Diálogos da Fé

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PL das Fake News escancara a falta de estratégia de comunicação com evangélicos

Se temos é preciso aumentar o apoio dos setores evangélicos ao campo democrático e progressista, a comunicação com esse grupo não pode ficar restrita à campanha eleitoral

O ex-presidente Lula (PT), durante encontro com evangélicos. Foto: Ricardo Stuckert
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Ao longo das últimas semanas, O PL 2630/20, batizado popularmente como “PL das Fake News”, ganhou protagonismo na discussão política nacional.

Na disputa por posições a respeito, a bancada evangélica foi um dos setores mais mobilizados contra o projeto. No início, o temor expressado pelo grupo era o de que o PL poderia censurar posicionamentos religiosos contra modelos de família e sexualidade fora dos padrões hetenormativos.

No limite desse argumento, alguns dos expoentes da bancada – como os pastores Marco Feliciano, Sóstenes Cavalcanti, o ex-procurador Deltan Delagnol, entre outros – chegaram a afirmar que, em caso de aprovação do PL, versículos da Bíblia teriam que ser modificados ou suprimidos, e pastores e igrejas que defendessem que a homossexualidade é pecado seriam calados e perseguidos.

A partir desse posicionamento, uma ala da bancada evangélica, liderada principalmente pelo deputado Cezinha de Madureira, buscou negociar com o governo, visando incluir no texto do projeto que a lei não suprimiria posições oriundas do exercício da liberdade religiosa. A reivindicação foi aceita, mas mesmo assim a maior parte da bancada continuou em campanha intensa contra o projeto.

O argumento desse grupo era o de que, mesmo com a modificação no texto, as plataformas de redes sociais sofreriam pressões de grupos pró-LGBTQIA+ para removerem o conteúdo de igrejas e religiosos em assuntos relacionados à questão da sexualidade e gênero. Além disso, afirmavam que religiosos estariam sujeitos a embates desgastantes e insegurança jurídica por conta das suas posições.

A lógica por trás dos argumentos da bancada evangélica em relação ao PL 2630/20 não é nova. Pelo contrário, quem acompanha o grupo há mais tempo pode reconhecer que os argumentos são muito semelhantes àqueles relacionados ao PLC122/2006, que previa a criminalização da homofobia. Era perfeitamente previsível, portanto, que o embate atual aconteceria.

Mas, a principal semelhança entre os PLs é que ambos foram fortemente utilizados para opor os setores evangélicos à esquerda e, mais especificamente, ao PT. No caso do PL 2630/20 ( o PL das Fake News), houve uma massiva produção de conteúdo nas redes sociais por religiosos, atacando não só o projeto, mas o governo e a esquerda como um todo.

O leitor poderia dizer que o embate e a discussão política são legítimos, como de fato são. No entanto não estamos falando de uma discussão racional sobre o projeto, mas sim de… desinformação e “fake news”.

As mensagens falsas sobre o PL 2630/20 traziam diferentes tipos de absurdos, mas tinham em comum a ideia por trás de que o governo estaria querendo perseguir igrejas e suprimir a religião no país para implantar uma ditadura. São mensagens que, justamente, puxam gatilhos de narrativas antigas, mas que são reforçadas, ganham musculatura e fazem com que uma parte considerável de evangélicos se posicione contrária ao governo. Na próxima eleição, como de costume, políticos de direita ou extrema direita ativarão os mesmos gatilhos para aproximar evangélicos da sua plataforma política.

Se o modus operandi desses grupos é conhecido, cabe-nos perguntar por que não há uma estratégia para evitá-lo. É preciso uma comunicação que se antecipe para desarmar os gatilhos da retórica dos grupos ultraconservadores que tumultuam o debate político e ameaçam a democracia. Essa tarefa envolve considerar os evangélicos regularmente na comunicação do governo – e, por que não, de todo o campo democrático.

Se temos em mente que é preciso aumentar o apoio dos setores evangélicos ao campo político democrático e progressista, a comunicação com esse grupo não pode ficar a mercê apenas dos períodos de campanha eleitoral.

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