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Os muçulmanos têm um deus diferente?

O profeta Muhammad não veio com uma mensagem diferente que Jesus e Moisés

Os muçulmanos têm um deus diferente?
Os muçulmanos têm um deus diferente?
Foto: PxHere / Creative Commons
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Antes de começar a falar deste assunto, quero deixar claro que estou abordando um tema profundamente complexo. Por isso, deixo esta questão tratada de maneira mais sucinta e clara possível, relegando a sua profundeza às pesquisas científicas ou teológicas, quem sabe talvez minhas próprias futuramente.

Cerca de dois anos atrás, eu estava em um táxi indo para um curso de extensão que lecionava na PUC-SP. De repente a conversa que passava no rádio me chamou a atenção. Era um canal de notícias e se discutia os fundamentalismos e extremismos, principalmente “islâmicos”. A fala de um comentarista, cujo nome não me recordo agora, apontava “ao deus inventado por muçulmanos”. Segundo o mesmo comentarista, “este deus era um deus violento e queria o fim de todos que nele não acreditavam”.

Além de o papo me chamar muita atenção, pois ouvir a ideia dos outros sobre a minha própria crença me interessa muito, estas duas frases me causaram uma curiosidade de pesquisar sobre este “deus violento dos muçulmanos” e criei uma problemática na minha cabeça, embora eu tivesse convicção de que a minha hipótese era verídica.

A problemática foi: “será que o deus do islam é diferente do deus do cristianismo ou do judaísmo?”. A minha hipótese era que não fosse nada diferente, pois o próprio nome Allah (ou Alá de modo aportuguesado) dado a Deus é um nome árabe que, segundo a crença islâmica, engloba todos os nomes e atributos de Deus Único, Todo Poderoso, Onipresente e Onisciente. Porém, a curiosidade não me deixou em paz e fui atrás da minha problemática.

 

Nos últimos artigos, tentei fazer uma reflexão sobre Deus e ciência através de uma visão científico-filosófica. Lembrei da passagem de Kant, em que ele afirma que Deus é improvável pela ciência, pois é uma esfera metafísica que ultrapassa os limites do material. Deus não é material, mas a teologia e a religião são as formas de materialização d’Ele e das normas que Ele pôs, ou continua pondo, no mundo.

Esta afirmação minha, claro, não é para marginalizar estes conceitos. Ambos são necessários, pois, de certa forma, são meios para uma compreensão sobre Deus. Ambos normatizam a crença em Deus e tentam facilitar a concepção disso à luz da consciência humana. Porém, Deus é além da religião e da teologia. Por isso, apenas o estudo sistemático e normativo de Deus não são suficientes.

Como já abordamos assuntos relevantes sobre Deus em geral nos outros artigos, não irei me restringir apenas a esse assunto. Neste artigo, parto do pressuposto de que aceite-se a existência de Deus, sem relega-Lo a uma religião.

Para o islam, a concepção da religião é muito mais ampla do que se trata do ponto de vista etimológico da palavra “religião”, ou religio em latim. Portanto, o islam seria a própria religião.

Da mesma forma que, por exemplo, Santo Agostinho aborda em sua obra “A Verdadeira Religião” que o cristianismo é a absoluta religião enviada para os seres humanos. Porém, a concepção islâmica sobre isso é mais diferenciada.

O conceito de absoluta religião, no islam, é referente ao fato de que todos os profetas foram enviados com a mesma mensagem divina para a humanidade. Inclusive por esta razão é que costumo escrever, em meus estudos, que há o aspecto doutrinário e o aspecto histórico desta religião que, “aparentemente” surgiu no século VII da nossa era.

O profeta Muhammad não veio com uma mensagem diferente que Jesus e Moisés. Aliás, não se diferencia a mensagem dele da mensagem de outros profetas que são mencionados na Bíblia, sendo que Jesus é considerado um dos profetas mais elevados – Ulû al-Azm. Portanto, o deus que enviou o profeta Muhammad para toda a humanidade, segundo a crença islâmica, enviou também Abraão, Moisés e Jesus também, entre outros 124 mil profetas.

Conclusão, os muçulmanos não têm um deus diferente que o deus dos cristãos e dos judeus. O mesmo Deus que é misericordioso e clemente no Novo Testamento, é mencionado no Alcorão em diversos versículos e inclusive há uma afirmação veemente sobre a sua misericórdia.

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