Diálogos da Fé
Blog dedicado à discussão de assuntos do momento sob a ótica de diferentes crenças e religiões
Diálogos da Fé
Quando o Império contra-ataca, a resistência se impõe
Os patriarcas ortodoxos relembram a tradição cristã de perseverança e se colocam contra os ataques dos Estados Unidos e aliados à Síria
Impérios são poderes antigos. Desde antes da era cristã, como os babilônicos, persas, macedônios, gregos e romanos. Depois vieram os ibéricos, os otomanos, os russos, os britânicos, até chegarmos ao G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), sem falar no poder midiático e do capital. Todos são caracterizados pela dominação e pela produção da morte.
A América Latina, a África, a Ásia e a Oceania carregam as marcas do imperialismo ibérico e europeu. O Oriente Médio, o Leste Europeu viveram outras experiências imperialistas. O que há em comum é a conquista de povos, com exércitos e poderio armamentista, com a expansão de territórios, para a acumulação de recursos extraídos dessas terras e um poderoso controle cultural (língua, processos educacionais), econômico, político, emocional, psicológico e religioso.
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O Cristianismo tem, em sua teologia, a herança do sofrimento dos judeus com os impérios Assírio, Babilônico, Persa e Grego e Romano, nos seus primórdios.
O teólogo alemão Joerg Rieger (“Cristo e o Império”, Editora Paulus) lembra que o império exige que os dominados acreditem não haver alternativa aos projetos impostos por eles. Por isso, as religiões podem contribuir e mostrar que existem outras formas de vida e que o império nunca pode realmente alcançar o controle absoluto.
Jesus de Nazaré resistiu à opressão do Império Romano e continua a inspirar cristãos e cristãs na busca de modos de vida alternativos e a se colocar ao lado daqueles explorados e excluídos hoje, em resistência. Rieger alerta: se o cristianismo não explica as maneiras pelas quais o império influenciou a história cristã e não trabalha o pensamento e as práticas cristãs nesse sentido, então está fadado a reforçar os modos de vida e o imperialismo de hoje, em nome de Deus.
As ações de dominação em nossos dias, por meio das políticas dos países do G7, em aliança com a indústria bélica e as mídias noticiosas, colocam, neste momento, a Síria em evidência. Temos acompanhado nestes dias o drama desse país que, até 2011, viveu por bom tempo resguardado dos permanentes conflitos da região, provocados pela cobiça do império.
Termino este artigo reproduzindo o clamor que vem da declaração emitida pelos três patriarcados, que representam a quase totalidade dos cristãos da Síria, no dia do ataque dos EUA, da França e do Reino Unido. São igrejas que remontam ao início da era cristã. Precisam ser ouvidas e, à luz da resistência ao Império Romano que marca a memória destes grupos, nos servir de inspiração para que não nos rendamos ao discurso único da dominação contemporânea.
Damasco, 14 de abril de 2018
Deus está conosco. Entendam todas as nações e submetam-se!
Nós, os Patriarcas: João X, Patriarca Ortodoxo Grego de Antioquia e todo o Oriente, Inácio Afrodis II, Patriarca Ortodoxo Sírio de Antioquia e todo o Oriente, e Joseph Absi, Patriarca Católico-Melquita de Antioquia, Alexandria e Jerusalém, condenamos e denunciamos a brutal agressão que ocorreu nesta manhã contra o nosso precioso país Síria, pelos EUA, França e Reino Unido, sob as alegações de que o governo sírio usou armas químicas. Nós levantamos nossas vozes para afirmar o seguinte:
- Esta agressão brutal é uma clara violação das leis internacionais e da Carta das Nações Unidas, porque é um ataque injustificado a um país soberano, membro da ONU.
- Causa-nos grande dor que este assalto venha de países poderosos aos quais a Síria não causou nenhum dano de nenhum modo.
- As alegações dos EUA e de outros países de que o exército sírio está usando armas químicas e de que a Síria é um país que possui e usa esse tipo de arma, é uma alegação injustificada e não é sustentada por evidências suficientes e claras.
- O momento dessa agressão injustificada contra a Síria, quando a Comissão Internacional Independente de Inquérito estava prestes a iniciar seu trabalho, prejudica o trabalho dessa comissão.
- Esta agressão brutal destrói as chances de uma solução política pacífica e leva à escalada e mais complicações.
- Essa agressão injusta encoraja as organizações terroristas e dá-lhes força para continuar em seu terrorismo.
- Apelamos ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para desempenhar o seu papel natural em trazer a paz em vez de contribuir para a escalada das guerras.
- Apelamos a todas as igrejas nos países que participaram da agressão, a cumprir seus deveres cristãos, de acordo com os ensinamentos do evangelho, e condenar essa agressão e chamar seus governos a se comprometerem com a proteção da paz internacional.
- Saudamos a coragem, o heroísmo e os sacrifícios do Exército Árabe Sírio, que corajosamente protege a Síria e oferece segurança a seu povo. Oramos pelas almas dos mártires e pela recuperação dos feridos. Estamos confiantes de que o exército não se curvará diante das agressões terroristas externas ou internas; eles continuarão a lutar corajosamente contra o terrorismo até que cada centímetro da terra síria seja purificado do terrorismo. Nós, da mesma forma, elogiamos a brava posição de países que são amigos da Síria e de seu povo.
Oferecemos nossas orações pela segurança, vitória e libertação da Síria de todos os tipos de guerras e terrorismo. Também oramos pela paz na Síria e em todo o mundo, e pedimos o fortalecimento dos esforços da reconciliação nacional para proteger o país e preservar a dignidade de todos os sírios.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
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