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Com Amazônia e Bolsonaro em chamas, que tal invadir a Guiana Francesa?

No Twitter, o crime ambiental na Amazônia é revelador do nosso estado avançado de demência

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O Twitter é a rede social que mais se aproxima do conceito de Casa da Mãe Joana, a expressão que designa o lugar ou a situação em que tudo vale, e cuja regra primeira e última é não ter regra nenhuma.

A Casa da Mãe Joana remete a Joana I – a rainha de Nápoles que, refugiada na França no século XIV, achou por bem regulamentar os prostíbulos da cidade. Acabou por tornar-se o nome fantasia de tais estabelecimentos.

Sim, o Twitter pune os excessos e tem lá um estatuto. Mas o seu lugar é a Casa da Mãe Joana, seu bom funcionamento depende do caos e seu vírus só grassa na balbúrdia.

Agora, o crime ambiental na Amazônia oferece uma excelente oportunidade de ver esse cabaré em chamas. Como Michael Jackson, aposse-se da sua pipoca.

“Nossa casa está pegando fogo”, escreveu no microblog o presidente francês Emmanuel Macron. É vero. Mas a foto que acompanhava o post, primeiro episódio desta temporada de House of Mãe Joana, era de autoria de Loren McIntyre, fotojornalista da National Geographic morto… em 2003. Porra, Macron.

No mesmo dia, Zero Três, o diplomata sem diplomacia, postou um vídeo em que Macron é chamado de “idiota”.

No sábado, Bozo publicou foto do combate ao fogo com aviões. Mas infelizmente a ação se deu no incêndio da Chapada Diamantina, na Bahia, em 2015. Melhor fez o governador Wilson Witzel ao surgir em vídeo, também no Twitter, com seu baldinho de água: o Rio de Janeiro havia disponibilizado vinte bombeiros e dois drones.

Ainda no sábado, Bolsonaro respondeu ao comentário de um internauta que comparava a primeira-dama Micheque, 27 anos mais nova que ele, à esposa de Macron, 25 anos mais velha do que o presidente francês. “Não humilha kkkkkkkk”, escreveu Bozo, para quem é melhor sempre rir.

Nesse ínterim, o ministro Abraham Weintraub trouxe sua contribuição: “(Macron) é apenas um calhorda oportunista buscando apoio do lobby agrícola francês”, “Os franceses elegeram esse Macrón, porém, nós já elegemos Le Ladrón, que hoje está enjauladón… Ferro no cretino do Macrón”.

Uma reportagem do site DCM listou 33 erros de português em posts do ministro da educação nos últimos dois meses. E nessa contabilidade nem consta a metamorfose de Kafka em cafta.

Por fim, e como não há limites para a insânia, um certo Anderson Feitosa fez sucesso com uma proposta que teria como principal impeditivo o fato de as Forças Armadas só terem munição para uma hora de guerra.

Mas vá lá: “Se a Franca acha que pode intervir na Amazônia como se fosse território deles, que tal Bolsonaro começar a botar medo no Macrón e ameaçar uma conquista territorial da Guiana Francesa? Aí quero ver se Macrón não cala a boca. Quem me ajuda a subir a tag? #GuianaDoBrasil”.

Um gaiato lembrou bem: louco por louco, melhor se tivéssemos eleito o cabo Daciolo, que pelo menos é bombeiro.

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