Fashion Revolution

Eco-Ansiedade: como lidar com o sentimento?

Quem nunca ouviu que cuidar da natureza é garantir o futuro das próximas gerações? Eu já, mas e quando esse futuro parece incerto?

Arte Visual: Matheus Ribs
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Já perceberam que, quando queremos desconectar do mundo, relaxar, meditar ou apenas chorar sozinhos, não há melhor abrigo do que a natureza? A conexão interior que buscamos é facilitada quando estamos entre as árvores, no campo, próximo a uma cachoeira, no alto de uma montanha, em um belo lago ou simplesmente no jardim de casa ou num parque do bairro.

Nossas percepções são confirmadas por pesquisas científicas, médicas, psicológicas e educacionais: a conexão com a natureza faz bem para a nossa saúde, auxilia na imunidade, reduz a ansiedade, favorece o conhecimento interior, nos trazendo um sentimento de paz.

Porém, esse sentimento de conexão pode ser diretamente afetado ao se deparar com o caos ambiental, instaurado, por exemplo, em casos que tiveram destaque midiático.

Entre eles, destacam-se o desabamento do prédio Rana Plaza (2013), local que abrigava centenas de fábricas de costura – várias delas fornecedoras de grandes marcas norte-americanas e europeias -, o incêndio na Chapada dos Veadeiros (2017), o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, na região de Brumadinho, as manchas de óleo que atingiram o litoral do nordeste e do sudeste, o Pantanal sendo consumido pelo fogo e a tramitação do PL 490, que permite a abertura de áreas indígenas protegidas ao agronegócio, à mineração e às hidrelétricas.

Além disso, é importante ressaltar que, atualmente, a nossa relação com a natureza está em desequilíbrio e as consequências podem ser desastrosas.

Os impactos podem ser observados por meio de grandes perdas em nossa biodiversidade – relatório da WWF aponta que espécies animais estão em média 68% menores que em 1970 -, grandes eventos climáticos (queimadas da Amazônia, mortes de rios, aumento do nível do mar, desaparecimento de corais, secas e inundações) e o aumento da temperatura global.

Um dos segmentos que tem grande responsabilidade sobre esse processo de devastação é o setor da indústria da moda. Atualmente, a moda é a segunda maior poluidora do mundo, ficando atrás somente da indústria petrolífera, de acordo com Pandey.

No setor, alguns impactos são percebidos na esfera ambiental por meio da contaminação química de rios e solos, o uso desenfreado de recursos naturais como a água, lançamento de gases que agravam o efeito estufa e a grande quantidade de resíduos sólidos provenientes da produção e do descarte de peças. A indústria causa impactos de ordem social também, como trabalho análogo à escravidão.

Tendo em vista esses episódios é comum você começar a tomar para si toda a angústia e culpa cotidiana e transformá-las no que se chama de eco-ansiedade.  Sim, já existe um nome na psicologia para essa sensação de impotência.

O termo foi citado pela a primeira vez em março de 2017, pela professora de psicologia e estudos ambientais da Faculdade de Wooster, em Ohio (EUA), Susan Clayton, em um artigo intitulado “O impacto das mudanças climáticas na saúde mental”.

Em sua pesquisa, a professora afirma que as notícias sobre as mudanças climáticas interferem na saúde mental de pessoas conscientizadas com as questões ambientais de forma semelhante a traumas ocasionados por perdas significativas, como a de familiares, profissionais e bens financeiros.

Quem nunca ouviu que cuidar da natureza é garantir um futuro para as próximas gerações? Eu já, mas e quando esse futuro parece estar cada vez mais incerto, o que podemos fazer? Pensando nisso, me uni com um grupo de jovens, de áreas distintas, para saber como eles lidam com a eco-ansiedade.

