Fora da Faria
Uma coluna de negócios focada na economia real.
Fora da Faria
Seu filho vai nascer? Compre fraldas — e um celular
Uma análise do Cetic.br mostra que 5% das crianças de 0 a 2 anos possuem celulares. E 44% acessam a internet


Quantas crianças de 0 a 2 anos possuem celular no Brasil? Quantas acessam a internet? As perguntas parecem absurdas. Mas, aparentemente, os tempos é que são. Uma análise do Centro de Estudos sobre Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br) mostra que 5% das crianças de 0 a 2 anos possuem celulares. E 44% acessam a internet. A análise foi baseada em dados das pesquisas TIC Domicílios e TIC Kids Online Brasil.
Os números são assustadores. Quando aumentamos a faixa etária considerando crianças entre três e cinco anos, o estudo revela que 20% das crianças possuem celular, chegando a 36% quando a faixa estudada fica entre seis e oito anos. Transformados em objetos de desejo, os smartphones vão muito além de suas funcionalidades. Eles constroem a personalidade do usuário. Consumidores fazem filas em lojas para serem os primeiros a terem um lançamento. É um produto consumido de zero a noventa anos. Coisa que somente alguns itens de moda conseguiram.
Os acessos à internet também causam preocupação. Passam os 44% de zero a dois anos para 71% entre crianças de 3 e 5 anos. No caso de 6 a 8 chega em 82%. A disparidade entre acesso à internet e a posse de aparelhos revela a displicência que existe em usar celulares para acalmar crianças. E aí o caldo começa a entornar. As redes sociais sabem quem é você e sabe o que você faz na internet. Os famosos algoritmos acompanham tudo o que acontece. As crianças serão confundidas com você. O que você viu, elas verão.
É nesse caos, entre fraldas e celulares, que a discussão de regulação das redes tem dado pouca atenção. A proteção de vulneráveis. Não adianta dizer que o responsável por atividades ilegais nas redes será exemplarmente punido quando for denunciado. No caso das crianças o estrago estará feito. E pode durar a vida toda.
1001 dificuldades
A Bombril, empresa fundada em 1948, conseguiu um dos feitos mais desejados do marketing: uma marca que é sinônimo de categoria. Gurus dos negócios vociferam que o marketing é uma batalha pela mente e não pelas gôndolas do mercado. O produto foi incorporado a praticamente todos os lares, independente das camadas sociais. Agora, a empresa pediu recuperação judicial. A dívida chega a 2,5 bilhões de reais.
As campanhas memoráveis do Garoto Bombril, desenvolvidas por Washington Olivetto, criaram uma aura definitiva para a marca. A Bombril entrou em outros segmentos. Teve sucesso com marcas como Sapólio Radium, Limpol, Pinho Bril e muitas outras que fazem parte do portfólio da empresa. A crise começou com a falta de recolhimento de impostos em operações internacionais da Bombril e Cragnotti & Partners, seu então controlador.
Produtos de consumo em mercados com baixa inovação tecnológica exigem capacidade de distribuição, marketing agressivo, ações nos canais de venda e um olhar constante para preços. Traduzindo, foco e dinheiro. Coisa difícil de conseguir quando as lideranças estão envolvidas em salvar o negócio que atua em um mercado em que cada centavo vale uma fortuna.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Os limites da aposta do governo contra a disparada no preço dos alimentos
Por José Giacomo Baccarin
Menos sociologia, filosofia e geografia: ciências humanas perdem 35% da carga horária no Ensino Médio de SP
Por Ana Luiza Basilio
Mortalidade por câncer é maior entre crianças indígenas, diz estudo
Por Agência Brasil