Diálogos da Fé

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Toda nossa solidariedade e força às irmãs presbiterianas

Como aponta Ivone Gebara, católica e freira feminista, nós mulheres precisamos furar os tetos das igrejas que não nos querem mais

Foto: Pexels/Creative Commons/Pixabay

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Muito se tem falado sobre as mulheres evangélicas nessas eleições. Excelentes pesquisas têm apontado que o voto desse grupo pode decidir a disputa eleitoral. As pesquisadoras do ISER (Instituto de Estudos da Religião), como Jaqueline Teixeira, Viviane Costa, Lívia Reis, Ana Carolina Evangelista e Magali Cunha têm trabalhado arduamente divulgando os resultados de seus estudos e apontando caminhos para derrotarmos Bolsonaro nas urnas. Sem as mulheres evangélicas ao nosso lado, essa tarefa será impossível.

Quem são essas mulheres? A resposta está bem longe de se ter um estereótipo, ou em um único modelo. Assim como não podemos homogeneizar os distintos grupos, igrejas e formas de fé evangélicos, não podemos dizer “as evangélicas” sem antes ampliar nosso olhar.

 

Essas mulheres, em geral, têm duas coisas em comum: em sua maioria, pertencem à classe trabalhadora empobrecida de nossas periferias; e encontram nas igrejas respostas objetivas e subjetivas para suas vidas.  

 

As mulheres evangélicas encontram em Deus um cúmplice, um amigo a qual negociam aspectos concretos da vida e nele encontram forças para enfrentar as dificuldades que tem assolado nosso País.


 

Sei que as teologias que a maioria dessas mulheres consomem em suas igrejas não dizem respeito a suas vidas enquanto mulheres de fé. São teologias patriarcais que,  sob uma roupagem de cuidado e zelo, as subjugam,. E que só servem para calar as vozes dissidentes que ousam desafiar o alto clero composto, quase sempre, por homens.

Como é o caso das mulheres evangélicas da Igreja Presbiteriana do Brasil, instituição protestante histórica que já estava, e ainda está, presente fortemente no governo de Jair Bolsonaro, nas figuras dos pastores André Mendonça (STF) e Milton Ribeiro (ex-ministro da Educação) e que recentemente ensaiou afastar seus fiéis de esquerda,  que continuam a resistir. 

Embora nunca tenha sido permitida a ordenação de mulheres a pastoras na Igreja Presbiteriana, os serviços nos cultos eram liberados. Em 2018, contudo, houve uma decisão retrógrada segundo a qual mulheres só poderiam pregar sob supervisão masculina. Neste ano, contrariando expectativas de que essa decisão fosse revogada, o cenário ficou ainda piorÇ foi decidido que nenhuma mulher pode pregar ou ensinar nas atividades da igreja, e nem mesmo distribuir a Santa Ceia (o sacramento do pão e vinho) em suas celebrações.

Como a teóloga Odja Barros sempre diz, é necessário que nossa teologia, teologia de mulheres de fé que lutam por seus direitos, seja um machado posto à raiz das teologias patriarcais, assim como o texto bíblico nos ensina. 

Um coletivo composto por 99 mulheres presbiterianas, de diversas localidades e cores do Brasil, produziu uma carta-protesto contra essas resoluções que querem calar as mulheres da igreja. A carta, que pode ser acessada clicando aqui, tem sido rechaçada pelo alto clero da IPB e até mesmo, pasme, posta em dúvida: foram mulheres mesmo que a escreveram?

Diante disso, os convido a conhecerem o Coletivo Mulheres Presbiterianas do Brasil, um coletivo que tem incomodado as instâncias da IPB, a divulgarem e fortalecerem a carta e o coletivo, que tem sido alvo de ataques e perseguição.

Como aponta Ivone Gebara, católica e freira feminista, nós mulheres precisamos furar os tetos das igrejas que não nos querem mais. Para conseguirmos respirar, e fazer com que a instituição respire, já que suas portas e janelas estão trancadas para que a luz e um novo vento entre. 

Toda nossa solidariedade e força às irmãs presbiterianas, vocês não estão sós!

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