Ana Capiberibe – Graduanda em Ciências Ambientais na UNIFAP – Macapá – AP – Embaixadora Juventude Lixo Zero Amapá e multiplicadora Politize (@anacapiberibe) @juventudelixozeroamapa

Ana Capiberibe acredita que existe uma relação entre as questões ambientais e psicológicas.  Após participar de uma aula de meditação com Henrique Herbert, ela começou a refletir sobre experimentar a natureza que existe dentro dela mesma. Ana diz que “não existe diferença entre a natureza e eu, somos feitos de águas, minerais, pensamentos e emoções, porque os nossos primeiros pulmões são os mares e as florestas e nosso primeiro estômago é o sol, então, se eu enveneno o sol, estarei envenenando a mim.’’

Ana compreendeu que todas as escolhas são políticas e interferem tanto em níveis internos quanto externos, e o que está no alcance dela no momento é trabalhar o interno, seja na reavaliação alimentar, no cuidado de suas hortinhas orgânicas, buscando meditações guiadas para aliviar a mente e se inspirando por ações socioambientais no Brasil.

Nathália Velloso – Graduanda em Publicidade na UNISANTOS – Estudante Embaixadora Fashion Revolution Santos – SP (@nath.velloso)

Nathalia busca estar sempre perto da natureza, Assim, ela se sente um pouco melhor, menos ansiosa e mais calma, e lembra do valor que a natureza tem e fornece para nós.

A participação e trocas feitas em movimentos como o Fashion Revolution,e a interação com pessoas que se interessam e sabem do valor do meio ambiente facilita a empreitada. Ela lembra que ”esta é uma responsabilidade coletiva, não só nossa, é difícil carregar tudo sozinha.

É sempre bom lembrar que essa responsabilidade é coletiva e a transformação é sistêmica.

Maria Luiza Wanderlinde Quaresma – Graduanda em Direito na UEMS – Campus Naviraí – Estudante Embaixadora Fashion Revolution Naviraí – MS (@mluquaresma)

Maria Luiza é pesquisadora de externalidades negativas do Fast Fashion na natureza. Para ela, o futuro é desesperador por conta das mudanças climáticas, influenciadas pelo setor da moda.

“Lidar com a eco-ansiedade é chave, nós devemos lembrar sempre que a mente saudável foca na solução e não no problema.  A minha estratégia é cuidar de mim mesma, para então cuidar do planeta, promovendo pequenas mudanças no dia-a-dia que podem proporcionar às futuras gerações um mundo melhor. E você, qual postura você adota para afastar a eco-ansiedade?’’, questiona.

Pedro Henrique Silva Mota – Graduando em Serviço Social na UEMG – Campus Passos – (@pedropedroga)

Pedro logo diz que ‘’a eco-ansiedade nada mais é que o medo e a preocupação gerados pelo futuro, pelo estado do nosso planeta’’.

No capitalismo, a forma de crescimento é baseada na exploração desenfreada dos recursos naturais e também do trabalho. Uma das consequências é a ansiedade com o grave estado do planeta.

Sabemos que temos pouco tempo, mas se continuarmos nesse movimento o tempo será ainda menor. E como lidar com essa situação? A primeira atitude é entender que não é uma culpa individual ou de pequenos grupos.

“Somente por meio do coletivo que vamos enfrentar esse monstro maior, que é o que vem causando esta eco-ansiedade e a destruição em nosso planeta”, declara.

Sioduhi, Fundador – Diretor Criativo da Marca Piratapuya – Cofundador do Coletivo Indígenas Moda BR – (@sioduhi) (@piratapuya)

Sioduhi acredita que a eco-ansiedade é um desafio, mas ressalta que “nós, indígenas, estamos passando por um período de ameaças de direitos”.

“Acho que esse lado da gente, de estar em coletividade, compartilhar, é um caminho de como lidar com a eco-ansiedade. É algo que precisamos nos conectar de pessoa para pessoa”.

Diante destas colaborações tão necessárias, acredito que o caminho para lidar com a eco-ansiedade é olhar para si próprio. Faz parte do processo cuidarmos, primeiro, dessa ansiedade individual,para que possamos estar bem para lutarmos por um futuro melhor.

Colagem: Luiza Bié | Fotografia: Airoldi Santos

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