Hempadão

A estúpida guerra às drogas

A política de repressão, sob nome de sob nome de ‘guerra às drogas’ não para de assombrar e exterminar as populações mais pobres

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O argumento da “necessidade de combater o crime” é simplista demais para justificar a forma como o tráfico de drogas é reprimido por forças policiais. Um elemento desta questão é bem didático e serve para explicar o problema: Operações que não desarticulam o narcotráfico, mas são celebradas pela apreensão de drogas ou morte de suspeitos são o pior retrato de uma política enxuga-gelo.

O Rio de Janeiro é um bom exemplo para uma análise sobre a insistência neste tipo de tática nas operações de “combate às drogas”. A polícia, comandada pelo governador Wilson Witzel (PSC), promove investidas sistemáticas em algumas favelas do Rio. Todo dia tem uma operação encurtando o sono – e às vezes a vida – da população mais pobre da cidade. E pior, isso acontece há décadas.

O pretexto raso da “necessidade de combater o crime” é o gatilho para tiros disparados por PMs que dão rasantes em um helicóptero. Ou de dentro do caveirão, que não se intimida nem quando precisa passar por cima de residências ou amassar a lateral de um automóvel particular. Some a isto as incontáveis invasões de residências sem mandado.

É um pacote de maldades de conhecimento público. Os telejornais se tornam repetitivos, com imagens de crianças deitadas no chão da escola esperando o cessar-fogo. Ontem foi na Cidade de Deus, hoje no Alemão e amanhã será na Maré. Pode anotar: o filme bizarro de terror e violência vai ser repetido na próxima semana.

Questionar a necessidade desta rotina trágica do trabalho policial não é um pedido para o Estado ser omisso no combate ao crime. Reconhecer o fracasso deste tipo de ofensiva pode ser um importante ato de proteção da vida. O caveirão, o helicóptero, as mortes e as apreensões não vão causar abalo significativo na operação do narcotráfico.

Quando o circo é desmontado, tudo volta a sua rotina. A boca de fumo é reaberta em poucos minutos. Nas escolas a situação é mais complexa. Educadores ficam no dilema de seguir funcionando com efetivo reduzido de profissionais ou de liberar os alunos antes do horário. É seguro jovens e crianças soltos em um território sob chuva de balas com calibre capaz de atravessar uma parede?

Mobilizar grande efetivo policial para a guerra às drogas também é um problema para as forças de segurança. Como diz aquela velha canção do O Rappa, “também morre quem atira”. Bandidos e policiais podem acabar juntos, resumidos em estatística de óbitos depois de uma operação na favela. Mortos pela insistência em um modelo de combate que fracassa há mais de 40 anos.

Uma parcela significativa da corrupção que deteriora as instituições policiais decorre da relação torpe entre policiais e traficantes. O “arrego” pago pelas bocas de fumo é uma prática tão habitual que hoje é reconhecida até nos discursos de quem é contra a legalização.

O principal ganho social com superação da guerra às drogas será o fim deste tipo de confronto. Um erro que já deixou muitas mortes, mas segue no plano de ações de muitos governantes. Uma insanidade que precisa parar.

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