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Talentos superam desafios em busca de reconhecimento

O Brasil é conhecido por ser o ‘País do futebol’, mas será que é mesmo?

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Vestir a camisa de um grande clube do futsal ou do futebol. Brilhar nos tatames e conquistar títulos. Ou, quem sabe, ainda, marcar um touchdown e classificar o seu time à próxima fase de uma competição estadual. Os sonhos são muitos e a realidade parecida, principalmente pela falta de incentivo, seja ele financeiro ou não. Em Erechim (cidade localizada a 370 km de Porto Alegre) mais de 13 modalidades esportivas são praticadas, mas nem todas recebem a devida atenção.

O Brasil é conhecido por ser o ‘País do futebol’, mas será que é mesmo? Ainda vemos alguns descasos com o esporte, especialmente quando ele é amador.

De acordo com o dirigente de futebol do N. Santin de Erechim – principal equipe amadora que disputa o Campeonato Municipal de Futebol de Campo, Alvize João Biason, as dificuldades dos times que disputam a competição são muitas. Segundo Alvize, atualmente a Secretaria de Esporte, Cultura e Turismo auxilia cedendo as bolas que são utilizadas nas partidas e também a arbitragem.

Além disso, cada clube é responsável por garantir o fardamento e também as despesas com os deslocamentos. “Muitas vezes as equipes responsáveis são formadas por trabalhadores. Muitos têm que tirar o dinheiro do bolso para poder lavar os uniformes e adquirir outros equipamentos. Muitas (equipes) estão desistindo por causa disso”, enfatiza Alvize.

Jogando no campeonato amador há cinco anos, Leonardo Feltrin Moreira já atuou no futebol profissional, e assim como muitos (atletas) também utiliza recursos próprios para adquirir equipamentos. “As dificuldades mais expressivas estão relacionadas a preparação, organização das equipes para disputar as competições. O atleta utiliza recursos próprios para comprar equipamentos pessoais como chuteiras, tênis e caneleiras. As equipes geralmente buscam patrocínio com empresas a confecção dos uniformes”, destaca o atleta.

Situações opostas  

Se falta incentivo para o futebol amador, não podemos dizer o mesmo quando o assunto é o profissional. O Ypiranga é o principal clube da Capital da Amizade. Além de disputar a Divisão de Acesso, o Canarinho participa do Campeonato Brasileiro Série C e já disputou a Copa do Brasil.

Segundo o presidente, Adílson Stankiewicz, apesar de não ter recebido incentivo pelo programa Pró-Esporte, até 2017 o clube e a Prefeitura mantinham um contrato onde o espaço do estádio Colosso da Lagoa era alugado para a diretoria de turismo. “Além disso, alugávamos a estrutura para uso do município. Nosso salão branco estava disponível para reuniões e eventos. As escolas agendavam e utilizavam os campos de futebol como atividades complementares da educação física, entre outras práticas que a prefeitura realizava”.

Em relação ao Pró-Esporte, o clube encaminhou um projeto no valor de 250 mil reais para a instalação das categorias de base sub17 e outro projeto referente a sub15 também está sendo realizado. De acordo com o presidente do Ypiranga, o projeto referente à categoria sub17 está concluído e o valor foi captado com as empresas. De acordo com Adilson, o projeto foi aprovado, porém, não foi iniciado por causa de um trâmite entre as secretarias da Fazenda. “É um acerto entre as secretarias da Fazenda que prorrogaram esse tipo de incentivo fiscal até o fim deste ano. Esperamos que nos próximos dias isso seja resolvido. Esse incentivo público é importante, pois não se faz futebol sem o apoio da comunidade e do poder público. Sabemos que existem dificuldades legais e burocráticas, mas existem formas para que se incentive a prática esportiva”.

A falta de apoio que faz perder atletas  

Atletas que estão no topo do ranking estadual e também integram a seleção brasileira de caratê. Os melhores da América e que se destacam em campeonatos mundiais, mas que infelizmente desistem dos seus sonhos pela falta de apoio. Essa é uma situação que a atleta e técnica, Cristiane Babinski enfrenta. “Como técnica perco muitos alunos e grandes talentos pelo fato de não terem condições financeiras de seguirem a carreira como atleta. É uma pena, na nossa cidade temos grandes talentos, atletas que se destacam em diversos esportes que levam o nome de Erechim ao lugar mais alto do pódio nos campeonatos mais importantes”, destaca Babinski.

Assim como Cristiane, diversos sonhos começaram ainda na infância. Mas quando essas crianças crescem, a realidade mostra as dificuldades para quem busca dar continuidade na carreira.

No futsal

Em muitas ocasiões, os atletas buscam em outros municípios o auxílio que falta em sua terra natal. Esse é o caso de jovens que sonham em se tornar ídolos no futsal. “A escola inicia o primeiro contato dos alunos com o esporte. Mas quando essas crianças chegam à adolescência, elas querem continuar praticando. É dever do município possibilitar a continuidade delas que possuem aptidão física para fazer do esporte uma profissão”, salienta o supervisor, Elton Dalla Vecchia.

Formado em educação física, Elton também revela uma preocupação sobre a falta de incentivo e também de atividades recreativas. “Estamos falando de todas as modalidades esportivas. É obrigação do poder público proporcionar esse acesso a comunidade, com atividades lúdicas e ter momentos de lazer. A comunidade não tem acesso a isso”.

O desamparo existe?  

De acordo com o diretor de esportes do município de Erechim, Wallace Augusto Soares, o orçamento do Departamento de Esportes é de 1. 579.000 reais, sendo que o valor de 55 mil reais é destinado ao transporte para os atletas que participam de competições estaduais, nacionais e internacionais. Atualmente, o ginásio municipal está sendo reformado, o custo será de aproximadamente 80 mil, mas só a quadra deve custar 76 mil.

