Diálogos da Fé

Blog dedicado à discussão de assuntos do momento sob a ótica de diferentes crenças e religiões

Ver o Natal de forma diferente: Deus é quem dá presentes

Jesus de Nazaré é uma dádiva de Deus ao mundo

Apoie Siga-nos no

Como sabemos e experimentamos, datas religiosas são apropriadas pelo mercado. Todos nós já fomos confrontados com alguma crítica sobre essas datas terem sido transformadas em festas do consumo.  O Natal, que se aproxima, parece ser aquela celebração que mais explode em gastos e ostentação pois está associado à compra de presentes e objetos de consumo pessoal e comilanças. Pelo menos, no Natal, como justificativa, ainda se pode invocar uma tradição: repetimos o ato dos reis magos que levaram presentes para o recém-nascido Jesus. Mas… Não, não vou trazer mais uma reflexão crítica para alertar que este simbolismo já está para lá de esquecido… Prefiro o caminho inverso: valorizar o Natal como uma celebração identificada com presentes, sim. É muito bom ganhar presentes! Por isso, quero evocar a imagem cristã, que é muito protestante/evangélica, por conta da graça de Deus (o seu amor incondicional e misericordioso) que quem dá presentes no Natal, de fato, é Deus.

A Bíblia cristã testemunha esta ideia: Jesus de Nazaré é um presente de Deus ao mundo. É o Evangelho de João que a torna mais explícita: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que enviou seu Filho Único…” (João, 3). O rosto do Deus que ama o mundo e que sempre sonhou em restaurar a paz e a justiça para a sua Criação, agora é reconhecido como gente, vivendo entre nós. Gerado por uma jovem solteira, pequeno, frágil, dependente, puro como qualquer criança. E mais: nasce no lugar que lhe restou, numa periferia, num curral, entre os pobres, os humilhados e os desprezados. São eles, os trabalhadores rurais, as primeiras testemunhas que declararam as boas novas de que com aquele bebê renascia o sonho da paz no mundo: “… Paz na Terra aos seres humanos de boa-vontade” (Lucas, 2).

Leia também:

O Natal de Maria de Nazaré: Maria gerou, deu vida e criou o novo

Os governantes religiosos recebem propina?

Jesus de Nazaré é um presente de Deus ao mundo e, com sua vida, alimentou o sonho da paz na Terra. Ele testemunhou a paz não apenas como ausência de guerra, mas como algo que se constrói com a vida cotidiana, nos relacionamentos, no diálogo, no respeito, fazendo valer a justiça e o direito dos mais fracos. Foi fiel a estes princípios até o fim, por isso foi preso, barbaramente torturado e sofreu a pena de morte. E desta forma foi, e continua sendo, inspiração para homens e mulheres que aprenderam a crer Naquele que o enviou: o Deus da paz com justiça, não o deus da violência e da vingança.


E o mais bonito desta história é que Deus continuou presenteando o mundo. Inspirando gente que trabalha pela superação de experiências violentas, das tantas exclusões e injustiças, e pela derrubada de muros de divisão e intolerância. São tantas situações dramáticas sobre as quais recebemos notícias diariamente, que os presentes que Deus continua dando ao mundo que ama ficam nelas submersos. Por isso vale a pena lembrarmos de alguns deste ano, registrados aqui em textos desta coluna, que podem, em primeiro instante, parecer pequenos, mas que representam uma centelha de luz num contexto em que as trevas insistem em prevalecer.

Deus presenteou o mundo com a marcha de milhares de mulheres palestinas e israelenses, unidas, da Cisjordânia a Jerusalém, em outubro, exigindo um acordo de paz entre as duas nações e que mulheres tenham representação nas negociações. Mulheres e crianças árabes e judias ficaram lado a lado, com cartazes que diziam “A paz depende de você”. A ação é parte do projeto “Jornada para a paz”, promovido pela ONG Women Wage Peace.

Deus presenteou o mundo com as ações do Conselho Mundial de Igrejas (evangélicas e ortodoxas), especialmente por meio da Peregrinação de Justiça e Paz, assumida pelo próprio Conselho em suas diversas atividades, direcionando-as à ênfase da paz com justiça. O grupo de referência da Peregrinação esteve este ano na Nigéria, que vive situações-limite em busca de paz, e de lá indicou ações para todos os continentes.

Deus presenteou o mundo com os incontáveis gestos e as ações concretas do Papa Francisco, em especial aquelas entre os pobres, os imigrantes, os injustiçados deste mundo.

Deus presenteou o mundo quando o imigrante sírio, vendedor de esfihas, insultado e discriminado em Copacabana, no Rio, em agosto (lembram disto?) recebeu a solidariedade de desconhecidos que promoveram um “esfihaço” que suplantou a violência.

Deus presenteou o mundo quando evangélicos levantaram fundos para a reconstrução do terreiro Kwe Cejá Gbé, liderado pela Mãe Conceição d’Lissá, em Duque de Caxias, Rio, incendiado de forma criminosa em 2014 por grupos que advogavam a “causa evangélica”. A verba foi doada pela Igreja Cristã de Ipanema e pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs Seção Rio e entregue em um café da manhã no terreiro, com a presença de várias lideranças evangélicas.

Continuem a lista, leitores e leitoras! Relacionei apenas algumas das várias histórias. Há muitas outras, mundo afora, que são centelhas de luz, que, somadas, iluminam a vida. Não devem ser escondidas.

Ao seguirmos presenteando neste Natal, e nos outros que virão, que tal buscarmos inspiração nos presentes que Deus continua dando ao mundo? Basta, como Jesus mesmo indicou, ter “olhos para ver e ouvidos para ouvir” (Marcos, 8).

FÉRIAS

A partir deste 22 de dezembro estarei em férias. Retornarei à atividades e compromissos formais e aos textos desta Coluna em 21 de janeiro. Que os bons ventos dos festejos de Natal e de Ano Novo tragam muitos presentes de Deus para 2018, um ano de muitos desafios! 

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.