Fashion Revolution
Carnaval 2023: que tal criar uma fantasia inspirada no Solar Punk?
Nas roupas, arquitetura, arte e música, o movimento inspira contato com a natureza e um futuro otimista e sustentável


Os bloquinhos já estão na rua e a nossa dica é que você leve seu ativismo para curtir o Carnaval 2023 contigo. O Fashion Revolution Brasil segue olhando para um futuro mais sustentável e a estética Solar Punk traz esse conceito, com um toque otimista.
Nas roupas, arquitetura, arte, música, literatura, no consumo, tudo no Solar Punk inspira o slow, a economia circular, a vida em comunidade e o consumo local. Que tal utilizar essas ideias para criar sua fantasia de Carnaval?
Apesar de não ser tão recente – os conceitos do Solar Punk foram citados e criados na internet em 2008 – o Solar Punk ainda existe em um campo muito imaginário. Mas, diferente do tom ficcional do Cyberpunk e Steampunk, o Solar Punk se põe em um espaço mais realista, afinal estamos vivendo a crise climática. O movimento existe porque a ordem mundial política e econômica falhou, a poluição e aumento da temperatura, desequilíbrio ambiental já está acontecendo e tendem a piorar no futuro.
O que guia o Solar Punk é o pensar antes de consumir ou criar, logo, as peças produzidas são feitas para durarem mais, são ambientalmente e socialmente sustentáveis e seu descarte é feito de forma menos impactante ao meio ambiente. Não se trata de largar a tecnologia e virar um Neo Hippie! O divertido desse movimento – que não tem regras rígidas – é imaginar um futuro onde tecnologia e natureza coexistem em harmonia. É por isso que, em algumas criações Solar Punk, você pode achar traços da estética futurista, como um dos grandes nomes do movimento aqui no Brasil, o ilustrador João Queiroz.
Pontos-chaves da estética
Centrado no meio ambiente e sustentabilidade, o Solar Punk tem seu nome inspirado na energia solar, uma das fontes de energia renovável menos danosas que possuímos atualmente. A energia solar também é diferente da eólica e hidráulica na questão de concentração da sua produção, podendo ser partilhada em pequenos geradores para cada casa via placa solar. A questão do compartilhamento é um dos pontos sustentáveis levantados no Solar Punk.
Sendo um movimento contra a individualização promovida pela colonização e globalização, o Solar Punk encoraja a celebração da cultura, enaltecendo a estética afro, indígena e a explosão de cores e traços tradicionais. Um exemplo disto são as peças criadas pelas marcas Sarritah e Adiff. Ambas são focadas em upcycling e a Adiff, em especial, é uma marca criada para empregar refugiados em Atenas, Grécia. Em uma entrevista, Loulwa Al Saad, uma das fundadoras, definiu sustentabilidade como não apenas ser ecologicamente sustentável em práticas diárias e operações comerciais, mas “também apoiar direitos humanos e éticos”.
Como a natureza é ponto central, a estética também traz formas e cores que retomam o meio natural, como folhas, tons terrosos, esverdeados e dourados, flores, animais com asas – libélulas, cisne – e formas assimétricas, com movimento e curvas. O documentário A Guide To Solar Punk Fashion (“Um Guia para Estética Solar Punk”, em tradução livre), aponta as influências da Art Nouveau, movimento Arts and Crafts e dos filmes de Hayao Miyazaki, como O Serviço de Entregas da Kiki, o Castelo Animado e Princesa Mononoke.
Na arquitetura, além da estética visual, os materiais também são pensados para serem de boa qualidade e apoiarem ao pequeno produtor e artesanato tradicional local. Vidros e vitrais coloridos fazem parte dos exemplos dispostos na internet, sejam eles reais, como esse corredor na Espanha, ou imaginários, como esse estacionamento e esse prédio. Note como a natureza está presente nesses espaços, como proposto pelo Solar Punk. Na música, o “celebre suas origens” dá o tom, como essa apresentação desse duo de artistas mexicanos.
Solar Punk no Carnaval
E, afinal, como trazer a estética Solar Punk para seu Carnaval 2023? Além dos pontos que levantamos, vale lembrar da importância de prolongar o uso das peças que você usará desta vez (ou vem usando e reaproveitando de outros Carnavais). Vale o costurar, consertar, garimpar de 2ª mão, ainda mais se você puder usar essa peça em outras ocasiões.
No Brasil, o lixo têxtil é não só alarmante em números de descarte, como também é pouco registrado. Temos números de volume de produção e descarte apenas em zonas conhecidas da confecção, como os bairros centrais do Brás e Bom Retiro, em São Paulo. Mas não mapeamento, nem índice, do quanto de lixo têxtil vai parar em aterros e lixões, tampouco leis municipais, estaduais ou federal para a reciclagem têxtil.
Busque tecidos naturais, evitando o mix de fibras sintéticas (proveniente do plástico e petróleo), peças confortáveis e funcionais, que expressem seu estilo e criatividade. Leve o otimismo do Solar Punk para as ruas e curta este carnaval com consciência!
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