Salários e condições de trabalho ruins são entraves ao futebol feminino

Para as atletas do futebol, em um país que ainda insiste que o esporte não foi feito para mulheres, a realidade não seria diferente

||

Apoie Siga-nos no

No geral, em qualquer profissão e todos os cargos, a diferença salarial de homens para mulheres no Brasil chega até a 53%. Para as atletas do futebol, em um país que ainda insiste que o esporte não foi feito para mulheres, a realidade não seria diferente.

Em média, as jogadoras brasileiras ganham de um a dois salários mínimos, segundo pesquisa divulgada pelo UOL Esportes em 2017. Os estudos revelaram que entre as jogadoras dos times brasileiros que disputam a série A, os salários mensais máximos chegavam a 5 mil reais naquele ano, com um agravante: a maioria das atletas sequer tinha garantias trabalhistas com os clubes, sem carteira assinada ou contratos que formalizassem sua relação com o time. Realidade vivenciada por atletas de todo o mundo.

Apesar de serem exceções à regra e faturarem alto, atletas como Marta e a americana Alex Morgan, por exemplo, têm salários que giram em torno de 1,5 milhão por ano. Números que representam menos de 5% do valor que Messi recebe hoje, jogando pelo Barcelona (cerca de 47 milhões).

?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> src="https://i.ytimg.com/vi/8R1y2fgUcic/hqdefault.jpg" layout="fill" object-fit="cover">

Recentemente, a revista francesa France Football divulgou um comparativo de salários entre as jogadoras e os jogadores em todo o mundo. A relação demonstrou que até mesmo a jogadora mais bem paga do futebol feminino, a norueguesa Ada Hegerberg (atacante eleita a melhor do mundo em 2018), chega a ganhar menos que os jogadores da Série A do Brasileirão. O salário de 144 mil reais anuais não supera a média de 208 mil reais entre os jogadores brasileiros e é 325 vezes menor que o de Messi, também eleito o melhor do mundo no ano passado.

O quanto isso afeta o futebol feminino?

Em entrevista à imprensa espanhola no dia 14 de março, a atacante brasileira Andressa Alves, que atua no Barcelona, enfatizou as condições ruins de trabalho para as atletas do futebol feminino e pediu reconhecimento. Realidade comum no Brasil e em outros lugares do mundo, mesmo jogando no profissional, Andressa chegou a ficar alguns meses sem receber.


No esporte que já lida com resistência, machismo e preconceito, a desvalorização de salários e a falta de condições dignas de trabalho é um desincentivo à prática. Em ano de Copa do Mundo, em que a modalidade está em voga, é importante que a profissionalização do esporte seja colocada mais em pauta.

Muito tem se falado sobre o incentivo ao futebol feminino. As próprias organizações do futebol têm traçado diretrizes para que a modalidade seja mais valorizada e para que haja reconhecimento do público. Ações de marketing, novos patrocínios, apoio da mídia contribuem para que o futebol feminino seja notado. Mas o respeito e reconhecimento precisam também partir de dentro dos clubes e das organizações que representam as atletas.

A regularização e a formalização das relações de trabalho trazem segurança às profissionais. Um fator básico e essencial para que se garanta dedicação exclusiva, melhora de desempenho e um futebol de fato profissionalizado.

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.