Diálogos da Fé

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Um universo de axé na Bienal do Livro

O evento, entre 3 e 12 de agosto, promete contemplar a diversidade e trazer novidades para os adeptos e simpatizantes das religiões afro-brasileiras

Djamila Ribeiro lança seu novo livro e participa de debates
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A 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo começou nesta sexta-feira 3 e terá ao longo dos próximos dias uma extensa programação cultural.

“A solidão da mulher negra” e “a importância do feminismo negro em 2018” são temas do debate entre Djamila Ribeiro, Bianca Santana e Ana Maria Gonçalves no Salão das Ideias, às 13 horas.

Temas relacionados à negritude devem ser destaque nesta bienal, que, pela primeira vez, conta com um editora especializada em religiões de matriz africana. A Arole Cultural foi fundada em 2015 com o objetivo de registrar e fazer pensar a cultura afro-religiosa.

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Seus livros propõem uma reflexão sobre o universo dos orixás, as comunidades de candomblé e umbanda e suas práticas, o ethos africano reconstruído no Brasil e a vivência de seus seguidores.

Depois do sucesso na Flip, a jornada de Djamila Ribeiro na bienal passa pelo estande da Arole Cultural, que, numa parceria com a Editora Letramento, reúne Silvio Almeida, Joice Berth e Juliana Borges, também autores da Feminismos Plurais, para um grande lançamento da coleção.

Antes, há, porém, a sessão de autógrafos de seu mais recente livro, Quem tem medo do feminismo negro, às 14, no estande da Companhia da Letras.

Segundo Djamila, esse lançamento da coleção Feminismos Plurais em parceria com uma editora voltada a temas relacionados às religiões de matriz africana e negritude é muito importante, pois a coleção dialoga com essa proposta. “Essas intersecções são fundamentais para ampliar o debate”.

A presença da Arole Cultural promove e amplia uma cultura de tolerância e paz nesses tempos tão turbulentos, além de dar ao público a oportunidade de conhecer seus autores, que são líderes e representantes religiosos que trazem na pele e nas palavras as experiências vividas dentro dos terreiros.

Entre os lançamentos mais esperados da Arole Cultural está o livro “Comida de santo que se come”, do chef Carlos Ribeiro e do antropólogo e babalorixá Vilson Caetano de Sousa Junior. Um livro para quem gosta de aprender sobre outras culturas e ampliar seus conhecimentos, como os estudantes de gastronomia e todos aqueles que apreciam cozinhar e comer bem.

“Tenho como parte de meus estudos a cozinha brasileira. Como adepto da leitura, minha linha mestra sempre foram os livros do Câmara Cascudo, nos quais descobrimos as diversas matrizes das cozinhas indígena, portuguesa e também da africana, que me conduziu ao Candomblé, onde me encontrei como pesquisador e como religioso”, esclarece Ribeiro, professor de gastronomia e dono de um restaurante em São Paulo.

Todos reconhecem que o ato de cozinhar é mágico, pois mesmo que se faça uma comida para familiares, amigos ou clientes, quando se cozinha profissionalmente, todos os momentos, desde pensar, comprar e preparar até servir, são únicos. Para quem cozinha, esses momentos são e sempre serão sagrados, quanto mais num espaço religioso no qual as divindades são servidas e dividem seu alimento com os fieis.

Entre as comidas populares, presentes na mesa de quase todos os brasileiros, que têm sua origem no candomblé, está o manjar. “Alguns nem se lembram que o manjar é uma comida de terreiro, oferecida a Iemanjá, que talvez seja um dos orixás mais referenciados no Brasil”, explica.

O acarajé também é parte da cozinha votiva e pertence a Oyá ou Iansã. Outra comida de terreiro bem popular é a canjica de milho branco, que é de Oxalá.

Entre os eventos programados para o lançamento do livro, há o sorteio de uma tela de um orixá que será pintada pelo próprio chefe, além de uma aula de culinária no espaço Cozinhando com Palavras e a sessão de autógrafos no dia 12.

O legado da escritora negra Maria Firmina dos Reis, nascida em São Luís do Maranhão em meados dos anos 1820, chega à bienal por meio da Edições Câmara, que preparou uma excelente publicação contendo as obras Úrsula, Gupeva, Cantos à beira-mar e A escrava.

No auge da campanha abolicionista, Maria Firmina dos Reis expôs sua visão sobre o tema com a publicação do conto “A escrava”, em 1887.

A escritora utilizou a literatura para denunciar a escravidão e para descrever o papel das mulheres na sociedade da época. Por meio do sofrimento da escrava Joana, Maria Firmina retrata a angústia das famílias separadas pelo tráfico de escravos no Brasil do século XIX, revelando a crueldade a que as escravas eram submetidas.

Ao resgatar a obra de Maria Firmina dos Reis, a Edições Câmara oferece ao público um importante patrimônio da historiografia literária brasileira, destacando a problemática da escravidão no Brasil e a situação das mulheres nesse contexto.

Um time de escritores negros ocupará o estande da Flinksampa, entre eles Roniel Felipe, que lança a segunda edição da obra Negros Heróis: histórias que não estão no gibi.

O livro é dividido em duas partes. A primeira retrata a luta de Laudelina de Campos Melo, mineira e filha de uma escrava doméstica. Laudelina foi protagonista da sindicalização da classe doméstica. A segunda narra a vida de Antonio Carlos Santos Silva, o TC Silva, que sofreu racismo desde a infância e ficou mais próximo da sua ancestralidade ao ter contato com os mais velhos de um quilombo no interior de Minas Gerais.

Há ainda um universo de axé e negritude para ser descoberto na 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Projetos como esses, contribuem, porém, para que obras e autores negros ganhem visibilidade e cada vez mais espaço.

Quando se fala de religiões afro-brasileiras, sabemos o quanto é difícil converter em livros todos os saberes guardados nos terreiros. Não se trata apenas de acessos negados, mas da falta de reconhecimento dessa produção como fonte teórica.

Um problema que escritores, pesquisadores e cientistas negros sempre enfrentaram, mas que pode ganhar um novo contorno com o advento de editoras como a Arole Cultural e de iniciativas como as da Edições Câmara e da Flinksampa.

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