Uma parte deste valor, também custeia os Jogos Escolares do Rio Grande do Sul, como também, o transporte de atletas que representam Erechim em competições estaduais, nacionais e internacionais. “O município dispõe de legislação de representatividade, onde auxilia no transporte de equipes e atletas”, destaca Wallace.

Mas para receber esse auxílio, as instituições devem realizar um processo administrativo. A lei exige um prazo de 40 a 60 dias de antecedência para as solicitações por parte dos esportistas. A nova gestão do Departamento de Esportes assumiu um fevereiro deste ano. Wallace ressaltou que está à disposição para esclarecer as dúvidas envolvendo os processos administrativos.

Outro ponto destacado por Wallace, é que o Departamento de Esportes está buscando alternativas administrativas em parcerias com iniciativas privadas. “Estamos buscando rever os contratos de prestação de serviços anteriormente firmados e de alugueis, conseguindo uma redução de valores. As empresas privadas poderão patrocinar algum evento esportivo através de editais de chamamento de patrocínio”.

A inclusão no esporte 

A inclusão de pessoas com deficiência em Erechim vem crescendo. De acordo com o presidente da Associação dos Deficientes Físicos do Alto Uruguai (Adau), Aldecir Vicensi, ao longo dos anos foi possível acompanhar as evoluções. “Devemos deixar claro que a inclusão não depende apenas do poder público. Nós também devemos mudar alguns conceitos e paradigmas para sermos agentes dessa inclusão”, ressalta.

A equipe de basquete da Adau surgiu em 2006, e no ano seguinte conquistou o seu primeiro título na Liga Oeste Catarinense de Basquete em cadeira de rodas. Em 2010, um vice-campeonato no Gaúcho, e no passado o título de campeão. “Além desses resultados devemos levar em conta outros resultados, como o fortalecimento no convívio familiar e social, há redução significativa das ocorrências em situações de risco social e o seu agravamento e reincidência. Além da melhoria na qualidade de vida dos usuários”, destaca Aldecir.

A equipe de basquete é uma das entidades beneficiadas pelo recurso de transporte. “Utilizamos o auxílio de transporte quando vamos representar o município em competições que são realizadas”.

As principais dificuldades que a entidade enfrenta no esporte estão relacionadas aos uniformes e à manutenção nos equipamentos. “É algo muito caro e a substituição das peças também tem um custo elevado. Já em relação aos uniformes, enfrentamos dificuldade em mantê-los. Estamos sempre em busca de projetos e parcerias para atender as demandas”.

Uma nova modalidade atrai o público  

A prática do futebol americano começou em 2015 com o Erechim Coroados, e no ano seguinte, o projeto se fortaleceu com a chegada do head coach, Tiago Villodre e também com a formação de atletas de futebol americano.

O nome Erechim Coroados é uma homenagem aos índios Coroados, aos quais os Guaranis dos Sete Povos das Missões Orientais consideravam ferozes e irredutíveis.  Neste ano, o time disputou o Gauchão, e no próximo semestre, participa da Copa RS – competição que também teve a participação do Erechim Coroados no ano passado.

Em relação ao incentivo do poder público, o presidente do Erechim Coroados, Rodrigo Bragagnolo, destaca que atualmente um projeto foi protocolado junto a prefeitura. “Diretamente não existe incentivo, a não ser concorrendo com outros projetos por meio da lei municipal. Pelo fato de a equipe ser bastante organizada, ficamos atentos as chamadas e possibilidades de ajuda que o município possa oferecer”, revela o presidente.

Outro desafio que o time de futebol americano enfrenta é a falta de espaço para realizar os treinos e também as partidas. “Infelizmente não contamos com o apoio de um campo de treino oficial ou até uma intervenção municipal para o uso do estádio da cidade”.

A visão do presidente coincide com a do capitão e wide receiver, Raian Pereira. “A cidade de certa forma, ama o esporte e muita coisa boa acontece por aqui devido a boa vontade e/ou história de cada instituição. Hoje, o Erechim Coroados “se vira” por conta e tem que disputar com diversas instituições para conseguir algum ‘respingo’ nas licitações. Isso significa que nem todos ganham, e muitos precisam disso”.

O que é preciso para a modalidade dar certo?  

De acordo com o presidente, Rodrigo Bragagnolo, o futebol americano funciona com os seguintes pilares:

  • o estudo tático semanal que cada jogador faz em sua casa ou em reuniões por posições;
  • aperfeiçoamento físico diário em que os atletas realizam por conta em academias com protocolo de treinamentos e treinos de campo.

“Como a equipe não possui um treino de campo oficial, semanalmente buscamos por um local disponível para que os treinos possam ocorrer. Às vezes, é feito em praças públicas de tamanho reduzido. Para os jogos, conseguimos uma parceria com a Associação do Bairro Esperança – que nos cede o campo e a estrutura”.

Cinquenta atletas e seis staffs se mobilizam para conseguir patrocínios, apoiadores e também pessoas que ajudam a equipe. “Por ser um esporte e equipe amadora, tudo é feito por amor e dedicação. O principal desafio é introduzir a cultura do esporte junto aos atletas e comunidade. Após esse primeiro passo, seria conseguir um campo de treinamento oficial tamanho futebol 11. Ai sim, iriamos conseguir evoluir tecnicamente para buscar as primeiras posições no ranking e possibilitar conquistar títulos”, finaliza Rodrigo.

A prática do futebol americano começou em 2015 com o Erechim Coroados, e no ano seguinte, o projeto se fortaleceu com a chegada do head coach, Tiago Villodre e também com a formação de atletas de futebol americano.

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