Diálogos da Fé

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Diálogos da Fé

O preceito do sacrifício

O termo em árabe, Qurban, significa aproximação. É um ato para se chegar mais perto de Deus

Peça de presépio que interpreta o sacrifício de Abraão
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Conforme o calendário lunar, o dia 10 do mês de Zilhijja é o dia de Festa de Sacrifício para os muçulmanos. A sexta-feira 1º foi o 10º de Zilhijja e os fiéis comemoraram.

A palavra Qurban (sacrifício), em árabe, significa aproximar-se. O modo do verbo sinaliza que tal aproximação é de um modo muito maior. O propósito do sacrifício é se aproximar de Deus, assim como o de outros preceitos. Há, porém, algo que difere o sacrifício dos outros preceitos e esta diferença faz com que se chame “aproximação”.

Vamos tentar entender tal diferença por meio de um versículo do Alcorão Sagrado: “Nunca sereis capazes de alcançar a piedade e a virtude até que doe o que ama.” (3;92).

O que o ser humano pode amar mais do que seu filho, parte dele mesmo?

Outra pergunta: a vontade de se aproximar de Deus é tão forte que levaria alguém a sacrificar seu filho?

Portanto, vamos deixar: Deus nunca requer que um ser humano seja sacrificado. Isto é bem claro no Alcorão: “Matar uma pessoa é igual a matar toda a humanidade”. (5;32)

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Deus quis testar o profeta Abraão com um paradoxo. Este preceito de sacrifício se iniciou exatamente com este teste. Como sabido nas tradições judia e cristã, o profeta Abraão não teve filhos por um longo tempo, pois sua esposa, Sara, era estéril.

Eles viajaram para o Egito e lá tiveram que passar por grandes provações. O rei egípcio presenteou-lhes com uma escrava chamada Hagar. Abraão se casou com ela e teve um filho neste casamento. Deu-lhe o nome de Ismael.

Abraão amava muito o filho, assim como qualquer pai. Ismael tinha chegado a uma idade na qual tinha consciência dos atos quando Abraão recebeu uma revelação por meio de um sonho, a ordem do sacrifício do Ismael. Este sonho se repetiu três vezes (conforme o Islã, os sonhos dos profetas também são um tipo de revelação)

Abraão enfrentou uma provação muito pesada. Havia duas opções: ou o filho ou Deus… Precisava optar por um deles.

Ele levou Ismael para uma região chamada Mina, próxima a Meca, para sacrificá-lo. Ficou diante dele e lhe contou o caso. Ismael disse: “Ó meu querido pai. Faze o que te foi ordenado. Irás me encontrar, pela vontade de Deus, um dos que mostram paciência (em obedecer os mandamentos de Deus).”

Quando Abraão levou a faca na garganta do filho, ouviu uma voz. Olhou na direção de onde veio a voz. O anjo Gabriel levava um carneiro a ele: “Mate este e não Ismael.” Abraão havia passado na prova. Ele sacrificaria até o filho que tanta ama pela vontade de Deus.

Aliás, o segredo era revelar essa obediência de Abraão. Ele matou o carneiro e, desde então, os crentes em Deus sacrificam animais no aniversário deste acontecimento e distribuem a carne do sacrifício para os necessitados.

Deus diz a respeito: “Nem a carne nem o sangue do sacrifício alcança a Deus, mas alcança-O vossa piedade e consciência.” (17;37)

Este versículo nos ensina que a questão não é matar os animais, nem derramar o sangue deles. Tampouco distribuir a carne. A questão é revelar a consciência e piedade, e é consolidar o amor a Deus nos corações. Aquele que ama a Deus, ama as criaturas por ele tê-las criado. Portanto, pode distribuir àqueles que necessitam. Não se faz de egoísta, mas compartilha. Esta é condição de um amor recíproco ao próximo.

É possível praticar um ato de bondade ao próximo de diversos modos. O Qurban (o sacrifício) sinaliza, porém, o nível mais alto de fidelidade a Deus, simbolizando até sacrificar o próprio filho.

A história deste preceito nos ensina: sacrifiquemos o que queiramos sacrificar, Deus nos responderá dando um valor eterno àquilo que sacrificamos. O exemplo são os filhos de Abraão. O profeta Muhammad vem da família de Ismael e todos os profetas dos filhos de Israel e Jesus vieram da família do Isaac. Deus as honrou fazendo-os os mais distintos do mundo.

* Tradução: Atilla Kus. Revisão: Mustafa Goktepe

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