Diálogos da Fé

Blog dedicado à discussão de assuntos do momento sob a ótica de diferentes crenças e religiões

Diálogos da Fé

Quem defende o bem comum é comunista ou segue o Evangelho?

Uma reflexão de Dom Helder Câmara para os “homens de bem” que se esquecem dos ensinamentos de Jesus Cristo

Dom Helder Câmara (Foto: Wikimedia)
Apoie Siga-nos no

*Artigo escrito em parceria com o Professor Waldir

“Quando eu dou de comer aos pobres, me chamam de santo.

Quando eu pergunto por que eles são pobres, me chamam de comunista!”

– Dom Helder Câmara

Começamos nossa reflexão de hoje com esta frase de Dom Helder Câmara, que muito incomodou e continua a incomodar aqueles que se autointitulam conhecedores de todas as verdades e que se dão o direito de classificar ideologicamente homens e mulheres que defendem o bem comum. E o pior: fazem isso se autodenominado “evangelizadores e defensores da moral e dos bons costumes” que falam em nome de Jesus Cristo.

Servindo-se, em muitos casos, da liberdade religiosa garantida pela Constituição, abrem “igrejas” as quais classificam como “cristãs” e a partir delas buscam espaços livres nas redes sociais, compram a preços exorbitantes horários em rádios e tevês e passam a produzir revistas e jornais com conteúdos agressivos distribuídos “gratuitamente”.

Leia também: Sabotagem a Dom Helder põe em dúvida Nobel da Paz para Lula

Munidos por esses equipamentos, passam a agir como juízes de um tribunal capaz de julgar e condenar seres humanos ao “fogo do inferno”, classificando-os como comunistas, esquerdistas, petistas, marxistas, dentre outros, simplesmente por defenderem direitos iguais para todos. Para estes “juízes e seus algozes”, direitos iguais ou bem comum são o mesmo que comunismo.

Mesmo as igrejas cristãs mais antigas e tradicionais sofrem com esse tipo de “pregação e comportamento” oriundos de líderes religiosos que não admitem se despojar de sua “proteção institucional”, de suas vestes “armaduras” e de suas insígnias e irem para o meio do povo marginalizado, pobre, abandonado e condenado a viver na miséria.

O papa Francisco defende os vulneráveis (Foto: AFP)

Parece até que se esqueceram de que foi para estes que o Cristo veio e foi vivendo entre eles que Ele nos ensinou o verdadeiro sentido do amor, do perdão, da misericórdia e da partilha.

O Evangelho de João, capítulo 10, nos apresenta uma passagem da vida de Jesus que nos permite traçar uma comparação com os acontecimentos narrados e nossa sociedade atual.

Leia também: “Lobos devoradores” e o cristofascismo no Brasil

O cenário descrito por Jesus, apresenta elementos diversos: o pastor, a porta, as ovelhas, gente estranha. A incompreensão dos fariseus intensifica a certeza de que eles estão cegos (Jó 10, 1-6). Nos versículos 7 a 18, as palavras de Jesus sobre a cena apresentada aos fariseus reforçam as diferenças no modo de agir: enquanto estes se ocupam apenas com seus próprios interesses, o sentido da missão e obra de Jesus é a vida plena da humanidade (Vers. 10), e é para isso que ele forma em torno de si uma comunidade.

Diante do exposto, podemos inferir que o projeto de Jesus pressupõe uma sociedade onde o bem comum se sobreponha, definitivamente, aos interesses corporativos de grupos organizados e inescrupulosos que não se importam com o bem-estar do próximo.

Hoje, cabe a nós, cristãos comprometidos com os ensinamentos do Cristo, trabalharmos por uma sociedade mais justa, onde milhões –sobremaneira idosos-, não sejam obrigados a viverem com míseros 400 reais por mês, como previsto na Reforma da Previdência.

O papa Francisco nos ensina:

“O bem comum pressupõe o respeito pela pessoa humana como tal, com direitos fundamentais e inalienáveis […] O bem comum exige a paz social, isto é, a estabilidade e a segurança de uma determinada ordem, que não se realiza sem atenção especial à justiça distributiva […] Toda a sociedade – e especialmente o Estado – tem a obrigação de defender e promover o bem comum. [….] Nas condições atuais da sociedade mundial, onde há tantas desigualdades […] o princípio do bem comum se torna imediato, como consequência lógica e inevitável, em um apelo à solidariedade e em uma opção preferencial pelos mais pobres.

Defender e lutar pelo bem comum não é ser comunista… É ser cristão.

*Professor Waldir é licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia. Agente pastoral, escritor e assessor de movimentos sociais

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo