Colunas e blogs

Os espíritas vão continuar afirmando que Moro é Emmanuel reencarnado?

Ortodoxos e conservadores estão dizendo que o ex-juiz, parcial e seletista, é a reencarnação do mentor espiritual de Chico Xavier

Apoie Siga-nos no

“Amados, não deis crédito a qualquer espírito;

antes, porém, avaliai com cuidado se os espíritos

procedem de Deus, porquanto muitos

falsos profetas têm saído pelo mundo.”

1 João 4:1

Com o vazamento de um dos maiores escândalos do judiciário brasileiro e, talvez, um dos maiores do mundo, envolvendo o atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, novamente, alguns espíritas, os mais ortodoxos e conservadores, mal intencionalmente ou por falta de conhecimento mesmo, estão dizendo que Moro, parcial e seletista, é a reencarnação de Emmanuel, mentor espiritual de Chico Xavier.

O escândalo veio à tona a partir de uma série de reportagens publicadas pelo site The Intercept Brasil e mostra que o ex-juiz federal orientou as investigações da operação Lava Jato em Curitiba por meio de mensagens trocadas pelo aplicativo Telegram com o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa. O site afirmou que recebeu de uma fonte anônima um grande volume de mensagens trocadas no aplicativo entre membros da Lava Jato e entre o procurador Dallagnol e Moro.

O movimento espírita brasileiro está longe da unanimidade em todos os temas, sobretudo os que se referem a questões contemporâneas e, por isso, é respeitável delimitar as posições, para deixarmos claro que declarações como as que associam Moro a Emmanuel não representam o espiritismo.

O espiritismo é uma ideia livre, cuja maior referência é Kardec, mas cujos livros também não podem ser citados como bíblia, médiuns e oradores não têm autoridade para falar em nome do espiritismo. Ninguém tem essa autoridade, nem mesmo instituições federativas.

A seguir relaciono cinco pontos que rechaçam, de uma vez por todas, a ideia de que Emmanuel teria reencarnado como Moro:

1) Emmanuel ditou seu último livro ao Chico (ainda como espírito desencarnado) em 1998 (Caminho iluminado) e Moro nasceu em 1972, Maringá, PR (guardem essa última informação);

2) De acordo com informações de Suzana Maia Mousinho, amiga de Chico desde 1957, o médium havia lhe confidenciado que “ao fim do século XX, Emmanuel reencarnaria em uma cidade do interior de São Paulo (não Paraná)”;

3) No livro Entrevistas, no ano de 1971, Chico afirmou que “Ele (Emmanuel) afirma que, indiscutivelmente, voltará à reencarnação, mas não diz exatamente o momento preciso em que isto se verificará. Entretanto, pelas palavras dele, admitimos que ele estará regressando ao nosso meio de espíritos encarnados no fim do presente século (XX), provavelmente na última década”. Relembrando: Moro nasceu em 1972;

4) No livro Lições de Sabedoria: “É verdade que o espírito Emmanuel, que lhe ditou a base do Espiritismo prático no Brasil, se prepara para reencarnar?”. Chico então respondeu: “Ele virá novamente, dentre pouco tempo, para trabalhar como professor”. (Moro é juiz);

5) Sônia Barsante, frequentadora do Grupo Espírita da Prece, afirmou que em um certo dia do ano 2000, Chico entrou em transe mediúnico, e ao regressar afirmou que havia ido em desdobramento até uma cidade do estado de São Paulo na qual pôde presenciar o nascimento de um bebê, Emmanuel reencarnado, e ainda afirmou que “todos iríamos reconhecê-lo”.

Já havíamos nos posicionado sobre um assunto similar, que atribuía uma certa “santidade” ao ministro Moro, no artigo intitulado “Espíritas progressistas respondem à entrevista coletiva de Divaldo Franco e Haroldo Dutra”.

Na ocasião, tornamos pública a nossa desaprovação a diversas opiniões que foram expostas em vídeo que circulou em fevereiro de 2018 nas redes sociais, e que depois foi retirado do YouTube.

Declaramos que aquelas opiniões não nos representavam e nem representam o espiritismo, pois eram apenas opiniões pessoais de seus autores, e que, em nosso entender, careciam de fundamento teórico e científico:

“Divaldo referiu-se à República de Curitiba e a seu suposto “presidente”, Sergio Moro. Não existe uma República de Curitiba, pois segundo nossa Constituição só há uma República a ser reconhecida em nosso território, e é a República Federativa do Brasil. E a referência a um juiz federal de primeiro grau como o Presidente desta acintosa República é um grave desrespeito ao Estado, à nação brasileira, atribuindo a tal república poderes inexistentes em nossa Constituição.

Além dessa nociva postura marcadamente messiânica e de culto à personalidade, pode dar a entender que o restante do povo brasileiro não presta e que não há pessoas boas espalhadas pelo Brasil dando o melhor de si.

Divaldo chama esse mesmo juiz de “venerando” – o que é altamente questionável, dadas as críticas de grandes juristas nacionais e internacionais à parcialidade desse juiz e a seus atos de ilegalidade, que feriram a Constituição, e às notícias que correm na mídia de seu conluio com determinados segmentos e partidos.”

E se teve alguém que reencarnou como espírito de luz, esse alguém foi o Glenn Edward, que voltou como Espírito da Verdade.

Evidente que aqui faço uma alusão, muito respeitosa, ao Espírito da Verdade, que é um espírito citado nas obras de Allan Kardec:

“Lembra-te de que os Bons Espíritos só dispensam assistência aos que servem a Deus com humildade e desinteresse e que repudiam a todo aquele que busca na senda do Céu um degrau para conquistar as coisas da Terra; que se afastam do orgulhoso e do ambicioso.”

Glenn é o editor fundador do site “The Intercept Brasil” e responsável por revelar todo o horror escondido atrás da Operação Lava Jato. Já atuou no The Guardian e colaborou com a reportagem que venceu o Prêmio Pullitzer em 2014, sobre os escândalos da Agência de Segurança Nacional – EUA vazados por Edward Snowden.

Glenn se divide entre os Estados Unidos e o Brasil, onde é casado com o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ). Além de jornalista, é advogado constitucionalista e autor de quatro livros entre os mais vendidos do New York Times na seção de política e direito.

Todas as nossas preces ao Lula, preso político e um dos principais alvos do Moro, e ao Glenn, David e sua linda família.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo