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Papa Francisco foi o homem capaz de dar voz e vez aos povos da Amazônia

A primeira grande conquista do Sínodo foi fazer com que os olhares de todos os povos do planeta se voltassem para a floresta e seus povos

Representantes de povos indígenas da Amazônia participam de encontro com o papa Francisco nos jardim do Vaticano (Foto: Andreas SOLARO / AFP)
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Desde o domingo 6 de outubro, graças à ousadia do “construtor de pontes” nascido no continente onde se encontra a maior floresta, maior biodiversidade e maior reservatório de água potável do planeta, dentre outras qualificações que lhe podem ser atribuídas, Francisco entendeu que era o momento mais que apropriado para “construir uma ponte” entre a Amazônia e o resto do mundo. A esta “ponte”, chamou de Sínodo Pan-Amazônico.

À medida que o tempo passava e a data agendada para início do Sínodo se aproximava, milhares de pessoas de todo o planeta entenderam que era a hora de “cruzar a ponte” e conhecer mais de perto essa tal Amazônia. Não que já não lhes fosse conhecida. Porém, não lhes era mais satisfatório o conhecimento que haviam adquirido em livros ou por meios institucionais. Era a hora de conhecer a riqueza cultural, os costumes e a beleza dos povos autóctones da grande floresta.

Esta foi a primeira grande conquista do Sínodo: fazer com que os olhares de todos os povos do planeta se voltassem para a floresta e seus povos que gritam por socorro diante das atrocidades que sofrem cotidianamente.

 

Vozes que foram caladas pelas balas de um revólver, pelas labaredas de um incêndio provocado, pelos despejos conduzidos por jagunços contratados por grandes latifundiários, pelo ódio e a ganância desenfreada de grupos corporativos interessados nas riquezas naturais da Amazônia, agora serão ouvidas no cantar e no falar daqueles que sobreviveram e continuaram acreditando que alguém haveria de olhar por eles e fazer com que o mundo também lhes enxergasse.

Papa Francisco foi o homem capaz de dar voz e vez aos povos da Amazônia. A autoridade da qual está revestido, lhe concedeu poderes para tal atitude. Porém, a autoridade só não bastava. Era necessário uni-la à humanidade, à caridade, à benevolência, à coragem e a intrepidez que nosso Papa reúne em si. Fosse apenas um caso de autoridade, os que o antecederam poderiam ter feito o que Francisco está fazendo. Mas a história nos mostra outra realidade.

Todavia, nem tudo são flores. Não tardou para que aqueles que se colocam contrários ao Sínodo por entenderem que este poderá dificultar – ou até mesmo impedir – que continuem explorando a Amazônia retirando dela riquezas incalculáveis ao mesmo tempo em que condenam a morte rios, vales, florestas e povos, encontrassem eco às suas argumentações.

Governos se uniram a estes “financiadores da morte” tomando atitudes arbitrárias e contrárias ao que deles era esperado pelos povos da Amazônia e por aqueles que a defendem como um “patrimônio da humanidade” indispensável para o futuro de todos os seres vivos. Não foram poucos os ataques desferidos contra Francisco e aqueles que com ele cerraram fileiras na preparação e organização do Sínodo.

De dentro de sua amada Igreja, Francisco recebeu ofensas, críticas e acusações das mais diversas. Setores mais conservadores da Igreja chegaram a acusá-lo de estar cometendo heresias; outros o chamaram de “papa vermelho”, fazendo alusão ao comunismo; outros ainda o acusaram de estar dividindo a Igreja. Mas nada lhe fez parar. Convicto de que está fazendo a coisa certa na hora certa, ouvindo as mais diferentes opiniões de especialistas e, acima de tudo, colocando-se ao lado dos mais pobres num gesto de profundo amor evangélico, Francisco segue em frente irmanado a milhares que o apoiam e seguem.

Interessante observar que o apoio a Francisco crescia na medida em que novos ataques contra a Amazônia (incêndios, garimpos clandestinos, desmatamento, ataques a aldeias indígenas), eram praticados. Por outro lado, governos e instituições constituídas, com a finalidade de proteger o patrimônio ambiental amazonense e seus povos num conceito de “ecologia integral”, caíam em descrédito social e político. Haja vista as abominações ditas e praticadas pelo atual governo brasileiro no que tange ao meio ambiente e mais diretamente a Amazônia.

A prova cabal desta afirmação está na pesquisa “Purpose /Ideia Big Data” realizada com católicos de todo o Brasil entre os dias 1 e 13 de junho de 2019. Sob o título “Católicos e Amazônia”, a pesquisa ouviu 1.502 católicos e tem intervalo de confiança de 95%. A coleta de dados foi via entrevista telefônica com utilização de questionários elaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. Foram ouvidos homens e mulheres católicos, maiores de 16 anos, residentes no Brasil.

Dentre outras questões levantadas destacamos as seguintes:

  • 85% dos entrevistados concordam que a Amazônia é fundamental para reduzir os efeitos do aquecimento global;
  • 83% concordam com a afirmação “o aquecimento global é uma realidade já provada por cientistas;
  • 67% são contra a redução das Reservas Indígenas;
  • 87% confiam no Papa Francisco em questões ligadas à Amazônia.

Cremos que tais dados atestam definitivamente o apoio do povo católico à iniciativa do Papa Francisco de convocar o Sínodo Pan-Amazônico, tanto quanto aos resultados que poderão ser alcançados pós-Sínodo. As ações e medidas apontadas pelos padres sinodais por certo exigirão muito empenho das dioceses, paróquias e comunidades amazonenses em suas execuções. Por certo, as Conferências Episcopais dos nove países que compõem a Pan-Amazônia irão articular apoios de dioceses e paróquias de outras regiões para esta árdua tarefa.

O Sínodo está se desenvolvendo a contento. Instituições – governamentais ou não -, de todo o mundo estão olhando para Roma e aguardando os encaminhamentos a serem apontados pelos padres sinodais, para depois se manifestarem.

O mesmo faremos nós, católicos comprometidos com o Evangelho de Jesus Cristo e unidos ao Papa Francisco. Que tenhamos sabedoria para seguir adiante.

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