Fora da Faria

Uma coluna de negócios focada na economia real.

Fora da Faria

Brasil perde bilhões ao ignorar a economia da cannabis

Larissa Uchida, cofundadora da ExpoCannabis Brasil, conversou com o ‘Fora da Faria’ sobre as oportunidades econômicas desperdiçadas pelo atraso regulatório

Brasil perde bilhões ao ignorar a economia da cannabis
Brasil perde bilhões ao ignorar a economia da cannabis
CRÉDITO: GUILLEM SARTORIO / AFP CRÉDITO: GUILLEM SARTORIO / AFP
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São Paulo sediou no último final de semana a terceira edição da ExpoCannabis Brasil, maior evento de negócios da cannabis na América Latina. O evento reuniu 250 expositores e 280 marcas.

Larissa Uchida, CEO da CannExp, cofundadora da ExpoCannabis Brasil e criadora da primeira agência de turismo de experiências canábicas no país, conversou com o Fora da Faria sobre as oportunidades econômicas desperdiçadas pelo atraso regulatório. Ela também lidera a edtech OpenGreen, dedicada à educação sobre os múltiplos usos da planta.

Confira a seguir.

Fora da Faria: O Brasil ainda olha a cannabis pela lente do preconceito, o que gera perdas significativas. A simples menção da palavra afasta setores inteiros. Como isso repercute na economia?

Larissa Uchida: O preconceito custa caro ao Brasil. Hoje, enquanto diversos países já regulamentaram a cannabis em algum nível de uso medicinal, industrial ou adulto, nós ainda tratamos a cannabis majoritariamente pelo viés moral e criminal. Isso atrasa investimentos, reduz competitividade e impede o agronegócio de entrar em uma das cadeias agrícolas mais promissoras do mundo.

Para ter uma ideia, só nos Estados Unidos o mercado legal movimentou 33,6 bilhões de dólares em 2023, gerou mais de 440 mil empregos formais e arrecadou 3,7 bilhões dee dólarmes  impostos naquele ano. Em 2025 as vendas legais devem atingir 35 bilhões de dólares com impacto econômico total estimado em mais de 120 bilhões de dólares. No Canadá, o varejo movimentou, no ano passado, 5,3 bilhões de dólares canadenses em. Na Alemanha, após a recente reforma regulatória, já registra um mercado anual acima de 400 milhões de euros.

No Brasil, as vendas de cannabis medicinal somaram cerca de 852 milhões de reais em 2024, com projeções de alcançar 1 bilhão de reais em 2025. Os estudos da Kaya Mind, empresa brasileira especializada em inteligência de mercado no segmento da cannabis, do cânhamo e de seus periféricos, mostram que com uma regulamentação mais ampla do cânhamo, poderíamos movimentar 26 bilhões de reais por ano e gerar mais de 320 mil empregos. Mas isso não acontece porque ainda existe muito medo e desinformação. A distância entre preconceito e progresso é uma perda econômica concreta — que afeta agricultores, empresas, pacientes e o País como um todo.

FF: Há quem diga que o uso medicinal da cannabis é uma “onda de jovens de classe média” nos grandes centros. Qual é a realidade hoje?

LU: Essa é uma visão desconectada da realidade. De acordo, ainda, com a pesquisa da Kaya Mind, atualmente 85% dos municípios do Brasil tem algum paciente que se trata com cannabis.

FF: Além do medicinal, quais são os outros usos possíveis da cannabis?

LU: A cannabis, especialmente o cânhamo industrial, tem mais de 25 mil aplicações e já é usada em diversos setores ao redor do mundo. Nos Estados Unidos e no Canadá, é uma cultura agrícola consolidada para produzir fibras têxteis, bioplásticos, materiais de construção como o hempcrete, rações e proteínas vegetais.

Na Europa, países como França, Alemanha e Holanda usam cânhamo para papel, tecidos, autopeças e biocompósitos. A China, maior produtora mundial, exporta fibra de cânhamo para a indústria global da moda. No Uruguai e na Colômbia, o foco é a biomassa para cosméticos, alimentos e óleos industriais.

Ou seja, além do uso medicinal, a cannabis já move as indústrias têxtil, cosmética, alimentícia, farmacêutica, automotiva e de construção em vários países — e o Brasil tem condições de entrar nesse mercado com competitividade.

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