Diálogos da Fé
Blog dedicado à discussão de assuntos do momento sob a ótica de diferentes crenças e religiões
Diálogos da Fé
Orixás para crianças
Livro infanto-juvenil apresenta religiões de matriz africana, ensina respeito e inaugura um novo estilo

Ao lançar a coleção “O Livro dos Orixás Para Crianças”, a Arole Cultural faz sua estreia no universo infantil e introduz um novo formato literário, no qual escritor e ilustrador assinam conjuntamente e esperam conquistar o leitor por meio de texto e imagens, que também transmitem um discurso e ajudam os que ainda não têm o domínio da leitura a compreender os significados e a construir representações positivas sobre o tema.
“Conhecendo os Orixás – De Exu a Oxalá” é o primeiro volume da série, composta por 18 títulos, e já chega com a responsabilidade de se contrapor à lógica da apropriação cultural, devolvendo as divindades do candomblé à sua origem negra e valorizando o trabalho de autores com sólida formação técnica e acadêmica, mas que também praticam e vivem a religião, conhecendo bem de perto a necessidade de estabelecer o respeito e de combater a intolerância e o preconceito.
De forma didática e ilustrativa, o primeiro volume apresenta o universo da cultura afro-brasileira e cada um dos orixás a crianças e jovens, mas serve perfeitamente a adultos. Assinado por Waldete Tristão, coordenadora da coleção, e pelo designer e ilustrador Caco Bressane, o livro ajuda a conhecer as características, cores, comidas preferidas, domínios e função social das divindades.
Essas particularidades dos orixás mais cultuados nas religiões afro-brasileiras aqui sobreviveram por atender às necessidades dos povos escravizados e de seus descendentes, tanto na invocação das forças da natureza, como chuvas e tempestades, quanto para o sucesso da agricultura e da caça.
Waldete Tristão é doutora em Educação pela USP e mestre em Educação: História, Política e Sociedade pela PUC-SP. Atuou profissionalmente por mais de 30 anos na educação pública municipal de São Paulo, em escolas de educação infantil e creches, como professora, coordenadora pedagógica e formadora de professores e gestores em educação básica.
Ao entender as histórias como potentes ferramentas na formação das pessoas, a autora, que também é iniciada no candomblé e percussionista do “Ilu Obá de Min”, valoriza a produção literária do povo negro e reitera a necessidade de combater a apropriação cultural e a intolerância religiosa, demonstrando que a educação de crianças e jovens para o respeito à diversidade é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa.
➤ Leia também: As igrejas e a superação da ignorância quanto aos direitos humanos
Caco Bressane é formado em Arquitetura e Urbanismo e mestre em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas sempre se dedicou à ilustração. Atualmente, dirige um estúdio próprio de ilustração e design gráfico.
Trabalhou para grandes editoras em publicações de diversos segmentos, com destaque aos livros didáticos, infantis e infanto-juvenis, além de jornais e revistas.
A vivência nos terreiros de Salvador e São Paulo já inspirou outros trabalhos de Caco Bressane e possibilitou seu bom encontro com Waldete Tristão. Os traços e cores do livro se encaixam perfeitamente às palavras e vice-versa.
O texto permite a construção de imagens e as imagens também falam por si, trazendo em seus tons vibrantes e detalhes significativos toda expressividade dos orixás.
Nos demais volumes da coleção, outros escritores e ilustradores vão compor a autoria e conduzir os leitores em 16 aventuras inspiradas nas histórias sagradas (itans) – os mitos africanos – nas quais alguns orixás serão protagonistas e outros, coadjuvantes.
➤ Leia também: João de quê? De Deus é que não é
Ao revivê-las de forma lúdica, os autores pretendem conquistar crianças em primeira idade e em fase de alfabetização, além de jovens e adultos, que também carecem de informações e conhecimento mais profundo sobre as tradições preservadas nos terreiros.
A coleção certamente ultrapassa o caráter educacional, mas pretende ser um instrumento relevante para o fortalecimento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), alterada pela Lei 10.639/03, que torna obrigatório o estudo sobre a cultura e história afro-brasileira e africana, como constituinte e formadora da sociedade brasileira, na qual os negros devem ser considerados sujeitos históricos.
Conectada com o Parecer nº 4 do Conselho Nacional de Educação, aprovado no ano de 2004, quando se instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a coleção valoriza o patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro.
Ela reconhece e afirma direitos no que diz respeito à educação, na medida em que colabora para aproximar as crianças da história e cultura afro-brasileiras e africanas, na perspectiva da religiosidade enquanto patrimônio cultural.
Os livros colaboram para que uma parte importante da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana esteja presente nos currículos da Educação Básica como mais uma forma de valorizar a população negra.
Não se restringe a esse grupo, ao contrário, deseja alcançar todas as crianças brasileiras, uma vez que todos devem ser educados enquanto cidadãos atuantes na direção de uma sociedade que reconhece a natureza diferente e diversa de sua formação, para ser capaz de construir uma nação democrática.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.