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Só o diálogo nos dará um mundo livre das guerras de motivação religiosa

O Papa Francisco e o Sheikh Ahmad al-Tayeb deram um exemplo de diálogo inter-religioso

Só o diálogo nos dará um mundo livre das guerras de motivação religiosa
Só o diálogo nos dará um mundo livre das guerras de motivação religiosa
Encontro do papa Francisco com o Sheikh Ahmad al-Tayeb, Grão-imã da Universidade de Al-Azhar, a mais respeitada instituição islâmica no mundo (Reprodução)
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Ultimamente tenho recebido a reação de alguns leitores sobre o assunto do diálogo inter-religioso. Tanto como um religioso que atua no trabalho de diálogo inter-religioso quanto como um pesquisador cuja linha de pesquisa é o diálogo inter-religioso, fico espantado com as afirmações que se fazem em minhas publicações nas redes sociais. Enquanto alguns afirmam na “superioridade de Jesus sobre as outras religiões”, outros afirmam que não há como realizar a fusão das religiões para formar uma nova. Como já afirmei, é de se espantar com comentários como estes, porém, revejo o meu passado e lembro que pessoas da minha própria religião também já fizeram as mesmas afirmações comigo por não conheceram o fenômeno chamado diálogo inter-religioso. Por isso, embora haja demasiados artigos a respeito disso, serei mais um autor a tentar explicar o que o diálogo inter-religioso é e o que ele não é.

Como termo sistematizado, o diálogo inter-religioso é um conceito muito novo quando analisamos a sua história. Em 1893 houve um evento marcante que acabou por inaugurar o Parlamento Mundial das Religiões. Neste evento houve a participação de vários representantes religiosos em Chicago, nos EUA. O motivo desta atividade foi juntar os religiosos em torno de um único assunto que importava, e hoje ainda importa muito: estabelecer a paz através das religiões. Não podemos negar que o passado, assim como o presente, é “repleto” de hostilidades em nome das religiões e estas já danificaram muito o ser humano e a sua essência. Portanto, esta ocasião não teve como objetivo juntar as religiões e formar um novo sistema religioso, mas sim estabelecer a paz no mundo por meio do impacto que as religiões tinham/têm sobre os seus seguidores.

Porém, esta não é a primeira ocasião em que os religiosos ou representantes de diferentes religiões se uniram para dizer que são contra as hostilidades. Como tema de um dos meus artigos neste blog, já escrevi sobre o marcante encontro entre Francisco de Assis e o Sultão al-Malik al-Kamil 800 anos atrás em meio às turbulências das cruzadas em busca da paz entre os povos que seguiam as duas religiões: o cristianismo e o islam. É um ato corajoso de se dar quando se trata de um cenário como o das cruzadas, onde ser da religião do outro seria suficiente para ser morto. Este é um ato de diálogo inter-religioso e não por meio disso é que se buscou juntar o cristianismo e o islam para ter uma outra religião como uma síntese. Aliás, não podemos negar que em termos de inclusivismo, as religiões acabam por adotar certas tradições das outras desde que não sejam prejudiciais para a fé. Porém, isto também não é uma religião nova nem híbrida que surge com a síntese das outras.

Certamente, um ano atrás, o Papa Francisco e o Sheikh Ahmad al-Tayeb, Grão-imã da Universidade de Al-Azhar, a mais respeitada instituição islâmica no mundo, assinaram um documento chamado Documento Sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum. Muitas instituições católicas e islâmicas aderiram a este documento e seguem os princípios marcados por ele. Há esforços daqueles que tentam representar a sua religião da maneira correta e isto se faz apenas com o diálogo inter-religioso. Como dizia o teólogo católico, Elias Wolff, “tudo o que tem vida dialoga”. Dialogamos e buscamos pontos em comum para dialogar, pois somos vivos.

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