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Por que o número de não-religiosos está em ascensão?

Podemos dizer o seguinte: quando a religião é imposta, o ser humano automaticamente a rejeita

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Como um candidato a cientista da religião, tenho feito autoquestionamentos e refletido sobre a relação entre a religiosidade do indivíduo e a sociedade em que ele vive. Não posso afirmar que até agora encontrei o que eu buscava de resposta para isto, mas também não desisti de procurá-la.

No meu primeiro artigo, neste blog, tentei fazer uma pequena reflexão sobre os fundamentalismos. A meu ver, como já afirmei naquele artigo, o maior problema do fundamentalismo é a ignorância que pode ser curada apenas através da educação. Porém, hoje, eu gostaria de falar de um aspecto diferente do fundamentalismo que provavelmente nos foge à percepção muitas vezes.

Geralmente, quando fala-se de fundamentalismo, ou, de um modo mais avançado, de extremismo, a imaginação sempre nos leva a pensar naquilo que se pratica contra “o diferente”. As condições de hoje em dia nos levam a pensar assim, claro, pois o que mais vemos na mídia é o extremismo contra os seguidores de um segmento diferente do que o do extremista. Contudo, muitos de nós acabamos despercebendo que a maior parte de extremidades acontece contra os “correligionários”. Isto é, quem sofre mais dos fundamentalismos são as pessoas da mesma religião, etnia, ideologia etc. do que as de outros segmentos sociais. Recentemente, dois diferentes levantamentos sociais feitos em uma parte do “mundo islâmico” revelaram o fato que acima mencionamos em um nível delimitado:

Uma pesquisa feita na Turquia, país majoritariamente muçulmano e “laico”, revelou que no último ano o número de ateus triplicou. Em contraste a isso, o número de religiosos está em queda, e acredito que este fato seja constante no meu país de origem.

Uma outra pesquisa feita nos países árabes pela Arab Barometer, solicitada pela BBC News Arabic, indicou que o número de não-adoção de alguma religião nos países árabes é crescente. Enquanto este número sobe, a pretensão para mudar a um país mais livre também cresce. Os maiores motivos para “justificação” disto são assuntos como direitos das mulheres, migração, sexualidade etc.

É claro que não irei me delimitar a dois assuntos que acima indiquei, isto provavelmente sufocaria o artigo. Porém, gostaria apenas de apresentar a minha hipótese, que ainda não cheguei a aprovar, sobre os assuntos.

Steffen Dix afirma que, depois de muitas tentativas de relegação da religião à esfera privada, isto é, individual, a religião voltou a tomar espaço na esfera pública. O crescente número de partidos políticos com discurso religioso, principalmente nos países em que as pesquisas supracitadas foram realizadas, e a ascensão deles é uma aprovação da tese de Dix. Junto a esta ascensão de partidos políticos, há também um crescente número de religiosos com discursos fundamentalistas. Portanto, é inescapável a imposição do ideal destes religiosos, tanto grupos quanto indivíduos.

Para o islã, as responsabilidades religiosas são particulares. A experiência religiosa se vive individualmente. Por isso o Alcorão afirma que não há compulsão na religião (Alcorão 2:256). O crescente número de fundamentalismos, que de uma forma compulsória propõe a prática da religião aos demais, causa um afastamento entre os indivíduos e a religião. Isto, em seguida, leva a não adotar a religião daquele que a impõe. De uma outra forma, podemos dizer o seguinte: quando a religião é imposta, o ser humano automaticamente a rejeita inclusive quando se fala de sociedades em que a religião não se ensina basicamente o suficiente.

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