicado à demolição”
Pois veja o pensamento vivo do futuro secretário a respeito dos Direitos Humanos, uma amostra da extensa lista de tuítes do mesmo tipo organizada pelo Jota, portal dedicado a notícias e análises do Judiciário. Segue o fio:
“Os direitos humanos foram capturados pela hegemonia esquerdista, inclusive aboletada nas instituições do Estado, para fazer prevalecer a pauta política de supostas minorias, as quais, no mais das vezes, são usadas e descartadas, sempre em prejuízo dos direitos humanos universais”
“Semáforos de pedestres da Av. Paulista vão mostrar bonecos de casais homossexuais. Dizem que homossexualismo não é doença. Até aí, pode ser que sim, pode ser que não. Mas é doentia a fúria com que a militância ideológica tenta transformar o homossexualismo em nova ordem social”
“Operação no Rio apreende 30 armas e 5 toneladas de drogas. Segundo os bandidólatras e democidas, essa operação ‘não resolve o problema das drogas’, e ofende os ‘direitos humanos’ de inocentes criminosos vítimas da sociedade.”
E esta última, ao comentar a suspensão, pelo Conar, de uma propaganda de móveis com mulheres peladas:
“Se a moça fosse negra, transexual, índia, feminista, abortista, islâmica, feia etc., o Conar não teria coragem de censurar a propaganda”
O ministro da Educação não gosta da ideia de… educação.
“Temos lá no nosso mindset um monte de ideias erradas. A começar por essa aqui, ó: educação. Quem educa é a família, A gente ensina. Ensina a ler, ensina um ofício”
Em evento organizado por um sindicato patronal do ensino superior privado, só podia, Abraham Weintraub ainda criticou a cor vermelha de um painel e o salário dos professores das universidades federais. Disse também que “foi um desígnio de Deus o presidente (Bolsonaro) não ter morrido” depois da facada. Enquanto a caravana dos estudantes segue resistindo aos processos do leitor de “Kafta”, Weintraub ladra:
“Soltaram o Abraham do canil sem enforcador, agora vão ter que escutar”
Depois de ter confessado que premeditou o assassinato de Gilmar Mendes, seguido do próprio suicídio, Rodrigo Janot veio a público pela primeira vez, no Twitter, para declarar o seguinte:
“Pecado”
O ex-PGR comentava um post do Atlético-MG informando a eliminação do time na Copa Sul-Americana, em disputa de pênaltis. Ao que respondeu um gaiato:
“Tá faltando um matador nesse time!”
O editor de jornal Jair Bolsonaro voltou a pautar os repórteres em frente ao Palácio da Alvorada.
“Quando vocês fizerem uma matéria real sobre o que aconteceu na ONU, eu dou uma entrevista, talquei?”
No mesmo local, ele também recomendou a estudantes que sugerissem aos seus professores a leitura de A Verdade Sufocada, do ex-chefe do DOI-Codi Carlos Alberto Brilhante Ustra. Menos, presidente: ler não precisa ser uma tortura.
O que não é o empreendedorismo quando se é amigo do rei, né não? Fale-nos mais sobre isso, general Hamilton Mourão.
“Na data de hoje, em 1532, o Rei D. João III criava as capitanias no Brasil. Descoberto pela mais avançada tecnologia da época, o País nascia pelo empreendedorismo que o faria um dos maiores do mundo. É hora de resgatar o melhor das nossas origens”
Mas não é só isso. Resgatando as capitanias hereditárias, “o melhor das nossas origens”, você leva também os trabalhadores escravos e o genocídio indígena. Mourão, ele próprio um descendente de índios, pode explicar melhor:
“Donatários, bandeirantes, senhores e mestres do açúcar, canoeiros e tropeiros, com suas mulheres e famílias, fizeram o Brasil. Só um povo empreendedor constrói um país dessas dimensões que segue o destino manifesto de ser a maior democracia liberal do Hemisfério Sul”
Não basta o óleo de peroba à cara de pau de Deltan Dallagnol, talvez seja necessário recorrer ao verniz náutico. Assim o chefe da Lava Jato comentou o sobre a prisão domiciliar do ex-presidente, pedida pelos procuradores:
“O ex-presidente Lula, como os demais, deve cumprir a pena, nem mais, nem menos, nem mais pesado, nem mais leve”.
À parte as estratégias, o chargista Duke ilustrou em seu Twitter o resumo de mais este episódio de House of Mãe Joana:
“O Brasil tá tão surreal que chegamos ao momento em que Deltan Dallagnol grita ‘Lula Livre’ e Gleisi Hoffmann responde ‘Lula tá preso, babaca!’”
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